Mariana Destacio 01/04/2021As Crônicas de Artur vol 1 - O Rei do InvernoGostei desse livro bem mais do que achei que iria gostar. Amo Crônicas Saxônicas, e há alguns anos tentei me aventurar na trilogia do Graal do mesmo autor e foi uma decepção: em cada página eu só conseguia ouvir a voz do Uhtred, e não consegui gostar do personagem, porque me soava demais como uma cópia. Abandonei a trilogia depois de ler o primeiro livro, e as crônicas de Artur ficaram de lado.
Depois de ler "As Brumas de Avalon" (Marion Zimmer) e "Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda" (Howard Pyle), minha curiosidade foi atiçada e decidi dar uma chance pra essa triologia.
Apesar de ser um livro do Cornwell, ou seja, tem aquela mesma fórmula de bolo que ele sempre usa, Derfel conseguiu se sobressair e ganhar uma voz própria. Ao contrário de Uhtred, Derfel não é de família importante, não tem reino nem ambição de conquistar uma "Bebbanburg". Nem mesmo me pareceu que ele queria ser um grande senhor da guerra, apesar de ter se tornado um, e tudo o que conseguiu foi por esforço e vontade de seguir o seu senhor Artur, e ser um bom soldado. Derfel é confiante, mas não me soou arrogante como Uhtred costumava ser nos primeiros livros.
Outra distinção que me pareceu importante, foi como as mulheres são descritas. Uhtred sempre fez todas as mulheres importantes das Crônicas Saxônicas parecem belas fora do normal, de modo que todos os homens as desejassem. Derfel até agora não nos apresentou tantas mulheres, e apesar de descreve-las como belas, a beleza me pareceu sempre ficar em segundo lugar. A presença e o que cada uma representa pareceu ser muito mais importante. Ceinwyn descrita como um anjo, me soou assim apenas para Derfel, ainda que os outros homens possam tê-la achado linda, fica claro que essa visão mágica foi algo mais dele do que de todos os outros. Guinevere (e sua presença, mais do que beleza) teve um papel crucial para a história, mas Derfel não paraceu babar por ela o tempo todo. Nimue, rouba a cena como feiticeira astuta, portadora de conhecimentos valorizados muito mais que sua beleza. E Morgana, a personagem que eu mais queria ver, apesar de ter pouca participação ativa nesse primeiro livro, não tem absolutamente nenhuma beleza. Mas seu visual é igualmente incrível e marcante.
Sobre os homens, não soube bem o que esperar. Mas começando por Merlin, quando se diz mago, minha referência é Gandalf, e apesar de querer dar esse rosto à Merlin, não consegui. Merlin é descrito basicamente como "...malicioso, impaciente, impulsivo e total e absolutamente sábio. Apequenava tudo, denegria todo mundo e amava poucas pessoas por completo". Não dá pra saber se tudo que ele faz é loucura, ambição, diversão ou tédio. Achei que gostaria dele, mas nem de longe me agradou, apesar de reconhecê-lo como um personagem bem único. Ponto positivo para Galahad, só amores por ele. Artur nem se fala, não sei se abraço ele ou dou uma pancada na cabeça. Lancelot foi uma decepção, gostaria de vê-lo como um verdadeiro cavalheiro, mas alguém tem que ser o fresco da história... bom, assim vamos seguindo e saber se ele tem algum potencial e Derfel exagerou em seu relato, ou tudo que foi dito é realmente verdadeiro.
E pra finalizar, o que mais gostei e que diferiu das outras duas histórias que já conheci é esse clima de história REAL. Artur pode ter uma espada e armadura diferentona, Merlin pode ser um "mago", e Nimue e tantos outros druidas pordem "lançar seus feitiços" e existir todo aquele climão de superstição, mas no fim do dia, quem vence as batalhas é o melhor exército, com os melhores guerreiros e a melhor e mais resistente parede de escudos.