Queria Estar Lendo 24/01/2019
Resenha: A Filha do Pântano
A Filha do Pântano é um dos mais recentes lançamentos da Editora Novo Conceito - que cedeu este exemplar para resenha. A história de Franny Billingsley fala sobre uma cidadezinha esquecida por Deus, cercada por um pântano que guarda mais do que os olhos podem ver - e sobre uma garota conectada à magia obscura do lugar.
A trama acompanha Briony, uma garota simples que mora nesse canto pantanoso da Inglaterra; é a virada do século XX, mas as coisas não são tão comuns quanto se pode esperar - há bruxas espreitando as árvores, criaturas centenárias correndo pelas sombras. E Briony descobriu que, como bruxa, está conectada a elas; pode comandá-las com sua maldade. Pode causar horrores às pessoas ao seu redor com um simples pensamento.
Ela guarda esse segredo como uma promessa feita à sua Madrasta, que morreu misteriosamente alguns anos atrás. Junto a isso, se mantém fiel à irmã gêmea de quem precisa cuidar. Quando um estranho chega à cidade, a rotina controlada e monótona de Briony sofre reviravoltas inesperadas, apresentando-a à questionamentos e ameaças e uma possibilidade de liberdade que ela não havia experimentado até então.
"É o que as histórias fazem. Ligam os pontos aleatórios da vida na forma de uma figura. É tudo ilusão, porém tente ligar os pontos da vida. Acabará com um rabisco lunático."
A Filha do Pântano foi uma surpresa mais do que agradável; foi um livro espetacular do início ao fim. Eu não sabia bem o que esperar, mas, por envolver bruxas, estava ansiosa pra conferir a história - a narrativa é diferente, poética. O modo como a autora desenvolve a história te dá aqueles ares de virada do século, com a chegada da tecnologia mas nem tanto assim - e as descrições do pântano e do que existe nele são de arrepiar.
Briony é difícil de explicar; ela é bem caótica dentro de uma postura resoluta. Tem seus pensamentos sombrios, a vontade de se entregar ao caos, a falta de empatia pelas pessoas ao seu redor - mas também tem sentimentos pela irmã gêmea, está entendendo o que significa sorrir e se emocionar ao se relacionar com um recém-chegado na cidade, e sabe que é a única que pode impedir uma tragédia de se espalhar do pântano para o seu povo. A questão que permeia seu desenvolvimento é justamente essa: ela não se importa, realmente, ou só precisa entender que se importa sim?
"Como vocês podem pensar que sou inocente? Não deixem meu rosto enganá-los; ele conta as piores mentiras."
Eu gostei muito de acompanhar sua jornada, de ler o pandemônio em sua mente através de palavras caóticas e poéticas. Gostei de como a autora não entregou as respostas tão facilmente, usando a confusão da protagonista para me manter intrigada. O seu passado é permeado por sombras e incerteza e isso permanece por boa parte da trama; quem ela é, quais são seus poderes, o que realmente aconteceu com a Madrasta, tudo isso faz parte do arco da personagem.
Ao lado de Briony, Eldric, o recém-chegado, é certamente uma das figuras mais importantes para a trama. Um rapaz estudado e eloquente, cheio de carisma e de energia, que encontra em Briony uma companhia peculiar como ele bem precisa. Uma amiga para entender quem ele é realmente, como vê o mundo - e acaba por fazer com que ela abra os olhos para o mundo também. Além do pântano e as criaturas que espreitam ele, em direção aos sonhos e infinitas possibilidades. Além dos seus medos em direção aos desejos.
Eles têm um relacionamento bonito que trabalha confiança e entrega e falo com tranquilidade que rolei no chão em algumas cenas porque eles tiveram seus MOMENTOS. É o começo de uma paixão, mas é incerta porque Briony não entende seus sentimentos e Eldric está confuso quanto a entender as emoções da própria Briony. Tem uma tensãozinha muito bem trabalhada que é de arrepiar.
"A Morte não tinha lábios, porém estava sorrindo."
Rose e o Pai de Briony são personagens enigmáticos que ajudam a desenvolver o mistério por trás do passado e da herança dela; Rose, diferente das pessoas ao seu redor, com sua mente distante e comentários obscuros, e o Pai, uma figura soturna e solitária. As reações de Briony a eles ajudam a tornar toda a história ainda mais instigante.
E, por fim, o pântano - que com certeza vale como personagem. Com uma ambientação sinistra e carregada em escuridão, ele também estende vislumbres de uma magia ancestral, com seus monstros e criaturas bem escondidos que vão se revelando com o desenrolar do livro. Dá pra sentir medo e fascinação ao mesmo tempo pelo cenário que a autora construiu tão bem.
A edição da Novo Conceito está muito bonita, com uma diagramação espaçosa e letras grandes e todo um cuidado na tradução e revisão. A capa não me ganhou tanto assim, mas o conteúdo do livro vale muito a pena.
"Há diversos tipos de silêncio. Há o silêncio da solidão, do qual gosto bastante. Há o silêncio de um pai. O silêncio de quando você não tem nada a dizer e ele não tem nada a dizer."
A Filha do Pântano oferece uma história de mistério e terror, de romance e amizade; é a jornada de uma garota assombrada pelo passado e pelo presente, pela herança que carrega e pelos enigmas ao redor dela.
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