@pedro.h1709 23/04/2024Sobre a ViolênciaO pequeno livro intitulado "Sobre a Violência" de Hannah Arendt, mais do que criticar de alguma maneira a violência, busca estabelecer teoricamente a distinção entre poder e violência, de forma que sejam entendidos como princípios diferentes, apesar de necessariamente coexistirem. Arendt diz que quanto menos poder, mais violência e vice versa.
Hannah Arendt elabora ainda os conceitos de força, vigor e autoridade. De forma simplificada, poder representa o consenso de um grupo; vigor é a autonomia e potencialidade do sujeito; força se refere às forças da natureza ou das circunstâncias; autoridade está relacionado ao respeito a um cargo ou posto; e violência ou uso de instrumentos pra sobrepujar os outros.
A autora, em determinado momento, faz uma avaliação sobre a teoria de Karl Marx e busca trazer à tona a ausência de violência em seus pressupostos básicos, o que achei muito curioso por sinal, apesar de admitir que haveria um período curto de tirania como transição entre modelos sociais. Em outros trechos ela mencionar ainda que algumas aspirações, entendidas por ela como não políticas, seriam ainda perigosas para um governo que tem por base a isonomia de seus cidadãos.
O segundo capítulo, para mim, foi o mais interessante, tratando sobretudo dos princípios teóricos da filósofa, enquanto os capítulos primeiro e terceiro são mais sobre exemplificações; nestes julguei que as concepções arendtianas sobre vários eventos, próprios de seu tempo, estão significativamente datados e que talvez não se sustentem com um olhar sobre o mundo de hoje, salvo algumas exceções.
Hannah Arendt defende a importância de existir igualdade política, liberdade, tolerância e respeito às diferenças. Apesar disso, a filosofa critica duramente movimentos sociais negros, o que poderia ser encarado no mínimo como uma insensibilidade de Arendt para com estas causas, as quais ela parece reiteradamente desacreditar. Isso foi uma surpresa para mim, a considerar o contexto da autora, uma alemã de origem judaica que passou por momentos de várias crises políticas e humanitárias durante a segunda guerra mundial.
Por fim, talvez esse não seja o melhor título para primeiro contato com a autora. A leitura apresenta muitas citações a outros filósofos, assim como exige um conhecimento de causa das questões políticas correntes durante o período de vida de Hannah Arendt. O que me ajudou sobremaneira a entender este livro, foi o ensaio crítico de André Duarte que fazia parte da edição que comprei.
Boa leitura a todos!