Luccal1 25/02/2024
Pra mim a própria existência desse livro é uma anomalia temporal. Um romance de 1800 sobre estupro que escancara a hipocrisia da sociedade vitoriana, recheado de referências, linguagem poética, te insere na vida campestre. A visão desse autor transpassa até entendimentos atuais, não consigo recomendar o suficiente e já coloquei todos os outros dele na lista. Incrível como uma história tão tragica conseguiu me dar uma certa paz. O medo do outro de si sempre foi e será o que nos paraliza, as vezes o viver na insanidade ganha de uma vida de medo.
CITAÇÕES
Sentindo-se antagonista, estava, na verdade, em harmonia. Fora forçada a quebrar uma lei social, mas nenhuma lei da natureza, em meio à qual imaginava-se tamanha anomalia
Alguns poderiam arriscar o estranho paradoxo de que, com mais animalismo, ele teria sido um homem mais nobre.
Ninguém culpou a Tess tanto quanto ela culpou a si mesma
era o toque de imperfeição sobre a quase perfeição que lhe conferia a doçura, pois era aquilo que lhe dava sua humanidade.
Os empregados da vacaria viviam confortavelmente, placidamente e alegremente. Sua posição era, talvez, a mais feliz de todas na escala social: acima da linha onde termina a pobreza, e acima da linha em que as conveniências sociais começam a restringir o sentimento natural, e o estresse das modas triviais fica muito aquém do suficiente.
?Não sei nada a respeito de fantasmas?, ela dizia; ?mas sei que nossas almas podem sair de nossos corpos enquanto ainda estamos vivos.?
Afastou- se de antigas associações e conheceu algo novo da vida e da humanidade.Ela não consistia em uma existência, uma experiência, uma paixão ou uma estrutura de sensações para ninguém além de si mesma. Para todo o restante da humanidade, Tess era apenas um pensamento passageiro.Contudo, essa limitação baseada em retalhos de convenção, habitada por fantasmas e vozes hostis, era um triste e equivocado produto da imaginação de Tess? uma nuvem de duendes morais pelos quais sentia- se aterrorizada sem razão. Eram eles que estavam em desarmonia com o mundo real, não ela.era o toque de imperfeição sobre a quase perfeição que lhe conferia a doçura, pois era aquilo que lhe dava sua humanidade.Enquanto caminhavam a seu lado, o antigo sentimento de Angel reviveu dentro dele? que quaisquer que fossem suas vantagens em comparação, nenhum dos dois via ou vivia a vida como realmente era. Talvez, como acontece com muitos homens, suas oportunidades de observação não fossem tão boas quanto suas oportunidades de expressão. Nenhum dos dois tinha uma concepção adequada das forças complicadas a ativas fora da corrente suave e gentil na qual eles e seus associados flutuavam. Nenhum dos dois via a diferença entre a verdade local e a verdade universal; que aquilo que o mundo interior dizia em sua audição clerical e acadêmica era bastante diferente daquilo que o mundo exterior pensava.no que diz respeito à acuidade intelectual, acho que você, como um dogmatista satisfeito, deveria deixar a minha em paz, e perguntar o que foi feito da sua.?embora o jovem não pudesse aceitar o rígido dogma do pai, reverenciava sua prática e reconhecia o herói por baixo do crente. Talvez reverenciasse a prática de seu pai mais do que nunca, haja vista que, na questão de tornar Tess sua esposa, o pai não pensara vez alguma em perguntar se tinha posses ou se era pobre. O mesmo desinteresse que tornara necessário a Angel buscar seu sustento como fazendeiro, e provavelmente manteria os irmãos na posição de pobres vigários até o fim de suas atividades; mas Angel o admirava mesmo assim. De fato, apesar de sua própria heterodoxia, Angel sentia com frequência que estava mais próximo de seu pai do lado humano que qualquer um de seus irmãos.?Oh! Meu amor, por que eu o amo tanto!?, ela sussurrava a sós; ?pois aquele que você ama não é meu verdadeiro eu, mas alguém à minha imagem; aquela que eu poderia ter sido!?Ela era um tipo de pessoa celestial, que devia seu ser à poesiaO moinho continuava funcionando, pois comida era uma necessidade perene. A abadia perecera, pois crenças são transitórias.?Penso com mais benevolência sobre as pessoas quando estou afastado delas?,Com toda sua buscada independência de discernimento, esse avançado e bem- intencionado jovem rapaz, uma amostra dos últimos vinte e cinco anos, ainda era o escravo dos costumes e das convenções quando surpreendido por seus antigos ensinamentos.Sentia- se envergonhada pela sua tristeza noturna, baseada em nada mais tangível que um senso de condenação sob uma lei arbitrária da sociedade sem bases na Natureza.Ao considerar aquilo que Tess não era, ignorava aquilo que era, e esquecia- se de que o imperfeito pode ser mais que o inteiro.Aquele que tecera sua perdição estava agora do lado do Espírito, enquanto ela permanecia degenerada.ela se apoiou. ?Não posso acreditar em mudanças tão repentinas! Sinto- me indignada ao ouvi- lo dirigir- se a mim dessa maneira quando sabe? quando sabe o mal que me fez! O senhor, e aqueles como o senhor, desfrutam de todo o prazer possível nessa terra tornando as vidas daqueles como eu amargas e sombrias de tanta dor. E, então, que ótimo, quando estão fartos, pensar em garantir o prazer no paraíso ao converter- se!Ah, se eu pudesse fazer seu querido coração doer- se um minutinho a cada dia, como o meu todos os dias, o dia inteiro sangra, poderia levá- lo a apiedar- se de sua pobre e solitária mulher.Tendo há muito desacreditado os antigos sistemas de misticismo, ele agora começava a desacreditar as velhas considerações da moralidade. Ele pensava que precisavam de ajustes. Quem era o homem moral? Ainda mais pertinentemente, quem era a mulher moral? A beleza ou feiura de um caráter não está apenas em seus feitos, mas em suas intenções e impulsos; sua verdadeira história não se encontra naquilo que realiza, mas naquilo que sonha.Quaisquer que fossem seus pecados, não eram pecados de intenção, mas de inadvertência, e por que deveria ser punida de forma tão persistente?sua Tess original havia cessado espiritualmente de reconhecer o corpo diante dele como dela? permitindo que flutuasse, como um cadáver na correnteza, em uma direção dissociada de sua vontade viva.?Não pense no passado!?, disse ela. ?Não pensarei em nada além do presente. Por que deveríamos?!? Quem sabe o que o amanhã nos reserva??