Tamirez | @resenhandosonhos 21/08/2018Lobo por LoboEsse é meu primeiro livro da autora e eu estava bastante ansiosa para lê-lo. Quem me conhece sabe que a 2ª Guerra é o período histórico que mais me fascina e, além das histórias reais, também acho interessante ler aquelas que brincam com outros cenários. Lobo por Lobo traz uma realidade que todos na época torceram para que não acontecesse. Hitler agora comanda o mundo com a ajuda dos japoneses e impôs seu império de medo sobre todos, porém há aqueles que ainda resistem e da melhor forma possível tentam buscar alternativas para tirá-lo do poder.
Yael foi uma vítima judia como tantos outros, mas o mal lhe infringido foi ainda pior. Além de lhe tirarem a dignidade, a família e o conforto, tiraram-lhe também sua identidade. Quando mais os experimentos do Anjo da Morte progrediam, mais a garota deixava de ser quem costumava e aos poucos sua verdadeira face desapareceu. Acho que um dos momentos mais tristes do livros pra mim foi descobrir o fato de que ela não se lembra de como era antes, de quem era a garota antes das transformações, de qual era o seu verdadeiro rosto. Ela mudou tanto e já personificou tantas pessoas que a Yael real ficou perdida no passado, sem chances de voltar.
Quando falamos do holocausto, é sempre importante pensar no que esse período significou para as pessoas. Foi uma perda enorme, em todos os aspectos. Mas chegou um momento em que acabou. Ficaram as memórias, marcas e dores, mas foi possível seguir em frente em busca de um futuro melhor. Agora imagine não haver esse futuro pelo qual almejar. Haver apenas uma possibilidade distante de derrotar um inimigo intocável, protegido, inalcançável.
“Estava disposta a atravessar o mundo para mudá-lo. Ou a morrer tentando.”
O fato de Yael ser uma “shapeshifter” é muito interessante e se encaixa perfeitamente na trama da história. Ela estudou todos os movimentos de seu alvo e se considera pronta. Porém, é claro que há mais do que apenas a superfície e ela logo vai se deparar com isso quando o irmão de Adele também estará na corrida assim como Luka Löwe, alguém com quem Wolfe parece ter se envolvido durante o último Tour.
Mas a jovem se sai bem, aliás, ao meu ver, bem até demais. E esse, junto com outros dois aspectos, fizeram com que eu não desse 5 estrelas ao livro ou tivesse ficado eufórica com a história. Em nenhum momento surge a dúvida sobre algo estar errado com ela, mesmo a falsa Adele sendo evasiva em suas respostas ou estranha em seu comportamento. Acho que faltou um pouco mais de “risco” nesse ponto da história.
A segunda coisa é que o livro promete uma corrida selvagem e eu não achei a coisa tudo isso. Estava imaginando algo bem mais cruel por parte da trajetória ou dos próprios competidores. Eles tem seus momentos, mas nada surpreendente, violento ou verdadeiramente selvagem, pra valer essa colocação.
E o último aspecto foi a revelação do final. Eu não tinha cogitado o que aconteceu como o final, mas a possibilidade daquilo com outras pessoas pra mim sempre foi algo real durante todo o livro. Então, achei que a autora tratou o leitor de forma ingênua, ao pontuar que não seríamos capazes de pensar sobre isso. Pra mim, sempre foi real, só não imaginei que se revelaria daquela forma (para quem já leu, aponto aqui que minhas suspeitas estavam viradas para Luka).
“Yael engoliu em seco. Cinco lobos. Quatro lembranças e um lembrete.”
Durante a narrativa vamos intercalar entre o presente e o que está se passando com Yael no Tour, e com o passado, onde vemos sua transformação, a forma como se juntou à Revolução e seu treinamento. Ela luta muito com os medos em sua cabeça, bem como as memórias daqueles que ama. Mas Yael é acima de tudo um jovem corajosa e disposta. Disposta a mudar o mundo.
O nome do livro faz bastante sentido conforme caminhamos pelas páginas e, em vários aspectos a protagonista me lembrou a Arya de As Crônicas de Gelo e Fogo. Para esconder os números marcados em sua pele no campo de concentração, ela tatua lobos. Cinco lobos que representam as pessoas que ela perdeu. Essas pessoas são nos apresentada ao longo dos feedbacks, mas é o fato de ela sempre chamar o nome das pessoas e contar os lobos que me lembrou a garota Stark, com sua lista de vingança. No caso de Yael é uma lembrança, uma memória marcada na pele, tanto os lobos que são vistos quanto os números escondidos.
A escrita de Ryan Graudin é bem fluída depois que você entra pra dentro da história. A protagonista é fácil de se empatizar e torcemos por ela ao longo das páginas. Também nos apegamos e ficamos apreensivos com relação a outros personagens, o que provavelmente gerará aquele odiozinho quando descobrimos que fomos passados pra trás, pois há também muito disso aqui. Todo e qualquer competidor quer ganhar, e dentro dos limites fará o que estiver ao seu alcance para vencer, mesmo que vá contra algo que disse um segundo antes.
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