Ana 31/01/2017
Não adianta mais para mim aquele papinho de "não julgue o livro pela capa". Infelizmente vou continuar escolhendo o que ler assim, porque é a primeira coisa que chama a minha atenção. O que eu mais gostei na capa de Vida Dupla foi a confusão que ela me causou: se você prestar muita atenção nela, começa a embaralhar tudo. O melhor — ou pior, depende do ponto de vista — é que combina cem por cento com a historia.
Preciso confessar para vocês que comecei a leitura desse livro com preguiça, e olha que isso raramente acontece comigo. Aqui, conhecemos a história de Julia, fotógrafa e mãe de família, que leva uma vida tranquila com seu marido e filho até que recebe a notícia que sua irmã mais nova, Kate, foi assassinada. Kate havia sido encontrada em um beco, sem nenhum sinal de abuso, com um trauma na cabeça.
Apesar de o marido lhe dar certeza que a polícia está investigando o caso, passam-se meses sem uma mísera resposta sobre o assunto e cansada de esperar, Julia resolve procurar o assassino ela mesma. Tentando entender melhor a vida da irmã, Julia começa uma amizade com a ex-colega de quarto de Kate e, em uma das conversas, descobre que a jovem serpenteava em sites de relacionamento a procura de sexo casual e, em grande partes das vezes, virtual. Assim, Julia não coloca na cabeça que um desses homens é o assassino de Kate.
Mesmo com a polícia de olho nessas redes, Julia resolve criar uma conta para entrar em contato com alguns dos homens que Kate conversava. A partir daí, a mulher vida outra pessoa e começa a se envolver demais com os caras dos sites de relacionamento. Apesar de usar a desculpa de que tudo o que está fazendo é para esclarecer a morte da irmã, começa a esconder as coisas do marido e do filho. Então, sim, Julia começa a viver uma segunda vida, uma vida que precisa manter em segredo.
Primeiramente, já queria começar deixando claro que, apesar de ter gostado muito do livro, muito mesmo, não concordei em nenhum momento com as atitudes da personagem principal. No começo eu até entendia as atitudes de Julia, ela só queria uma resposta, assim como qualquer pessoa que teve um amigo ou familiar assassinado. Só que a partir de certo ponto do livro, ela simplesmente parece "esquecer" a morte da irmã, que foi o motivo de ter começado a fazer tudo o que fez, e começa a dar mancada atrás de mancada.
Este parágrafo contém spoiler, se não quiser saber um detalhe importante da história, é só ir para o próximo. Bom, não é difícil de imaginar que a Julia começa a se relacionar com alguém que conhece na internet, e que trai o marido, e que esconde vários segredos, não é? O tempo inteiro fiquei me questionando o porquê da traição sendo que ela fala que Hugh é o melhor companheiro do mundo, que o ama, que não sei o quê lá mais. Eu não sou ninguém para julgar, longe disso, mas eu sinceramente acho que se você ama uma pessoa, não sente necessidade de outras — mesmo em situações mais delicadas, não justifica.
O livro, que é dividido em cinco partes, só começa a pegar aquele ritmo frenético na terceira parte, que é onde as coisas sérias começam a acontecer. Só que mesmo com esse início lento, a gente fica tão envolvido com a história, tão curioso pra saber o que vai acontecer que não consegue parar de ler de jeito nenhum. A medida que os acontecimentos vão surgindo, vai dando aquele misto de raiva, angústia, medo pela personagem — ao mesmo tempo em que surge aquele sentimento de "será que ela está merecendo tudo isso que está acontecendo?" — e ansiedade para saber o desfecho da história.
E o final, meus caros, foi realmente surpreendente. Uma pena eu ter lido o infeliz antes da hora — juro juradinho que foi totalmente sem querer, mas é uma longa história. De repente, todas as coisas envolvendo Julia, Kate e Connor, o filho de Julia, fazem sentido. Foi preciso um tempinho para digerir todos os fatos e a explicação dada. Creio que S. J. Watson conseguiu criar uma trama bastante complexa e sem furos, pelo menos na minha percepção. Vida Dupla é aquele tipo de livro que você pega para ler sem nenhuma expectativa, mas que acaba prendendo e deixando aquele gostinho de quero mais.
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