Homens Elegantes

Homens Elegantes Samir Machado de Machado




Resenhas - Homens Elegantes


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Dudu 31/12/2021

Romance histórico de ótima qualidade.

Escrita primordial com uso de um excelente vocabulário. Minha única crítica seria que, por vezes, o texto é descritivo por excesso, o que torna a leitura um pouco cansativa.

A história tem ainda como pano de fundo a comunidade homossexual em Londres, o que dá uma pitada de safadeza à trama, para os adeptos a este tipo de enredo.

Destaque para o humor da escrita, que permite ao leitor boas risadas com o uso de trocadilhos e tiradas cômicas.
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ana :) 20/12/2021

Afinal, um Homem Elegante deve ser a melhor das companhias.
Que obra sensacional! Samir Machado de Machado merece reconhecimento, livro rico em fatos históricos, polêmicas, opiniões divergentes e personagens muito bem construídos.

Érico Borges possui uma missão: encontrar o ninho de onde veio a carga contrabandeada. Contudo, não é qualquer carga, não é aquela que esperam dar atenção e valor necessário, são livros. A impressão clandestina de Fanny Hill ? livro com apologia a relações homossexuais ? escondido sobre o título Catechismus.

"O que o trouxe a Londres foi outro tipo de contrabando, de menor impacto na economia, mas de grande impacto na política reinol: livros." (p. 18)

Desembarcando em Londres, junto do nosso Barão de Lavos, conhecemos Armando, o secretário da embaixada portuguesa, e Maria, sobrinha do embaixador. Os três com outras personagens igualmente marcantes, se metem em tantas emboscadas que não digo aqui.

"A Europa está sempre tentando salvar o mundo de si mesma, e empreende esforços descomunais que inevitavelmente a conduzem à própria ruína; nós brasileiros já vemos a ruína desde o princípio: apenas relaxamos e aproveitamos a viagem." (p. 417)

Apesar do enredo de questões políticas, não pode e nem se deve ignorar as relações sociais em questão. Na suprema figura do conde de Bolsonaro ? ainda não superei esse nome ?, é representada a intolerância, o fanatismo e o ego de superioridade do homem branco europeu sobre qualquer ser que desvie de seu padrão. O assunto da comunidade LGBTQIA+ nessa história é tão vivo e real que emociona, impacta ao trazer a realidade do século XVIII e sua semelhança com a atualidade, ideias retrógradas e conservadoras ganhando voz e espaço, mas em oposição, há resistência e há luta persistindo e se firmando.

"O olhar de colonizador, condescendente e paternal. É o olhar de quem considera a própria superioridade um fato estabelecido, uma verdade dogmática, e do alto de sua arrogância observa o mundo que o cerca como sendo habitado por selvagens ignorantes." (P. 134)

"Pois aos olhos daqueles que te creem inferior, ter os mesmos direitos não é visto como igualdade, mas como privilégio. Para eles, diminui a noção que têm de si próprios quando se veem igualados com aquilo que mais desprezam. E jamais irão admitir que isso ocorra." (p. 365)

Como romance histórico, conhecemos Gonçalo, vindo de Laguna- SC após fugir de um país em que ser quem é o levou ao chicote do próprio pai. Esse padeiro provocativo com ar de menino é o par romântico do nosso protagonista, a relação de ambos é bonita e rápida, não no sentido de longevidade, mas no sentido da velocidade que se concretizou. No entanto, cada um conhece o outro e se permite conhecer de uma forma bela.

"Como dizer para alguém que basta olhar em seus olhos para saber que, dali por diante, será impossível viver sem ele?" (P. 289)

Após mortes por ideais dolorosos de se viver, combates com pistolas e espadas, e, claro, muitos macarons, Érico resolve a questão política e ideológica que levou ao contrabando de livros eróticos e de panfletos conservadores.

É um livro sensacional, com certeza não será o último que lerei desse autor.

"[...] se der ao povo alguns livros, irão querer mais; se lhes der muitos livros, logo começam a ter ideias e a querer escrever os seus próprios, e então escreverão peças, e peças necessitam de músicas, e logo estarão compondo baladas, canções e então..." (P. 48)

"E o que acontece quando pessoas passam a compartilhar histórias? Descobrem que possuem problemas em comum, dificuldades e anseios comuns, e toda sorte de sentimento inconveniente que as histórias geram, criando o maior perigo de todos: o senso de comunidade." (P. 49)
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D.J. Alves 19/12/2021

As Fanchonas que dominaram o mundo kkk
Literatura LGBTQIA+ Muito interessante. Nacional. Conta uma história de espionagem, ação, amor e fúria. Tão antigo e tão atual. Muito bom. Recomendo!

Comecei a pensar no mundo para o qual eu devia voltar, com sua pressa brutal e sua indiferença. Eu teria de me tornar um novo homem. Teria de andar de novo em companhia de meus captores e dos agentes de minha humilhação, teria de ser examinado por eles de forma crítica em busca de vestígios das cicatrizes que eles mesmos me haviam infligido. Eu teria de fazer algo em favor daqueles que eram como eu e por outros ainda mais indefesos. Eu teria de abandonar essa introspecção mortal e, em vez disso, me enrijecer. Eu teria até mesmo de odiar um pouco.

Sr. Bond, eles têm um ditado que diz: Uma vez é acaso. Duas é coincidência. A terceira é ação inimiga.

O passado é um confeito da memória: crave nele sua colher e escorrerá o recheio do presente; prove-o, e sentirá o gosto do futuro.

Exceto a visão daquela cidade. Santo Agostinho estava certo: quem não viaja não sai da primeira página, e por um breve instante, quase interrompeu tudo antes mesmo que começasse. Uma nova cidade é uma nova oportunidade: reinvente a si mesmo. Reconstrua. Retraduza. Anime-se, homem! Apenas os vivos podem se reinventar, e é cedo na vida para tanta melancolia!

Diz que, se isso acontece, é por aquela cidade ser o nó que une linhas invisíveis que se espalham por todo o globo. Que há algo em comum entre os negros levados à força da África para viver e morrer nas plantações de açúcar da América; entre os livres e cativos que se embrenham e sufocam nas Minas Gerais a lhe arrancar as joias debaixo da terra; entre os que cruzam e afundam pelo oceano atrás do óleo de baleia que ilumina as ruas das cidades; das famílias nos vinhedos do Douro, aos batalhões que sangram sob o calor sufocante do Oriente para fazer valer o comércio dos chás e dos temperos; todos os homens da Terra estão ligados um ao outro sem o saberem, fluindo como sangue pelas veias invisíveis das rotas de comércio, bombeando e fazendo pulsar a cidade que é o monstruoso coração do mundo: Londres.

Por toda a Europa, philosophes divulgam ideias inconvenientes: de que não se deve aguardar a felicidade somente após a morte, mas buscá-la em vida.

Escritores são uns mortos de fome, e Shakespeare precisava comer.

Érico, nesse caso, compartilha da opinião do conde de Oeiras, seu chefe: o atraso mental do reino era o resultado direto da educação pública ter sido deixada nas mãos dos jesuítas. Educando o povo apenas para a obediência passiva e não para a livre-empresa, formou gerações de beatos supersticiosos e ignorantes, os mantendo presos ao medievo enquanto o resto do mundo andava para frente.

Quando se trata de mover o mundo, a fé das gentes e a ambição dos reis não são nada comparadas à vontade de variar o prato. A culinária é o verdadeiro eixo que equilibra o globo.

nutrindo a crença arraigada de que a religiosidade do mais católico dos reinos europeus não é a causa de seu atraso e decadência? cada dia mais evidentes? e sim a chave para o futuro. Ou, em outras palavras, que tudo dará certo e melhorará, se as coisas não só pararem de evoluir mas, de preferência, que retrocedam um pouco. O mundo gira rápido demais.

O Brasil está abandonado, senhor; de lá tudo se tira, e nada se constrói. Nossa gente é deixada à míngua e se contenta com o que tem.

o fato é que o governo está quebrado, o ouro que havia se usou para a reconstrução após o terramoto, não há dinheiro, e se houver, é em Portugal que se necessita dele. O que o Brasil precisa é de colonos e cultivadores, não de artistas e fabricantes. É assim que sempre funcionou, é assim que sempre será.

se der ao povo alguns livros, irão querer mais; se lhes der muitos livros, logo começam a ter ideias e a querer escrever os seus próprios, e então escreverão peças, e peças necessitam de músicas, e logo estarão compondo baladas, canções e então...? Bate com o punho na mesa, irritado com o que considera uma obviedade a qual os mais jovens são incapazes de compreender.? Então haverá algo em comum unindo os habitantes de Salvador aos do Rio de Janeiro, os mineiros das Gerais e os colonos do Sul. Haverá histórias. E o que acontece quando pessoas passam a compartilhar histórias? Descobrem que possuem problemas em comum, dificuldades e anseios comuns, e toda sorte de sentimento inconveniente que as histórias geram, criando o maior perigo de todos: o senso de comunidade. E no momento em que os colonos brasilianos assumirem uma identidade comum, distinta dos portugueses reinóis, haverá dissidências, haverá revoltas.

A sorte, como Érico gosta de repetir, é o que ocorre quando a preparação encontra a oportunidade.

Pessoas como você e eu, que conhecemos o mundo, sabemos que ele tem possibilidades muito maiores do que a cabecinha medieval de gente como Martinho de Melo pode conceber. Mas estamos em posição de mudar alguma coisa? Você está? Eu não estou. E como ?gente como nós? lida com gente assim? Com máscaras. A vida é um baile de máscaras infinito, meu caro. Não é meu verdadeiro eu quem senta à mesa com o embaixador e suporta seus comentários tacanhos. É a máscara. E esse tem sido meu expediente aqui desde o dia em que cheguei a essa cidade, seis anos atrás.

modo, que se julga representar a letra hebraica Shin e possui o sentido de desejar ao outro uma vida longa

É assim que sempre começam, primeiro queimam livros, depois queimam gente!

Com literatura séria é outra coisa. Livro não é pão, não se compra todo dia. Um trabalhador ali ganha uns dez xelins por semana, o que equivale a uns mil e setecentos réis, e sustenta toda sua família com isso. Mas um exemplar de Robinson Crusoé custa cinco xelins (ou oitocentos e noventa réis), e o Tom Jones, que o editor espertalhão dividiu em seis volumes, sai a três xelins cada tomo (ou quinhentos e trinta réis). Assim ou se come ou se lê.

A literatura é, ao final das contas, um passatempo de abastados.

?Comprar? é mera consequência colateral; ?ir às compras? é como ir ao baile ou ao teatro, existe para ver e ser visto.

As placas, vê? Que peculiar.? Confesso que me escapa o que há de tão especial nas placas, sr. Borges? diz Maria.? Percebe que todas possuem o nome das lojas por escrito? Não um peixe indicando a peixaria, ou uma agulha para um linheiro, mas nomes. Letras. Significa que aqui todos sabem ler. Que coisa maravilhosa, uma cidade inteira que saiba ler.

Estavam em promoção na Feira das Vaidades, um título por metade do dobro

? E o que não é malvisto uma dama fazer? A reputação é o primeiro grilhão que se impõe à mulher, querido. ?Se todo homem nasce livre, por que toda mulher nasce uma escrava?? É de Mary Astell, um panfleto que li por aí.

Para ela, as roupas devem refletir três funções: aquecer quem as usa, estabelecer a posição social que se quer passar, e a mais importante, atrair o interesse de quem se deseja atrair o interesse.

?Mas você vive no centro do mundo?, observa Érico. ?O que dizer para quem está nas margens? Como falar da cobertura de confeitos para um escravo que vive de carregar barris de excrementos todo dia até o mar? Me parece cruel falar-lhes de coisas que nunca terão.?

Não há escravos como nas colônias, claro, mas há os assalariados.? Érico não entende o que ele fala. Maria explica que ali os artesãos já não costumam trabalhar mais em suas próprias casas ou oficinas; ?ao invés disso são aglomerados em galpões, subordinados a regras comuns e com horários ditados por um supervisor?. ?Tipo um feitor de fazenda??, sugere Érico. ?Sim, mas sem chicotes.? ?Ainda assim me parece opressivo.? ?É o futuro, querido?, complementa Fribble. ?O que só corrobora minha teoria: se não te permitem sonhar com confortos, mesmo que inatingíveis, de que serve a própria vida? O que será de nós quando formos privados da imaginação?

já conhecera sua cota de figurões, quase todos tão centrados em si próprios que esquecem o mundo ao redor.

Pois que, há cinco anos, Maria foi, como quase toda mulher de sua classe, obrigada pela família a ficar noiva de um homem que mal conhecia, muito mais velho, e com o qual mal trocara algumas palavras. Protestou: disse que só casaria com quem amasse, como nos romances. Seu pai, culpando-se pela leniência de tê-la deixado encher a cabeça com literatura, acusou-a de viver nas nuvens, de pôr em risco o nome familiar, de cometer o maior e o pior dos crimes, que é a desobediência paterna.

Essas moças ricas do interior, quando vêm à cidade procurar casamento, é porque já estão vendendo o leite sem a nata. Vamos, venha que vou te educar nos códigos secretos femininos.

Uma senhora pomposa rodeada de jovens interessados e interesseiros exibe o enorme diamante em forma de octaedro que pende do colar. Há grandes chances de ser uma pedra brasileira? arrancada das Minas Gerais por um escravo, enviada a Lisboa para pagar as dívidas da corte, indo parar nas mãos de algum joalheiro de Haia, que a poliu e incrustou naquele colar, vendendo para algum comerciante inglês, exposta nas lojas da rua Bond até ser enfim adquirida pelo marido, pendendo a rocha ancestral nas carnes murchas da galinha velha.

?Olhe à sua volta, barão. Não duvido que haja entre os aqui presentes uma cota que faça juz à dita nobreza de seus títulos, uma cota moral, como o senhor tão bem expressou. Mas quantos destes homens, em segredo, batem nas mulheres? Quantas destas damas já abandonaram seus bastardos em orfanatos? E quantos destes bastardos não estão aqui, oportunistas que são, à procura de uma viúva rica que os sustente? Covardes, mentirosos, ladrões e trapaceiros de toda sorte, cujas naturezas feias e más estão ocultas pela elegância de suas roupas e pela bela arquitetura deste salão, que no conjunto, é o que lhes confere os ares de nobreza, que lhes dá o verniz de aristocracia.?

?que a virtude se avilta quando se esforça demais para se justificar.?

foram pegos no flagra a cometer os próprios crimes que noutros acusavam, por fim reduzidos à sua real dimensão de chantagistas e hipócritas, a sustentar a máxima de que todo moralista é, no fundo, um reprimido.

Convenhamos que ninguém precisa de religião para agir de modo decente com o próximo. E se precisam é apenas por ilusão de poder: quem crê que, orando, possa ter o seu desejo atendido, alimenta a ideia de que pode controlar o mundo à sua volta e influenciar Deus.

Mas se não é uma ofensa para mim, que me importa o que se passa na noz seca que ela traz no lugar do cérebro?

? Mas há uma palavra na qual todos se reduzem, no final.? E qual seria?? Pó.

Sou um comerciante de livros, e para mim o melhor livro é aquele que vende.

É brasileiro, e se em sua terra natal não confiaria nos conterrâneos nem para pedir as horas, no estrangeiro surge este senso de fraternidade acolhedor.

Eu... eu não sou assim. Não quero ser. Eu sou como uma peça de teatro que nunca termina, sempre interpretando personagens conforme a necessidade, com um medo terrível de não ser convincente o bastante, ou de não saber a hora certa de mudar o personagem. Entende o que falo?

Érico possui um discurso na ponta da língua para homens assim, para momentos como este, mas é tomado por um tédio mortal, por ter que dar explicações a quem nunca estará disposto a compreender nada. Gente como Martinho de Melo quer apenas ouvir o eco de seus próprios pensamentos no vazio de suas ideias.

Que religião é esta que nós inventamos, que ousamos chamar de cristã, mas que se regozija na punição e despreza o perdão e a caridade?

? Quem você pensa que é para falar comigo nestes termos?? Eu sou aquele que faz o trabalho sujo de parasitas como o senhor, para que a sua alma corrupta e podre permaneça com a consciência limpa antes ir para o inferno.

? Garoto, ou você ama o seu país, ou o odeia. Com as leis do Estado, não se negocia. E pelo tom de suas críticas, para mim está bastante óbvio que despreza as tradições de nossa terra.

? Eu não a desprezo, pelo contrário. Só quem ama seu país tenta mudá-lo. É gente como o senhor quem o odeia; mal conseguem ocultar o desprezo profundo que sentem por sua própria gente, e bem estariam dispostos a eliminá-los todos, se não precisassem deles para servi-los. Mas vocês, no que lhes for possível, se dispõem a queimar cada música que não compreendem, cada livro que não pretendem ler, até eliminar tudo o que é dissonante, para reinar sobre cinzas. Eu mesmo me pergunto: o que gente como o senhor ama no seu país? A terra, o ar, o mar? O senhor ama um mapa? O senhor ama uma bandeira? Eles só valem alguma coisa enquanto significarem alguma coisa, e o que eles significam é a própria coisa que o senhor detesta: sua gente.

É incrível as coisas a que nos apegamos, não? É como nas mil e uma noites, sempre há mais uma história para adiar a morte.

Os personagens são sempre a mesma coisa: um herói, uma heroína, um vilão, um casal apaixonado e os confidentes de cada um.

Ela explica que a história se desenvolve quase sempre em três atos: o primeiro para expor os temas, o segundo para o desenvolvimento, e o último para o clímax.

Nem abre te sésamo, nem abracadabra: a mais poderosa palavra mágica é ?dinheiro não é problema?.

?Em Portugal, quando as moças vão fazer seus folguedos nos rios?, explica Maria, ?as amas sempre nos dizem, ?não tomai banho desnudas, meninas, ou virá voando o passaralho e lhes deixará com barriga?. Creio que seja mais fácil do que explicar de onde realmente nascem os bebês.?

O mundo é cruel, lhe dizem. Não, o mundo é indiferente, são as pessoas que decidem serem ou não cruéis.

estes loucos são como pássaros presos em gaiolas com a porta aberta. Por não saberem o que há do lado de fora, ficam a grasnar horrores reais e imaginários de um mundo que desconhecem exceto por pálidos relances, e logo passam a crer que aqueles que estão livres do lado de fora são os responsáveis por sua incapacidade de abandonar a própria prisão.

Eu? Eu sinceramente nunca me preocupei com a questão. Tenho certeza de que, qualquer que seja minha opinião a respeito, não irá alterar a ordem do mundo.

Terá o mundo surgido do ventre de Gaia, como acreditavam os gregos; de cada parte do corpo do gigante Ymir como diziam os antigos nórdicos; ou da palavra de Javé, como crê meu povo? Os hindus sustentam que o universo nunca teve um começo, consistindo de um fluxo contínuo, infinito e eterno, pois Vishnu, protetor de toda a criação, dorme no oceano formado pela serpente Sheshnaga; há tantos deuses quanto povos, e há o Deus único, porém distinto de outros deuses únicos, para cada um que assim o crê. Que apenas uma dentre tantas concepções seja a correta, em detrimento das demais, é impossível: ou todas as crenças são falsas (como crê meu irmão), ou todas são verdadeiras.

De todo modo, a meu ver é assim que se conquista respeito: fazendo o agressor temer a retaliação, fazer com que tema virar alvo do mesmo tipo de agressão que tanto se animou em praticar. Me parece uma realidade triste que a boa vontade que une uma sociedade só funciona com o poder de coerção da força.

?Não quero forçá-lo a nada, e mesmo que quisesse, ele é teimoso demais para tanto?, lamenta Érico. ?Me é uma agonia ver tanto talento se apequenar por receios tolos.?

?A Europa está sempre tentando salvar o mundo de si mesma, e empreende esforços descomunais que inevitavelmente a conduzem à própria ruína; nós brasileiros já vemos a ruína desde o princípio: apenas relaxamos e aproveitamos a viagem.

a razão é sempre a primeira que colapsa.

? Vocês ingleses tratam seus aliados muito mal ? resmunga na saída. ? Se servir de consolo ? sorri Fribble ? tratamos nossos inimigos pior ainda.

reconhecessem com alívio que no amor de um pelo outro encontraram um eixo sobre o qual agora se equilibram
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Jamyle Dionísio 07/12/2021

Page turner
Samir Machado de Machado, para mim, é sinônimo de literatura empolgante: seus romances históricos, livrões no tamanho e na qualidade do enredo, são impossíveis de largar até chegarmos à última página.

Justamente o que se chama, em inglês, de ?page turner?. Vira-página, na minha tradução ousada: dou aos livros do Samir o selo ?vira-página da muléstia?.

Homens Elegantes foi o meu primeiro livro do autor. Uma história que, ao mesmo tempo em que se situa no século XVIII, é tão atual que chega a assombrar (e sendo lançada em 2016, assustadoramente visionária).

Érico Borges é um espião brasileiro enviado a Londres pelo marquês de Pombal. Sua missão consiste em investigar um suposto contrabando de livros eróticos para o Rio de Janeiro. E por trás do contrabando, é claro, há intrigas internacionais, planos funestos para atingir a maior colônia de Portugal, teorias conspiratórias que geram histerias coletivas? e claro, um vilão cujo nome não mencionarei aqui, porque, né? vocês precisam ler esse livro.

Os cenários por onde passa Érico são deliciosos: a embaixada portuguesa com seus problemas contábeis, os secretos meandros do mundo gay de Londres, lustrosos teatros e salões.

Esse livro me fez gargalhar, me fez salivar com mesas repletas de doces em cores pastéis, me fez suspirar com o amor entre Érico e Gonçalo. Me fez fã de carteirinha do Samir Machado de Machado.

https://www.instagram.com/p/CVvGYXELHgr/?utm_medium=copy_link
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Jhonis 06/12/2021

Gostei do livro, apesar de o enredo tomar um rumo leviano e previsível. Apensar dos furos, consegui me fazer persistir na leitura e cheguei ao fim reconhecendo os erros e acertos, e perdoando Samir mais por sua escrita afiada e elegante do que pelo enredo cheio de pontas. É um livro leve, engraçado, cheio de referências e de um trabalho de pesquisa incrível. Isso tudo se reflete nas minhas razões para reconhecê-lo como um bom livro, que por alguns tropeços no enredo, principalmente no trato do desenvolvimento de alguns personagens e suas motivações e na exploração de algumas cenas nonsense total, não se tornou excelente.
Alguns pontos que para mim se sobressaíram e merecem destaque no livro são:

- a escrita elegante do autor, cheia de ironías e de efeitos de sentido que conferem uma atmosfera de humor inteligente ao livro.
- Os diversos recursos narrativos explorados pelo autor para dar tons e efeitos diferente ao enredo.
- O apurado trabalho de pesquisa e referências.
- Gonçalo (foi o personagem que mais me cativou, porém, considero que ele poderia ter sido melhor desenvolvido)
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Segen 12/09/2021

Longa jornada
Divertida mistura de temas , com personagens carismáticos e boas ideias. Entretanto, peca por ser mais longo que o necessário, e assim repetitivo. Muitas vezes as críticas políticas soam didáticas demais e óbvias. O autor acerta em personagens como Lady Madonna e outros adjuvantes.
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Gabi 23/08/2021

BEM ESCRITO
O livro conta a história de Erico, um espia meio brasileiro/portugues, que é designado a ir ate a corte de Londres para investigar quem diabos levou ao brasil um remessa de livros pornográficos.
Chegando a Inglaterra ele contará com a ajuda de Maria e Armando duas pessoas que está ligada a embaixada portuguesa e tem boas relações com a corte inglesa levando Erico a festas e fofocas da alta sociedade.
Apesar de ter todas uma conspiração envolvendo toda essa missão de Erico, o foco da história parte do desenvolvimento da comunidade LGBT daquela época.
Partindo disso é um livro um pouco extenso, acredito que algumas partes poderiam ter sido menores, mas não tira o mérito de como é importante livros que retratam uma época para a comunidade, porque não é só sobre história contemporânea que vive o leitor.
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Vinicius.Oliveira 17/08/2021

Clássico Moderno
Simplesmente amei esse livro. O tanto que aprendi com essa leitura não dá pra descrever. Na minha opinião, essa história é, facilmente, um clássico moderno. Não só porque descreve acontecimentos históricos que direta ou indiretamente impactaram o Brasil, mas porque acende no leitor o ímpeto por conhecer mais sobre a cultura e formação do país. A importância que é ter uma escrita dessas feita com tanta atenção e cuidado por um brasileiro e para os brasileiros só reforça o que já tinha descoberto láaa no início, assim que comecei a acompanhar a aventura de Érico, Homens Elegantes é um dos meus livros favoritos da vida!
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chuwanning 30/06/2021

ÚNICO E FENOMENAL
Esse livro é daqueles que eu vou levar pra vida. O Samir trouxe uma história com tudo que a gente tem direito: suspense, ação, aventura, cenas de luta, comédia, romance, FOGO NO RABO. Tudo muito bem articulado com uma escrita incrível e super envolvente. Sim, é uma obra grande, de início lenta, mas com uma ambientação bem feita e uma pesquisa de fundo muito boa. Sem dúvida, não é apenas mais uma obra LGBTQIAP+.

Pontuo aqui algumas coisas peculiares sobre HE:
¬ o uso de aspas para se referir aos diálogos em outras línguas, enquanto o nosso travessão permanece dos diálogos em português;
¬ a sensibilidade de retratar uma história onde os chamados "fanchonos" têm certa desenvoltura para se expressarem, ainda que não abertamente, e então o vislumbre disso sendo atacado pelo pensamento conservador que, sabemos, culminou em políticas anti-LGTBQIAP+ e pessoas sendo presas e mortas por serem quem são;
¬ a cena do conde Bolsonaro apanhando no carteado para um fanchono de salto;
¬ a palavra FANCHONO que eu nunca mais vou conseguir parar de usar;
¬ o fato do Gonçalo, como um todo, ser um personagem de personalidade própria, que não se molda ao que o Érico, meio esnobe e arrogante, quer ou gosta, e sempre se impõe quanto aos próprios gostos, afazeres, caminhos, etc.;
¬ as cenas de amor entre Gon e Érico, eu meio que achei algumas fofas (?);
¬ a afetividade dos fanchonos uns com os outros, Fribble, Armando, Lady Madonna, e a própria Maria, aliada, extremamente cativante do começo ao fim

Existem certos pontos do livro em que o ritmo fica bem lento. Descrições prolongadas de coisas que não agregam muito, na verdade. Também fiquei confuse sobre quanto tempo estava se passando em determinado momento. Mas logo a partir dos 50% as coisas engatam de um jeito bom e você vicia naquilo.

Gonçalo e Érico, reizinhos. Maria, DONA.

Favoritadíssimo.
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Beatriz 29/06/2021

Comecei com medo de não gostar mas olha fez eu morder a língua de todas as formas! Muito divertido e bem humorado com uma leitura super fluida, as 500 páginas passaram voando.

Recomendo muito pra quem é acostumado a ler YA/fantasia e quer começar a explorar outros gêneros :)
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Jonathan Marques 20/05/2021

Gente, é o Bolsonaro ali?
Migues, socorro! Vocês já leram um livro tão bom que chegaram a sentir vontade de gritar para o mundo todo ler ele tbm? Pois isso aconteceu comigo esse final de semana, quando acabei de ler o incrível ?Homens elegantes?. EU TÔ NO CHÃO! Samir Machado (de Machado) deu conta de escrever um romance histórico do século 18 (no estilo Madonna no VMA de 90) recheado de muito glacé, luxos e excessos da alta sociedade europeia; uma verdadeira aventura de capa e espada, com duelos, perseguições, espionagem e muita aula história.

Bom, sem enrolação: no livro acompanhamos Érico, um soldado brasileiro que é enviado a Londres para investigar (em segredo) um contrabando de livros eróticos que fora pirateado para o Brasil. E entre bailes, óperas e lutas, acabamos nos deparando com a vida dupla que LGBTs tinham que se submeter naquela época (se é ruim hoje em dia, imaginem 300 anos atrás!). Brazil, I?m devastated!

E pq é tão bom assim? É UM COMBO MINHAS ANJAS! A habilidade do autor em encaixar a trama em acontecimentos históricos reais da década de 1760 é BABADO! Ele caprichou até na escrita típica da época, com termos requintados e temporais (ás vezes rola um Google pra entender, but who cares?). O desenrolar do enredo é IM-PE-CÁ-VEL, oscilando entre momentos de extrema delicadeza, ou diálogos debochadamente afiados, chegando a batalhas de tirar o fôlego. E o melhor de tudo: O VILÃO SE CHAMA BOLSONARO!

É isso, VOU ANFLETAR ELE ATÉ MEU DEDO CAIR! E chega de escrever, antes que eu estoure de novo o limite de caracteres dessa birósca! Mas, eu de vocês, não perderia a oportunidade de ganhar (pelo menos na ficção) de um Bolsonaro! Kkkkkcry...
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Maik 18/04/2021

Empolgante e delicioso de ler
A gente precisa de mais livros assim com personagens gays! Onde o foco da história não é um drama sobre a aceitação da própria sexualidade, são personagens gays envolvidos numa trama de espionagem, aventura, num romance histórico riquíssimo em detalhes. Maravilhoso!
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Nelson.Nogueira 05/04/2021

Excelente livro! Tem romance, aventura, suspense, muito humor, representatividade e personagens incríveis. Recomendo muito!
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fev 13/01/2021

Esse livro é maravilhoso. A leitura já valeu a pena pelo tanto de risadas que eu dei.

Samir Machado nos traz uma história engraçada, histórica e cheia de referências do mundo pop. Isso me agradou bastante. Há tantas outras referências a fatos que realmente aconteceram e outros que provavelmente eu não consegui identificar.

A história de um brasileiro que vai para Inglaterra a serviço do governo português só podia render coisas boas. As cenas de ação são super legais. As cenas de sexo nota 1000.

Eu acredito que o livro conversa muito com o público gay e lança reflexões para a comunidade. Mesmo que tudo aconteça nos anos 1700, acredito que o autor quis dar dicas e alertar a comunidade de se por presente, não abaixar a cabeça e lutar pelos semelhantes. As referências ao cenário brasileiro com personagens e situações demonstram bastante isso.

Temos um monte de gays em um livro em que tudo é tratado dentro da normalidade. Se você tirar o contexto histórico. Não há necessidade do personagem sair do armário, não há drama por causa disso. Existem as perseguições aos fanchonos porque era isso que acontecia ou acontece.

Apesar de achar o livro maravilhoso tenho que dizer que o mistério não acontece já é entregue de bandeja. O começo é um pouco enrolado, mas entendo que seja a ambientação. No entanto, depois da metade eu cortaria uns 4 capítulos que não acrescentam nada na história. São legais, mas totalmente dispensáveis.

A leitura é extremamente agradável. Recomendo para todos, exceto para preconceituosos de merda. Esses merecem passar longe daqui.
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