Ju Zanotti 01/11/2016Quando me deparei com Homens Elegantes entre os lançamentos da Editora Rocco eu tive certa dúvida quanto a solicitá-lo ou não, por um lado parecia ser exatamente o tipo de literatura que me atrai, por outro talvez a escrita do autor fosse cansativa ou poderia ser simplesmente algo pelo qual eu não estava esperando. Havia muitos "e se...?". Felizmente logo na primeira página o livro já me surpreendeu, tanto em sua edição quanto em sua originalidade. Acostumada como estou a ler literatura histórica é até um sacrilégio dizer que nunca havia prestado atenção nos autores nacionais do gênero, portanto raramente li algo que se referisse ou se ambientasse no Brasil, o caso aqui é o primeiro sendo que a narrativa se passa mesmo em Londres, porém é tanta brasileirice que é impossível não haver identificação.
Érico Borges é um jovem soldado brasileiro, enviado ao velho mudo para investigar o contrabando de livros eróticos para o Brasil Colônia. Sua busca o leva a Londres e a sociedade macarroni do séc. XVIII. Disposto a desvendar os segredos que levam ao crime Érico se vê deslumbrado com o luxo londrino, porém discreto como é passa a circular pelo submundo do amor, desfilando seu eu mais livre, aquele que a muito custo manteve a margem durante toda a sua vida. Em meio a isso acaba por fazer um grande inimigo, o conde Bolsonaro, um nobre sem escrúpulos e por vezes fanático em seus ideais é também implacável e não medirá esforços para atingir seus objetivos, independente de quem sejam as partes prejudicadas.
"[...] O mundo é cruel, lhe dizem. Não, o mundo é indiferente, são as pessoas que decidem serem ou não cruéis."
Não eu não acho que o resumo acima faça jus a essa obra, na verdade é extremamente complicado condensar algo tão rico quanto Homens Elegantes. A magnificência dessa história está em sua despretensiosidade. Com uma narrativa que mescla humor e tensão, profundidade e superficialidade o autor conduz o leitor para um século que não parece muito distante do qual vivemos agora, um cenário histórico que nos remete ao nosso próprio tempo quando se trata de intolerância. Cheguei a me sentir indignada em diversos momentos, enquanto observava o quanto o medo do desconhecido pode tornar uma sociedade cega e cruel. Contudo ao mesmo tempo Samir Machado de Machado suaviza sua obra com a essência de seus personagens, tirada inteligentes e momentos sensuais. E em questão de personagens o livro está muito bem servido. Deparamos-nos com diversas personalidades durante a obra, caracteres essenciais e que por si só são essência. Apesar da gama de personalidades cada um dos personagens se torna único e reconhecível facilmente.
Não posso deixar de mencionar a forma inteligente como o autor utiliza certas reflexões e ideias, como usa seus personagens e suas opiniões para expor assuntos de extrema importância na obra, bem como filosofias e ideais. Confesso que em alguns momentos divaguei e precisei retomar a leitura para me encontrar, mas ainda assim não posso dizer que não sejam argumentos bem fundamentados. Além disso, há nesta obra uma carga crítica impossível de não identificar, principalmente com relação à forma como o Brasil sendo colônia na época parece tão pura e simplesmente atual, visto que ainda somos vítimas da falta de investimento essenciais como educação e saúde. Não há como negar que independente do momento em que se ambienta Homens Elegantes está mais próximo da nossa realidade do que podemos imaginar.
"- O Brasil está abandonado, senhor; de lá tudo se tira, e nada se constrói. Nossa gente é deixada a míngua e se contenta com o que tem."
Algo que me chamou atenção na obra e até me confundiu em certo momento é com relação à estrutura das cenas de batalha, na qual o autor me disse que buscou representar o caos do momento, para o leitor mais desatento, como eu me encontrava durante essa parte da leitura, pode passar despercebido a ideia estrutural dessa narrativa que divida em duas partes de uma mesma folha narra pontos de vista diferente do mesmo embate. Queria explicar que quando digo desatenta não quero dizer que não estava concentrada nos acontecimentos, mas vendo agora penso que estava envolvida demais para me ater a este detalhe, concentrada em outro ponto que não a estrutura do texto.
Enfim, sinto que por mais que eu tenha tentado me expressar bem quanto a tudo que este livro me passou acabei deixando muito de lado, então me coloco a disposição para discutir e falar mais sobre a obra, pois sinto que há muito ainda há ser dito. No mais Homens Elegantes é uma obra original e reveladora, com uma narrativa gostosa e despretensiosa, é um romance de entretenimento que traz junto a si muito conhecimento e um pedaço de uma característica tão comum a nós brasileiros, a mais pura e simples brasilidade. Eu recomendaria este livro há todos que me pedirem um bom romance de capa e espada, uma literatura histórica ou simplesmente para quem estivesse em busca de um excelente livro.
"[...] Não há problema em se ter medo, e você não diminui aos meus olhos por admitir isso. Você não precisa ser forte o tempo todo, Érico.Eu posso ser forte por nós dois, quando você precisar que eu seja."