Mistfey 26/10/2020
Resenha: O Rei Corvo
O Rei Corvo é o quarto e último livro da Saga dos Corvos, da autora Maggie Stiefvater, e foi lançado aqui no Brasil, assim como os outros 3 volumes, pela Verus Editora.
O último livro de uma sequência, pode despertar uma certa ansiedade: a história pode ter um fim magistral ou horrível. Mas se tratando de Maggie Stiefvater, eu até fiquei um pouco tranquila em relação a isso, pois a Maggie tem uma forma incrível de entreter o leitor sem tornar a história enfadonha e com arcos arrastados demais.
E não é que eu estava certa? Esse Livro foi espetacular! A série toda é perfeita: cada personagem com suas características, as relações deles entre si, cada revelação e cada acontecimento foram muito bem estrategicamente pensados. Se alguém me perguntasse quais livros eu considero perfeitos, A Saga dos Corvos estaria nessa lista com certeza.
Eu fiquei na dúvida se eu favoritava ou não a Saga dos Corvos, Incluir uma história na sua seleção de cinco estrelinhas, envolve muita coisa: a bagagem cultural de cada um, suas influências, preferências, tipos de personagens, gêneros favoritos, caracteriscas de escrita... E por aí vai! Porém depois do último volume minhas pulguinhas foram devidamente assassinadas!
Fazer resenha de um Livro que encerra uma saga não é tarefa fácil se você não deseja entregar os pontos! Mas a gente tenta não é mesmo?!
O livro anterior dessa sequência ( Lírio Azul, Azul Lírio) deixou muito a sensação de que o término de todo esse nó estava bem próximo, não só pra nós leitores como também para os próprios personagens... E com ele vinha acompanhado a provável morte do Gansey.
O livro se inicia com as mulheres da Rua Fox, 300, reunindo suas cartas para analisar se eles possuíam alguma opção pra salvar a vida do nosso querido personagem.
O resultado não foi muito animador, o que só deixou Todos com os nervos a flor da pele.
Em Lírio Azul a questão de despertar o adormecido certo sempre foi muito presente, mas em O Rei Corvo, isso não será um problema... Infelizmente!
Algo de muito sinistro está acontecendo com Cabeswater, e a missão do nosso quinteto é descobrir o quê. Henrietta está se tornando um lugar cada vez mais perigoso para se estar.
Eu senti uma mudança drástica no Gansey, ele previa sua morte, e isso fez com que ele buscasse o seu eu antes de Glendower, e tentasse assimila- lo ao eu de Agora, não pra tentar se tornar um Gansey melhor no futuro, sendo que a morte estava à beira, porém pra tentar estar completamente no presente, e tentar amar as coisas que ele mais presava por um pouco mais de tempo.
Afinal de contas "não havia tempo para brincadeiras. Só havia tempo para a verdade".
Nesse livro fica bem claro que o papel do Gansey, seja qual for, é muito importante apesar de ele não ser os olhos e ouvidos de Cabeswater, uma bateria ambulante ou o Greywaren.
O Gansey nunca ligou muito pra a morte, desde que ele realizasse sua missão, que era o motivo dele estar vivo, ele meio que aceitou seu destino. Porém, nesse livro, ele nem se foi ainda, e já sente falta das coisas que ele, como Richard Gansey III, poderia fazer. Nessa jornada louca em busca de Glendower, ele se perdeu e nem sabe mais quem ele próprio é.
Passou tanto tempo mergulhado nessa procura sem fim, que até se questiona o real motivo dele estar ali e estar fazendo o que está fazendo. Provavelmente a razão disso seja porque seu coração não pertence mais a ele mesmo.
A gente costuma ver muito disso nos livros: um personagem numa jornada, que de tanto procurar sem sucesso, se deixa abater pelo cansaço e acaba se perdendo.
Isso é um ponto que eu gosto muito, ver a humanidade dos personagens totalmente exposta, e o quanto eles crescem em cima disso.
A Blue só nos encanta ainda mais com cada revelação acerca dela, o desfecho que ela teve foi literalmente mágico que eu não esperava, o que só tornou a persona dela ainda mais bela.
O Adam mudou bastante nesse volume ( assim como todos eles na verdade), e sofreu um bocado também, mas ele teve o fim que tinha que ter tido, e conseguiu realizar o que ele desejava pra si, se encontrou realmente.
Em relação ao Ronan, nosso sonhador, a trajetória dele foi magnífica. Ele se transformou de dentro pra fora. Se dobrou de dentro de si próprio, revelando a constelação e a fumaça de que é feito.
Um personagem excepcional e inesquecível.
Eu não sei nem como explicar o que eu senti em relação ao Adam e ao Ronan nesse volume. Porque se tem uma coisa que eu adoro, é casal homossexual, e esse casal em particular é muito peculiar, eles são amantes e irmãos ao mesmo tempo e é impossível não amar ?!
Em O Rei Corvo, os sentimentos do Ronan em relação ao Adam são mais explícitos, de uma forma sutil porém ardente! Eles descobrem a existência de um Novo laço entre eles. Com mais essa pincelada acrescentada aos seus personagens, a gente vê o quanto a Maggie caprichou na construção deles, o quanto o relacionamento de todos eles foi bem colocado.
Pra mim fez todo o sentido a busca por Glendower ser composta de um grupo de pessoas em vez de somente uma. Porque são os personagens com suas trajetórias individuais que dão vida ao todo. Cada um deles é importante, cada um desempenha um papel nessa corte.
Em o Rei Corvo todos os personagens ou são resgatados ou são relembrados, e mais alguns vieram também, apenas pra esclarecer fatos do passado e acertar as contas.
O Henry Cheng, que é um personagem que já apareceu em outros momentos da trama, dá as caras também, mais pra ajudar a explicar um pedaço do nó, ele também exerce um pouco de influência sobre o nosso quinteto, mas nada muito intromissivo.
É a primeira vez que li algo nesse estilo: uma narrativa com Corvos, videntes, linhas leys, seres semimortos... Mas adorei muito! Eu pensei que a História fosse me assustar um pouco, mas não foi o que aconteceu. A cada capítulo eu era arrastada pra esse mundo e essa mitologia.
Eu fiquei bastante satisfeita com o fim da Saga dos Corvos, acho que foi um fim que eu já esperava tanto que não foi um baque tão grande pra mim. A autora já deu pistas de como seria mais ou menos, então foi bem tranquilo.
Porém sempre tem um " mas" por trás de tudo, e o meu "mas" foram as pontas soltas que ficaram, muitas questões sem respostas. Não foi tudo aquilo que eu pensei que seria, admito, mas meu espírito de leitora não ficou decepcionado.
A Maggie Stiefvater tem o dom de instigar a nossa curiosidade e imaginação, ela nunca descreve as cenas com cem por cento de realidade, ela coloca algumas peças e cabe a nós completar a imagem na nossa cabeça, ela faz o mesmo com os sentimentos dos personagens, eu acho a escrita dela incrível!
E o livro se inicia de uma forma calma digamos assim, e ela vai soltando os fatos/pistas aos poucos, e quando você percebe o plost twist já tá ali acontecendo sorrateiramente!
É isso que eu tenho pra falar a respeito da Saga dos Corvos, mas nada do que eu disse aqui será verídico se você não sentir essas sensações por si proprio.
Eu acredito que um livro tem sim o poder de mudar uma pessoa, qualquer que seja o gênero ao qual ele pertença, e se tem algo que eu aprendi com a Saga dos Corvos é que somos capazes de qualquer coisa e que fazemos parte de algo muito maior
Amei profundamente cada detalhe dessa série e já estou sentindo falta desse Universo!