Laryssa Rosendo 18/02/2019Foi a primeira graphic novela que eu li. No início achei estranho, pois diferente dos quadrinhos que seguem em ordem cronológica, este tem uma apresentação não linear, que muitas vezes parece que estamos dentro da cabeça da própria autora, dada a confusão.
É um livro denso, que exige determinadas pausas para assimilar absurdos que acabamos vivenciando até hoje e é um texto que pode conter gatilhos pra vítimas de violência sexual.
O livro é uma autobiografia da autora que com 12 anos, na década de 70, em Yorkshire, sofre o seu primeiro abuso sexual, convivendo com o sentimento de culpa até a vida adulta. Em paralelo, ela relata o caso de um assassino em série de mulheres que aterrorizou o local, neste mesmo período, matando mais de dez mulheres com um martelo (13, pra ser exata), só sendo preso 32 anos depois, após ter sido interrogado pela polícia 9 vezes. As autoridades públicas inicialmente foram negligentes, pq o assassino só matava prostitutas e mulheres de reputação duvidosa - que saiam a noite, bebiam, eram 'fogosas'.
Esse relato nos grita a necessidade que a sociedade tem de tratar as questões de gênero e a cultura do estupro, descrevendo também ações cotidianas misoginas que vemos ocorrer até hoje. Abordando, principalmente, o quanto temos que estimular o diálogo e as denúncias para que as vítimas possam sobreviver a tudo isso.
Ao mesmo tempo que é devastador, no fim, é um afago na alma saber que nos, mulheres, não estamos sozinhas e estamos criando uma rede de apoio mútuo forte o suficiente para que nunca mais nos calemos.