O olho mais azul

O olho mais azul Toni Morrison




Resenhas - O olho mais azul


851 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Alê | @alexandrejjr 26/03/2021

O trágico ato de existir para resistir

A literatura competente não tem barreiras nem limites para acontecer, além de subverter regras pré-estabelecidas. E aqui temos uma joia que se encaixa perfeitamente nessa linha de definição, pois “O olho mais azul” é uma rara peça de arte.

Toni Morrison é uma figura singular. Primeira e única mulher negra a ganhar o Nobel de Literatura, pelo menos até o momento em que esta resenha vem ao mundo, Morrison, que infelizmente faleceu em 2019, foi “a” intelectual estadunidense dos últimos anos. E fica fácil perceber o porquê depois de ler esse livro.

É importante contextualizar o momento de lançamento de “O olho mais azul”. O ano é 1970. Os Estados Unidos tinham perdido, apenas dois anos antes, o grande ícone do movimento pelos direitos civis, o doutor Martin Luther King Jr.. É nesse contexto em mente, de um país que àquela época estava fervilhando em suas desigualdades sócio-raciais, que o livro cresce, pois ao olhar para trás e contar uma história que se desenrola logo após o fim da Grande Depressão, Morrison faz uma sólida reflexão sobre a condição dos negros estadunidenses.

Em “O olho mais azul”, Toni Morrison oferece a seus leitores uma minuciosa investigação dessa experiência negra na América, em particular da mulher negra e pobre nos Estados Unidos. Com uma narrativa fragmentada extremamente oral e, em momentos chaves, visceral, a autora desnuda a invisibilidade que persiste na mais covarde das violências, o racismo. Não há espaço para inocentes no mundo, irá concluir Morrison. No entanto, é na resistência e dentro da representação literária que ela irá dar voz a experiências e identidades que, antes dela, pertenciam a uma posição marginalizada dentro da literatura.

Durante a leitura, em um ponto chave do romance, eu tive um choque. E nesse choque tive certeza de que eu não estava lendo um livro qualquer. É nesse momento, também, que comecei a fazer associações com outras artes, no caso o cinema, ao comparar o que lia com cenas de dois filmes importantíssimos sobre o tema racismo: “No calor da noite” e “Mississipi em chamas”. Ali, nesse ponto, o jogo de espelhos de Morrison é magistral.

E há uma personagem inesquecível, claro. É através de Pecola, personagem chave do romance, que mora o calcanhar de Aquiles dos leitores. Ela é apenas uma menina negra que deseja olhos azuis, mas por trás desse desejo há muita dor e sofrimento. Ela deseja olhos azuis porque sofre discriminação de raça, gênero e classe. Deseja olhos azuis porque é abusada por negros e brancos, e sofre dos primeiros um abuso físico e psicológico (vejam que escolha dolorosamente interessante!!). É do ódio, portanto, que se constrói a sua personalidade. É no estigma que carrega, de não compreender a complexa realidade e valores de uma ideologia dominante, que Pecola sofre. E nós sofremos juntos através desse sentimento que cabe tão bem à literatura chamado empatia, tão em falta na sociedade ontem, hoje e sempre.

Leia, releia, reflita, discuta e indique “O olho mais azul”. E isso se torna obrigatório se você está situado, quer você queira ou não, no lado opressor da nossa sociedade - como é o meu caso. Somente assim é possível aproveitar ao máximo o livro, pois o mundo - em especial o mundo branco - não terá a oportunidade de experimentar uma obra dessa magnitude outra vez. Ou talvez não seja preciso: livros como esse são definitivos, sobrevivem às imperfeições do tempo e recusam imitações mal formuladas.
Carolina.Gomes 26/03/2021minha estante
Depois dessa resenha, terei q ler. Bravo!


Kamyla.Maciel 26/03/2021minha estante
Resenha impecável. Me fez relembrar tudo que senti ao ler o livro.


Débora 27/03/2021minha estante
Que resenha primorosa, Alê!???


Vitória Marcone 27/03/2021minha estante
Excelente resenha! Sofri muito com a leitura desse livro e ele se tornou um dos meus favoritos ?


Gabi Gomes 27/03/2021minha estante
Gostei tanto da sua resenha que deu vontade de ler dnv esse livro ?


Alê | @alexandrejjr 27/03/2021minha estante
Carolina, Kamyla, Débora, Vitória e Gabriela: obrigado pelos elogios e por perderem tempo lendo essa resenha gigantesca. Achei esse livro fenomenal e fico feliz que outras pessoas pretendam compartilhar - ou já compartilharam - desse sentimento. ?


Brenda.Podanosqui 29/03/2021minha estante
Resenha incrível. Qdo terminar a leitura do livro volto aqui pra reler sua resenha. Perfeita sua análise!!


Alê | @alexandrejjr 29/03/2021minha estante
Agradeço o carinho, Brenda! E fico feliz que esteja lendo o livro.


Valscabral 18/04/2021minha estante
Magnífica resenha. Tenho o livro comprei numa assinatura da TAG mas confesso que ainda não li. Mas depois desse resenha, não posso adiar essa leitura.


Paula 18/04/2021minha estante
Eu amei este livro.


Alê | @alexandrejjr 18/04/2021minha estante
Obrigado, Val, vale a pena dar atenção a esse livro. E Paula, é um livro incrível, né?!


flapicolo 24/04/2021minha estante
Depois dessa resenha, vou antecipar esse livro na minha lista de prioridades!


Alê | @alexandrejjr 24/04/2021minha estante
Não vai se arrepender, Flavia! ?


Kenyafdn 13/10/2021minha estante
Pronto! Me convenceu! Rsrs .. Já baixei no Kindle .. rsrs


Alê | @alexandrejjr 16/10/2021minha estante
Espero que goste, Kenya! Não é uma leitura fácil em vários aspectos, mas é um livro importantíssimo para entendermos questões prementes do nosso tempo.


Suellen.Carolino 31/03/2022minha estante
Resenha espetacular! Senti tudo isso e um pouco mais ao ler esse livro. Realmente fabuloso, marcante e infelizmente real.


Luana1208 18/05/2023minha estante
Adorei a resenha, incrível sua contextualização e a provocação final! Amo pessoas que escrevem resenhas grandes como as minhas, como faz pra falar pouco sobre livros que causam tanto na gente? kkk Estou começando a ler O olho mais azul e sua resenha me deixou mais animada com a leitura!


Alê | @alexandrejjr 25/05/2023minha estante
Luana, agradeço a leitura e o comentário! E, não respondendo à tua pergunta, não sei dizer como fazer resenhas sucintas. Sinto que quando quero escrever sobre um livro eu preciso deixar que as palavras saiam, sabe? Faz algum sentido? Ainda mais que não é ficção e exige, em algum grau, uma análise ? o que consequentemente pede por mais linhas! Espero que a leitura desse livro tenha te marcado tanto quanto a mim.


Leticia 28/05/2023minha estante
Que bom ler um comentário seu sobre um livro que estou lendo ???




Rosangela Max 13/09/2022

Uma forma única para falar sobre o racismo ?enraizado?.
A escrita da autora é maravilhosa! As vezes poética, as vezes debochada, mas sempre sensível e inteligente. E também corajosa, considerando a época em que foi escrita.
Achei interessante desenvolver o enredo de forma não linear para mostrar o por quê certos personagens são da forma que são e agem da forma que agem.
Todos os personagens, de uma forma ou de outra e em menor ou maior grau, tiveram seu momento de protagonismo.
Adorei a maneira como cada fase da história foi construída.
Os livros de autoria da Toni Morrison sempre valem a pena.
Super recomendo.
Beka 14/09/2022minha estante
Parece ótimo




Victor Dantas 14/09/2020

O arco-íris não é só azul.
“O Olho mais Azul” foi a estreia da escritora Toni Morrison, ganhadora do Nobel de Literatura, sendo a primeira mulher negra e a única até então, a conquistar tal feito.

A obra vai contar a história de uma garota chamada Pecola, que vive em Ohio nos EUA com seus pais, os Breedlove.

Assim como toda criança, a Pecola possui sonhos, ou melhor, um sonho.
No entanto, diferentemente dos sonhos que estamos acostumados a criar na infância (que quase sempre gira em torno de “o que vou ser quando crescer”), o sonho de Pecola é ter olhos azuis. Os mais azuis de todos.

A Pecola é uma criança negra.

Como você deve imaginar, o sonho de Pecola não foi criado espontaneamente, teve influências externas: a hegemonia cultural branca e o racismo. Tais fenômenos não passam de dispositivos de violência e opressão, que negam e anulam o diferente .

"Se ela era bonita - e se havia uma coisa em que acreditar que ela era -, então nós não éramos. E o que isso significava? Éramos inferiores. Mais simpáticas, mais inteligentes, mas, ainda assim, inferiores" (p.78).

Esse é o principal conflito da obra, onde a autora cria todo um enredo em torno dessa questão, e no final, compreendemos que o objetivo dela, é fazer uma denúncia contra a violência (em suas distintas expressões) praticada com o ser mais vulnerável da nossa sociedade: a criança.

A história é dividida em quatro partes, de acordo com as estações: outono, inverno, primavera e verão.

Apesar de ser a história de vida da Pecola, a narrativa se estrutura não só pelo seu ponto de vista, mas de outras pessoas, onde cada uma possui vínculo direto com a protagonista.
Portanto, cabe ressaltar que a narrativa da autora não é linear, é quebrada, onde muita das vezes temos mais de um narrador em um mesmo capítulo, isso pode dificultar no início, mas aos poucos, você identifica quem é quem, quanto a escrita, é de fácil acesso.

O ponto de vista que mais é presente na obra é o de duas garotas da idade de Pecola, a Claudia e sua irmã, Frieda. A partir da visão delas, vemos as situações quais a Pecola enfrenta diariamente, o bullyng e o racismo na escola, no bairro, a violência doméstica, tanto verbal, quanto física.

Outras questões também são criticadas implícita e explicitamente, como o papel da mulher na sociedade, a maternidade e paternidade, e, a sexualidade na infância.

Por fim, temos um quadro que vai sendo pintado aos poucos ao longo das situações que vão ocorrendo, e que é finalizado da forma mais bruta e cruel possível.

Alerta-GATILHO: Existe cena de abuso sexual; incesto.

Apesar de tal ato não ser justificável, repugnante, no contexto da obra, a cena representa uma consequência, um efeito colateral de um sistema que adota um modelo de família padrão e concede a ela todos os direitos possíveis (educação, cultura, emprego, habitação) , ao passo que muitas outras ficam na sombra desta. A tragédia é estrutural.

Minhas considerações sobre a obra:

Tendo em vista as questões que o livro aborda, como foi mencionado acima, na minha opinião, a obra em si, não foi para trazer respostas a essas questões, mas, problematizar e elaborar outros questionamentos em cima destas.

O que nos torna belo?
Belo segundo quem? Eu ou o outro?

É perceptível que a Pecola não só representa a comunidade negra, mas todos os grupos sociais que fazem parte da minoria, que são marginalizados e invisibilizados diariamente, em qualquer contexto (casa, escola, trabalho, universidade, bairro), e por qualquer dispositivo de controle (família, amigos, igreja, Estado, cinema, mídia).

O sonho da Pecola em ter os olhos azuis, possui a mesma expressão que o sonho d@ garot@ gordo (a) querer ser magro (a), d@ garot@ de cabelo crespo que quer ter o cabelo liso, do garoto efeminado que quer se tornar masculino, da garota masculinizada que quer se tornar feminina, do garot@ gay que tenta reprimir seus desejos, sua identidade e cria uma persona heterossexual.

O que une todos esses casos é o seguinte: a negação do EU.
A opressão ao diferente.

E para mim, foi isso que levou a Toni Morrison a escrever o livro, para nos alertarmos sobre o quanto estamos sendo nós mesmos, o quanto estamos vivendo a nossa vida, a minha vida... o quanto estamos sendo EU, e não o outro.
Tami 05/10/2020minha estante
Eu li esse livro no início do ano, amei e odiei ao mesmo tempo.


Myrelle.Paiva 14/11/2020minha estante
Excelente ??




Henrique Sanches 23/08/2023

Uma história necessária!!!
"Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo".


A frase acima é da escritora Toni Morrison e eu sempre fiquei intrigado com isso e quis conhecer mais sobre a obra dela.


Se vocês não sabem, a Morrison é autora de romances, contos e outros textos.


E seu trabalho mais conhecido é exatamente este que eu li, o romance "O olho mais azul", de 1970.


O livro conta a história de uma menina negra que sonha com uma beleza diferente da sua, e é uma história muito tocante que fala sobre identidade, identificação, preconceito e muito mais.


Recomendo!!! Boas leituras!!!
comentários(0)comente



Bookster Pedro Pacifico 03/01/2020

O olho mais azul, de Toni Morrison - Nota 9,5/10
A literatura é uma poderosa ferramenta de empatia. Ela nos permite enxergar situações corriqueiras a partir de perspectivas que são totalmente estranhas à nossa realidade e que nunca teríamos acesso se não fosse por meio dos livros. E terminar a leitura dessa obra apenas confirma esse seu papel.

Em pouco mais de 200 páginas, Toni Morrison consegue apresentar para o leitor como é crescer em uma sociedade em que as referências e os padrões do que é certo e bonito estão longe do que você é. Pecola Breedlove, uma garota negra nascida nos Estados Unidos da década de 40, sonha em ter olhos azuis. Pede a Deus todos os dias para que seus olhos se transformem em azuis. Para Pecola, quem sabe dessa forma as pessoas passariam a notá-la um pouco mais, passariam a aceitá-la. É um pequeno desejo de uma criança que carrega consigo inúmeros problemas históricos e sociais.

Mas além de ser vítima de um racismo estrutural, que cria na garota uma recorrente necessidade de aceitação, a vida de Pecola também vai encontrar barreiras em situações de machismo, abuso sexual (há passagens com gatilhos sobre o tema), relações familiares e muita violência, sobretudo psicológica.

Tudo isso acontece no cerne de uma família problemática, que, infelizmente, não parece indicar um cenário incomum: o pai de Pecola é alcoólatra e bate na esposa; sua mãe vive em função de cuidar da casa de uma família branca para quem trabalha como empregada doméstica; e seu irmão faz de tudo para conseguir fugir dos seus problemas. É uma família moldada por engrenagens de um sistema que funciona sempre da mesma forma. E apesar dos temas duros e sensíveis que atinge, a autora escreve de uma forma tranquila e com toques poéticos. Em seu primeiro romance, a primeira - e única - mulher negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura nos faz refletir muito. Toni Morrison incomoda o leitor atento, deixando sua marca permanente.

site: https://www.instagram.com/book.ster/?hl=pt-br
Anacarol__oliveira 22/09/2020minha estante
Eu li esse livro por sua dica e é um livro muito dolorido. Pecola sofreu muito na sua vida e vemos q não é só na ficção q essa história se repete. Adorei esse livro


Becca 29/09/2020minha estante
Uma das melhores coisas que já li. Quero ler tudo que Toni morrison escreveu. Hahahaha




Rafa 05/07/2020

Precioso
O livro é uma excelente ferramenta de reflexão sobre o cerne de questões pontuais: raça, classe e gênero.
Nesse sentido, a autora trata o racismo de forma magistral e genuína, principalmente quando compõe a perspectiva da vítima.
comentários(0)comente



joaoggur 10/03/2024

Convite à misantropia.
O protagonista deste livro, em contraste as comuns sinopses, não pode ser resumido a um só indivíduo; contando tristes histórias de vida, Toni Morrison retrata os percalços de pessoas negras em um estados-unidos entreguerras.

Mesclando da linguagem oral até a cacofonia de vozes narrativas, os sofrimentos de um povo marginalizado é canalizado nas irmas Claudia e Frieda, na vizinha Pecola Breedlove e sua desajustada família, e em muitos outros personagens que, por vezes, tangenciam a narrativa inicialmente exposta.

A dificuldade da leitura é diversa, - primeiro, sem dúvida, pela gráfica violência exposta. Ha estupro, violência de todas as estirpes e tudo que pode nos dar ódio ao nosso semelhante. Segundo, e menos falado, é como a dissonância de vozes nos deixa inebriados, confusos no quem-é-quem; creio, particularmente, que esta cacofonia é o retrato dos gritos de luta racial, que muitas vezes se confundem em um certo hinário de dor. As narrações, por vezes concretas e por outras misteriosas, nos fazem refletir como ?qualquer? negro pode narrar a vida ?de outro qualquer?; a melanina, infelizmente, não é o único traço de semelhança. As cicatrizes são comuns.

A magia do livro mora na poética da prosa, - em como as passagens de tenebrosos momentos são desenvolvidas com uma delicada beleza, que nos toca e, mesmo não nos apaziguando, consegue fazer-nos sentir o comodismo e banalidade que a discriminação erroneamente recebe. A escritora é minuciosa nas palavras, cirúrgica nas analogias, criando poesias oriundas dos mais terríveis submundos, e, principalmente, conseguindo incutir tudo que lemos permanentemente em nosso cérebro.

Uma leitura pesadíssima, que infelizmente ainda permanece atual. Vale a leitura, - para os fortes. Você não quererá terminar; todo o suplício de Pecola (e tantos outros inomináveis) irá se transpor ao leitor. Abrir os olhos sempre é doloroso.
Nina 12/03/2024minha estante
Livros dolorosos são os mais necessários.




readwithjuly 15/04/2022

"eu quero que eles sejam azuis".
primeiro romance escrito de toni morisson e meu deus, esse livro pode ser facilmente o equivalente e levar duas rasteiras.

sem nenhum filtro a autora expõe e leva o leitor a questionar como o racismo e machismo atingiu e vitimou não só a protagonista do livro, mas também outros que vivem ao redor da mesma.

a maestria da escrita mostra detalhadamente em 216 páginas todo ciclo de violência racial intrínseco da sociedade.

definitivamente não é um livro para todes, recomendo olhar os gatilhos antes da leitura, mas tenha certeza que esse livro vai te incomodar e trazer diversos questionamentos.
JurúMontalvao 15/04/2022minha estante
pretendo ler




Thaís | @analiseliteraria 15/06/2020

Leitura necessária, dolorosa e poética...
O olho mais azul foi publicado pela primeira vez em 1965, quando foi praticamente ignorado. A reedição foi publicada em 1993, ano em que Toni Morrison ganhou o prêmio Nobel de literatura, sendo a primeira mulher negra a ser contemplada. A escrita de Morrison é ao mesmo tempo dolorosa e poética, a dor fica latente, a tristeza fica impregnada. Um livro sobre o racismo, a pobreza, a violência, os abusos e o corpo negro como um espaço de lutas. Ademais, como a própria autora pontua, é um livro não para que você sinta pena dos personagens, mas para questionar sobre o esmagamento que eles sofrem.
Ainda na infância, uma amiga disse à Morrison que gostaria de ter olhos azuis, Morrison não sabia como ela poderia querer algo assim. Muitos anos depois, nasce essa obra. A história é contada por vários narradores diferentes, todos eles têm em comum uma criança, Pecola Breedlove. Em uma época que o padrão de beleza trazia como rosto a atriz-mirim Shirley Temple, Pecola é sempre dita pelos outros como uma criança feia, algo que ela internalizou e tomou como verdade. Na esperança que as pessoas possam gostar mais dela, ela reza todos os dias pedindo um milagre a Deus, quer ter olhos azuis. Ela vive em uma família desestruturada, com uma mãe que a espanca, mas trata com demasiado carinho a filha da família branca para qual trabalha. O pai é um alcoólatra, bate na mulher e estupra a própria filha. O irmão constantemente foge de casa. Uma vida de agressão física e social, capaz de desintegrar um sujeito.
Claudia, também uma criança (e um alter ego de Morrison), não entende porque tanta admiração pelas pessoas brancas, logo, ela destrói as bonecas "angelicais", como se estivesse destruindo a própria branquitude. Cheia de inteligência e questionamentos, ela sabe que a coisa perigosa a temer não é as outras crianças brancas, mas todo o sistema que torna as brancas bonitas e as negras não.
Um livro doloroso sobre raça, gênero e classe. Dito pela própria Toni Morrison: "Porque eu sei (e o leitor não, pois tem que esperar a segunda sentença) que esta é uma história terrível sobre coisas que se preferia ignorar completamente".

site: @analiseliteraria
comentários(0)comente



Pedro Sucupira 18/02/2021

2021 LIVRO 11 - O Olho Mais Azul, Toni Morrison.
O Olho mais azul é uma daquelas obras que faz você desejar que todos os seus amigos e conhecidos tenham contato; sintam o mesmo que você sentiu. Você só pensa em falar sobre ela e nada mais. Quando terminei a leitura procurei amigos que já tinham lido para podermos discutir, debater e exaltar um dos livros mais impactantes que já li. Entrou para minha lista de favoritos.

Publicado em 1970, O Olho mais azul foi escrito entre 1965-69 por Toni Morrison, a primeira escritora negra a receber o Nobel de Literatura. A história se passa na década de 1940, porém é como se estivéssemos lendo um relato de 2021. Não importa o ano, esse livro se encaixará perfeitamente a qualquer momento conferindo uma das características mais marcantes das obras de Morrison, a atemporalidade.

A protagonista, Pecola Breedlove, é uma criança negligenciada, agredida e abusada física e psicologicamente pelos adultos, incluindo os pais, e por outras crianças por conta da cor muito escura de sua pele e do cabelo muito crespo. A vida muito maltratada leva Pecola a acreditar que ter os olhos azuis como as mulheres brancas lhe trará a paz que ela tanto anseia.

Esse é um dos romances mais tristes que já li. O caso extremo que é a vida de Pecola, uma criança negra totalmente devastada, gera em nós um sentimento extremo de compaixão. De início é comum o leitor ser induzido ao consolo de sentir pena por Pecola, mas com o discorrer da leitura cada capítulo nos instiga a questionar, refletir sobre os temas abordados. Impossível ler O Olho mais azul e ao final não questionarmos os padrões de beleza imposta às jovens, o racismo estrutural e mais intensamente o lugar que a mulher negra ocupa na escala social, o mais baixo de todos.

O Olho mais azul é um livro intenso, fácil e rápido de ler, mesmo abordando de forma tão profunda temas como raça, gênero e classe social. Não deve ser julgado como relevante somente por causa das questões sociais sobre as quais disserta, reduzido apenas à esfera política, mas deve e muito ser também valorizado por causa de sua estética. A forma como Toni Morrison introduz cada personagem na trama é simplesmente surreal. Em poucas páginas Morrison consegue fazer o leitor compreender e se simpatizar com a história de vida de qualquer personagem antes de nos mostrar o porquê aquele personagem foi incluído ali.

Com uma linguagem clara e objetiva, em momento algum eu me senti entediado ou com a sensação de que a leitura era arrastada. Nada presente nessa obra pode ser considerado irrelevante; cada parágrafo, cada capítulo, cada frase é essencial e ocupa perfeitamente seu lugar na trama.

Publicado originalmente em pedrosucupira.com
Nath 18/02/2021minha estante
É isso!!! O tipo de livro que você pensa ?O MUNDO PRECISA LER?


Pedro Sucupira 18/02/2021minha estante
Isso mesmo Nath. O mundo precisa LER e RELER essa obra MARAVILHOSA.


Vanessa.Cristina 18/02/2021minha estante
Ótima resenha! Já vai para minha lista.


Clarissa 19/02/2021minha estante
Olá, Pedro! Tudo bem? Eu tenho esse livro na edição da TAG. Agora depois de ler tua resenha, será prioridade de leitura. Abraço.




Raquel.Cesare 20/01/2024

"O Olho Mais Azul" de Toni Morrison é uma obra poderosa que mergulha nas sombras do racismo e dos abusos, oferecendo uma narrativa corajosa e comovente. A autora desafia o leitor a refletir sobre as feridas profundas causadas pelo preconceito e pela crueldade, enquanto destaca a resiliência da protagonista em meio às adversidades. Morrison tece uma história visceral, repleta de nuances e complexidades, que não apenas informa, mas também instiga reflexões sobre as complexidades da sociedade. Uma leitura essencial que transcende as páginas e deixa uma marca duradoura na consciência do leitor.
comentários(0)comente



Leandro190 13/02/2023

Condenados
Recentemente li o Torto Arado (Brasil) e Meio Sol Amarelo (Nigéria) e agora li o O Olho Mais Azul (EUA) e, embora seja uma obviedade, preciso dizer o quanto o contato com as desigualdades e o preconceito são chocantes. É muito difícil pra mim elaborar respostas ou explicações possíveis para que um ser humano submeta o outro a uma vida menor, mais pobre, violenta e completamente sem esperanças. E vejam que essas obras trazem estórias de épocas distintas, em países distintos, com tipos distintos de segregação, mas em todos a crueldade é extrema. Continuarei a ler livros assim, não para buscar explicações, mas para sempre ter em mente que precisamos reconstruir nossas estruturas sociais sobre bases inclusivas e justas e que prezem neste momento pela equidade.
comentários(0)comente



Maria17758 28/05/2023

Nem se eu tentasse muito eu conseguiria colocar em palavras tudo o que esse livro e a escrita da Toni Morrison são. Devastador, de partir do coração. Inteligente e perspicaz em níveis astronômicos. Ler ?O olho mais azul? e ler Toni é não ter como voltar atrás, é ter a vida mudada de maneira permanente (quer dizer, COMO superar a o dom de escrita dessa mulher???).

A história do livro é muito pesada (você descobre o baque que vai ser já nas primeiras páginas). Isso só se potencializa pelo modo como a autora explora as nuances do racismo, de como a lavagem cerebral decorrente dele afeta a população preta (como ela ocorre até mesmo dentro da própria família e exerce influência na criança desde a infância) e do ciclo violência geracional, tudo isso culminando nas consequências mais dolorosas possíveis. O último parágrafo do livro sintetiza tudo, e já advirto que ele DÓI.

Por fim, volto a dizer que estou encantada com a habilidade da Toni para fazer tudo isso acontecer da melhor maneira possível. (P.s: e o mais engraçado é que o último capítulo do livro é um comentário dela de muitos anos após a primeira publicação, em que ela se mostra insatisfeita com alguns pontos da execução do livro e aponta que não foi capaz de expressar tudo do modo como ela queria, sendo que essa é uma das melhores escritas que eu já li na vida!)
comentários(0)comente



Adriana 19/05/2022

O Olho Mais Azul - Forte, Impactante e Triste
Tive dificuldade de ler este livro. Ainda q relativamente curto, sua leitura demandou um longo tempo. Talvez por sua narrativa não linear (fragmentada) por vezes me deixou confusa (preciso reler).
Possui gatilhos para abuso sexual. Aborda temas necessários como racismo e auto aceitação.
Leitura necessária.
comentários(0)comente



851 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR