Thiago Duarte 15/06/2024
Antropofagia reversa da carne de gaivota
Jantar Secreto é o livro que arrepia a espinha por ir de encontro ao senso comum. Nessa bizarra história, conhecemos quatro amigos que saem de uma cidadezinha do Paraná para iniciarem os estudos em universidades no Rio de Janeiro. Hospedados em Copacabana, eles se veem desesperados com o aluguel vencido e a frustração de não conseguirem arranjar emprego em suas devidas áreas depois de formados. Em meio as decepções de tudo que almejaram, um deles tem a ideia de fazer jantares secretos no apartamento para que consigam algum tipo de renda.
Entretanto, o que era para ser um simples jantar, se torna estranho quando um deles tem a brilhante ideia de servir um prato exótico: carne de gaivota. Tal feito enche os olhos de ricaços excêntricos que pagarão qualquer quantia para saborear a iguaria. É então que se revela uma enxurrada de mentiras, crimes e mortes que nossos protagonistas terão que guardar a sete chaves e tentar manter neutralidade para que não sejam descobertos.
Eu fiz essa leitura com uma amiga e chegamos ao possível simbolismo do que acontece quando as personagens comem a carne de gaivota. Ao término da leitura, chamei de antropofagia reversa essa simbologia a qual discutimos durante todo o livro. Acontece que essa iguaria exótica é tratada como viciante, ou seja, desde o momento que qualquer um dá a primeira garfada, será como se o indivíduo passasse a ser escravo desse alimento, sentindo a necessidade de consumir sempre que possível. Esse esse vício acarretará ao consumidor problemas com drogas, gula, soberba. Dessa forma, assistimos a degradação da vida desses indivíduos os quais passarão a não ser mais humanos, mas sim selvagens que estarão dispostos a infringir o senso comum para saborear a tal carne.