O fim do homem soviético

O fim do homem soviético Svetlana Aleksiévitch




Resenhas - O Fim do Homem Soviético


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Rebeca.Verino 24/06/2021

A escrita da Svetlana é um imã
Os livros da Svetlana tem uma sensibilidade gigantesca para falar de temas delicados: segunda guerra mundial, guerra no Afeganistão, Chernobyl, e, agora, o fim da União Soviética. Por meio das testemunhas a autora vai criando para o leitor toda a visão do final de uma era. A União Soviética parecia que não teria fim até o início dos anos 80 e para muitos que viveram a vida inteira nessa realidade, a queda foi traumática. Já para outros, foi um milagre muito esperado. Gostei muito da leitura!
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Wamosysoares 16/06/2021

O livro trata da vida das pessoas inseridas no contexto pós soviético. Como se tratam de relatos, escolhidos e transmitidos praticamente ao pé da letra pela autora, é possível a proximidade com os fatos e as sensações, além de se poder tirar as próprias conclusões. Recomendo.
Mari 16/06/2021minha estante
Essa autora é sensacional!




Carla.Zuqueti 25/05/2021

Brilhante
?Nossos pais venderam um país grandioso por um par de jeans, um pacote de Marlboro e um chiclete.?

Em dezembro de 1991, o então líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Mikhail Gorbatchev renuncia seu cargo e da fim à URSS.

O comunismo é expulso da Rússia e o país se abre para vieses capitalistas: mercado, demanda e oferta.

Em mais um livro bárbaro, a autora Svetlana Aleksievitch fala com o povo. Com as pessoas comuns desses países que formaram a URSS, sobre como foi a ruptura entre o modo de vida e como conseguiram passar pela transição do comunismo.

O que vemos é que a transição e abertura da URSS foi bem conturbada no que tange a população. Grande parte dos russos sentiram-se perdidos, ficaram sem empregos e enfrentaram a miséria. Muitos ex heróis de guerra se viram mendigando pelas ruas. Engenheiros trabalhando como motoristas de táxis e intelectuais fazendo faxina para capitalistas.

?No final o socialismo era bom. Não tinha ninguém excessivamente rico ou pobre. Nem mendigos nem meninos de rua. Os velhos conseguiam viver com suas aposentadorias não precisavam catar garrafa na rua.?

A história da URSS é uma história de luta. Havia o conflito claro entre gerações. Os mais velhos saudosos do antigo regime, onde a profissão era valorizada, a cultura, a literatura russa. E a nova geração tem a expectativa capitalista de fazer dinheiro fácil, principalmente com escambo e exploração do trabalho assalariado, o que para o russo antigo não é bem visto.

?O capitalismo não se adapta a nos. O espírito do capitalismo é estranho para nós. Além de Moscou, ele não conseguiu se espalhar.?

?O Russo não é racional...
Ele é espontâneo, ele mais contempla do que age, é capaz de se contentar com pouco. A acumulação não é o ideal dele, acumular para ele é chato. Nele é muito aguçado o senso de justiça.?

?Mas o povo russo também não quer só viver, ele quer viver por alguma coisa. Quer participar de uma causa grandiosa. Aqui é mais provável encontrar um santo do que um homem honesto bem sucedido. Leia os clássicos russos... ?

Apesar de focar na Rússia, o livro também mostra a transição sob o ponto de vista de outros países soviéticos, como a Bielorrússia, Armenia, entre outros.

É um livro incrível para perceber a URSS do ponto de vista do soviético comum, sem inferências sobre o que pensamos ou achamos.

Livro bem pesado, mas brilhante!
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M. Machado 16/05/2021

Maravilhoso!
Todos os livros de Svetlana Alexijevich me tocam. Adoro o formato de sua escrita. Sobre este livro em específico, fiquei extremamente tocada com cada relato e com a minha própria ignorância... nós ocidentais achamos que sabemos tudo sobre tudo, que conhecemos as mazelas do mundo, mas não temos noção do que era viver na URSS. Leitura imprescindível!!!
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Bianca 24/04/2021

Excelente leitura
O tipo de livro que me dá vontade de estudar história soviética. A escritora entrevista dezenas de pessoas sobre a abertura soviética. O antes, o durante e o depois. Fiquei na dúvida se era uma realidade com diversas histórias ou uma história com diversas realidades. Perfeito. Contra-indicado para almas muito sensíveis.
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Leitor 17/04/2021

O fim de uma grande nação
Pior que nascer em um país insignificante, é nascer em um grande país que se torna insignificante.
São relatos que fazem a gente perceber que o fim da URSS foi um desastre para os soviéticos e para humanidade.
Expropriação, indignidade, humilhação, uma revolução as avessas que trouxe pobreza e ressentimento. Para os revolucionários de plantão, da direita à esquerda, uma leitura importante para ver que é melhor reformar conforme a sociedade avança. Destruir, passa fundamentalmente, por desestabilizar a vida do cidadão comum levando ao desespero e pavor coletivo. A revolução russa de 1917 foi um trauma, e seu fim só fez que tudo tenha sido em vão.
Os soviéticos vagam por aí, como a estação espacial internacional feita por eles. São do mundo, desde que escondam seu passado.
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Ana 29/03/2021

O que mais impressiona nos livros da Svetlana Aleksiévitch é que os acontecimentos não são análises políticas e generalizações, mas histórias de pessoas e aquilo que elas viveram, com suas perspectivas e experiências únicas.

Em “O fim do homem soviético” conhecemos dezenas de histórias de pessoas que passaram pelas mais diferentes situações durante o período da URSS. De apoiadores a críticos, presos políticos e ex-militares. Todos os personagens que tiveram alguma experiência positiva ou negativa em algum dos países que formavam o bloco estão representados no livro.

Durante a narrativa vamos passando pelos diferentes momentos do período, de sua formação até as consequências de sua dissolução. Da noite para o dia a sociedade era outra, as prioridades mudaram e, principalmente, a forma de se relacionar com o outro também não era mais a mesma.

As pessoas nascidas dentro de uma ideologia foram jogadas em uma outra diametralmente oposta sem qualquer preparo ou adaptação. Aquilo que ontem valia muito, hoje não serve para nada. O que antes era certo, agora é errado.

A forma única com com Svetlana conta a história emociona, em diversos momentos nos faz pensar os nossos valores atuais e traz uma nova interpretação para os fatos históricos, menos objetivos, eles ganham nomes e lembranças.

Sou fã da autora por diversos motivos, mas nesse livro específico a humanização dos acontecimentos ganhou destaque. Esse é um daqueles livros que nunca termina, mas é constantemente revisitado e referenciado.

site: @clube_bla
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Sebastian 03/03/2021

Múltiplas visões de desencanto
O estilo de Svetlana Aleksievitch é de colher relatos de pessoas comuns, algumas que faziam parte do Partido Comunista, outras que são familiares de presos políticos, alguns cidadãos armênios, bielorussos, e mostram o antes e o depois de uma nacionalidade e uma própria cultura. Há aqueles que dizem que os soviéticos trocaram o império por uma calça jeans. Outros refletem a esperança do povo nas ruas em 1991. Há quem se orgulhe da vitória na Segunda Guerra. Outros são povos que eram soviéticos e depois viraram estrangeiros. Conflitos étnicos. Relatam conflitos étnicos, e um pouco da cultura, do jeito de viver e pensar de 75 anos de comunismo, e um pouco do desencanto que veio depois. Vários relatos pungentes. Uma forma de conhecer um povo....
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Ana Seerig 29/01/2021

Apesar de tudo, o amor
Há muito que tinha vontade de ler os livros da Svetlana Aleksiévitch. Acabei comprando "O fim do homem soviético" por ser o de assunto mais próximo ao meu projeto de mestrado, mas tava enrolando a leitura, até um post da @suzanaveiga no @historialogos me servir de desculpa pra colocar esse calhamaço de 600 páginas na mala de veraneio aqui no RS.

Não é uma narrativa construída com a união de vários depoimentos, mas sim várias histórias individuais. Cada personagem tem seu espaço e a autora registra risadas, silêncios e lágrimas. No fim das contas é como se a gente estivesse sentado diante de cada um, dando atenção a cada história.

O livro é dividido em dois momentos: os anos de extinção da URSS e o período mais atual. Em consequência, há dois grupos de personagens: os que sobreviveram à guerra e viveram sob o governo soviético e os jovens que vêem Stálin como uma figura distante demais para ser real, mas convivem com os problemas econômicos e as guerras resultante do capitalismo.

O primeiro grupo se divide em eternos filiados ao Partido Comunista e os que acreditam que a vida está muito melhor sem o governo soviético. Já o segundo grupo traz depoimentos de cidadãos de diferentes países que sofrem com a guerra e se abrigam na Rússia, mas também de jovens que participaram de protestos e outros que foram vítimas de atentados.

O que impressiona é que a todo momento o amor é citado: o que o personagem acredita ser amor, ações movidas por amor, sofrimentos por amor. Em algum momento alguém diz que o povo russo sobrevive às suas tantas guerras por causa do amor - e talvez seja isso mesmo. A fome, as guerras e o frio são panos de fundo constantes, mas é do amor que eles falam.

site: https://www.instagram.com/anaseerig/
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Felipe Novaes 20/01/2021

Em 1984, George Orwell conta uma história que se passa na Eurásia, uma nação totalitária que vigia e dita cada aspecto da vida privada e pública de seus cidadãos. Desobedecer é crime contra o povo, contra o Estado. Desobedecer é morrer ou ir para um campo de trabalhos forçados. Só sobrevive quem consegue eclipsar sua individualidade num nível em que até mesmo os pensamentos são apenas aqueles permitidos pelo Partido. Como essas condições afetam a sanidade de quem vive sob essas condições? Elas representam um papel para sobreviver ou se tornam o personagem que interpretavam, como numa espécie de síndrome de Estocolmo, ficando do lado de quem as mantêm cativas?

O livro 1984 foi inspirado na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a primeira encarnação do socialismo marxista. Em O novo homem soviético, a jornalista Svetlana Aleksiévitch entrevista diversas pessoas, como trabalhadores da cidade e do campo, assim como ex-membros do Partido Comunista que viveram sob o regime.

O resultado não é uma crítica historiográfica ou econômica à URSS, mas os 50 tons de cinza que compõem as diferentes opiniões das pessoas que viveram lá. As considerações são tão variadas quanto as que teríamos ao perguntar a brasileiros de diferentes gerações o que acharam dos anos de ditadura militar por aqui. Ia ter gente cantando jingles e dizendo “ah, como era bom”, se referindo ao patriotismo, e também gente falando de torturas e repressão. Mas o caso soviético é bem mais interessante porque o que aconteceu lá durante os 70 anos de marxismo-leninismo tinha sido inédito até então, acabando por servir de modelo para todos os totalitarismos posteriores. Trata-se do primeiro caso de uma sociedade planejada de cima para baixo em todos os seus sentidos possíveis, do econômico ao político, da vida privada à vida pública. Foi a primeira tentativa de refundar a natureza humana e uma nova sociedade das cinzas da revolução, planejada diretamente das mentes de intelectuais.

O prelúdio da dissolução do império soviético

As entrevistas são feitas nos anos de dissolução do império soviético, do final dos anos 80 em diante. Foi a era da Perestroika, a ascensão de Gorbatchóv, o novo secretário-geral do Partido e do Estado soviético, prometendo um socialismo mais democrático, mais humano. Isso veio depois que o mundo soube oficialmente do que aconteceu durante os 70 anos de domínio bolchevique. Existem estimativas de que a União Soviética aniquilou 60 milhões de pessoas, incluindo não só mortes em campos de trabalhos forçados, mas também assassinatos políticos e especialmente fome (ver o caso Holodomor, que, apesar de parecer, não é um reino de Senhor dos Anéis). Isso é 10 vezes mais do que nazistas, os supremos inimigos do Ocidente, mataram. Pesquisando sobre o assunto enquanto lia o livro, soube que alguns fascistas italianos achavam o socialismo antidemocrático demais. Um fascista reclamando disso, vejam vocês.

Enfim, Gorbatchóv era aquele famoso político que chegou para “acabar com tudo isso que tá aí”. Ele não questionava o marxismo-leninismo, mas usava um discurso formatado pela novilíngua do Partido para expurgar Stálin e os neostalinistas — ao mesmo tempo passando um pano danado para Lênin (para mais detalhes, leia O Túmulo de Lênin, do jornalista David Remnick). Gorbatchóv não queria os custos de uma nova revolução, só queria reformar o status quo criado pela Revolução de Outubro, em 1917. Gorby era um homem do seu tempo e o marxismo-leninismo era seu credo. O principal objetivo era salvar o país da falência. Estamos falando de um lugar em que o Estado criava buracos para contratar gente para tapar. O mercado era inexistente. A indústria soviética era aquecida pela produção de tanques de guerra, como se a Segunda Guerra nunca tivesse terminado.

Nos anos 1970 eles produziam mais tanques de guerra do que os EUA. Segundo o chefe do Estado-Maior, S. Akhromiêiev, “O que vocês querem, que mandem parar o trabalho para começar a produzir panelas?“. Na mentalidade soviética era preciso manter um clima de guerra e de constante vigilância contra os imperialistas malvadões. A economia, os discursos políticos, o poder monolítico do Partido e o cotidiano da população eram todos parte de um único organismo adaptado para manter a utopia socialista, protegendo-a da ameaça “burguesa”.

Uma psicologia de colméia

A paranoia e a vigilância surgiram em vários capítulos, na boca de vários entrevistados. As pessoas simplesmente se dividiam em dois tipos: aquelas que dissolviam sua personalidade nos moldes autorizados pelo Partido, e aquelas que fingiam bem e tinham seus escapes. Essas escapadas poderiam ser esconder “literatura subversiva”, como livros do tipo de Arquipélago Gulag, ou fofocar na cozinha. Esse era o cômodo onde se socializava nas moradias coletivas. Ali podia-se falar da vida privada ou de política ligando a torneira para dificultar a escuta da KGB.

O problema era que a KGB não era o único risco. Numa sociedade como a soviética, não existe separação entre Estado, Partido e Povo. Sendo assim, a conversa na cozinha poderia ser delatada por um vizinho ou por um dos fofoqueiros dividindo a moradia. A vigilância estava diluída na própria vida civil. Todos viravam apenas abelhas operárias trabalhando em prol da rainha. Qualquer vestígio de individualidade era ceifado.

A entrevista de Ielena Iúrievna, terceira secretária do comitê distrital do Partido, nos dá a chance de conhecer uma dessas abelhas. Ela era uma neostalinista revoltada com a abertura de Gorbatchóv, com a difamação de Lênin e Stálin. Para ela, as atrocidades do regime eram necessárias para preservar a utopia dos seus inimigos. Eram necessárias mãos de ferro como as de Stálin. Ela diz que, apesar da miséria e da fome, pelo menos não se vendiam por “verdinhas” (dólares), como quem diz “eu era pobre mas era limpinha”.

A negação do mercado era um outro aspecto da psicologia soviética. Eles não apenas não entendiam o mercado, eles o odiavam.

A questão judaica na União Soviética

Chegamos a mais um ponto controverso da psicologia do Homo sovieticus, o antissemitismo. Essa associação é estranha porque aprendemos a associar antissemitismo com nazismo apenas, mas a verdade é que nazistas só inovaram ao dar uma conotação racial a isso (inclusive, os soviéticos chamavam suas políticas contra judeus de antissionismo, porque antissemitismo era associado demais aos nazistas). O czarismo já era antissemita (o czar mantinha um pedaço do território russo apenas para os judeus evitarem se misturar com russos), e o que era ruim conseguiu ficar pior com os Bolcheviques.

Bolcheviques odiavam burgueses, que eram já há muito tempo associados aos bancos, ao comércio e ao lucro. Isto é, na mentalidade não só bolchevique, mas europeia, judeus eram burgueses. O problema é que a Rússia não era exatamente um país capitalista, então os bolcheviques tiveram que recorrer a todo tipo de recurso da novilíngua do Partido para achar esses tais judeus burgueses. Os bolcheviques simplesmente ignoravam que Marx e Trotsky eram judeus.

Para piorar, a oposição “branca” também era antissemita. Eles acusavam os bolcheviques de serem judeus. Ou seja, na prática, os judeus eram acusados de liderarem conspirações comunistas e liberais. Eram odiados pelos dois grupos.

O resultado disso foi que, especialmente ao longo da União Soviética stalinista, houve vários pogroms. Judeus eram expropriados sem mais nem menos e enviados para campos de trabalhos forçados. A morte de Stálin não deu fim nisso. Na década de 80, o soviético médio ainda desprezava os judeus. Neostalinistas diziam “Rússia para os russos”, querendo excluir judeus da equação, afinal, segundo eles, “eslavos eram mais bonitos e inteligentes”.

A difusão de responsabilidade do coletivismo

Parte de O novo homem soviético se dedica aos carrascos. Se você está esperando grandes psicopatas vaidosos, está errado. É como a banalidade do mal descrita por Hannah Arendt diante do julgamento de Eichmann, o carrasco nazista. Atrocidades cometidas por homens normais, por burocratas, muitas vezes. Atrocidades mais fáceis de serem cometidas quando cada indivíduo enxerga apenas seu papel de engrenagem num sistema maior. A culpa é do sistema. É a diferença entre comer um filé de frango e torcer o pescoço de um galináceo grunhindo por piedade.

Mas nessa parte do livro a jornalista nos coloca cara-a-cara com o relato de um parente desses homens que colocaram “a mão na massa”. Abalado pela velhice, pela fragilidade e pela vodca, o homem abre o verbo e fala dos novos tempos de socialismo democrático sendo construído por Gorbatchóv. O idoso fez parte da polícia política e foi responsável por muitas execuções. Ele não tinha prazer em matar, mas considerava um serviço necessário para a construção do socialismo.

Seus votos são de que a União Soviética vá desmoronar sem medo. Para ele, as pessoas precisam do medo dos campos de trabalhos forçados, das prisões e das torturas para que o trabalho ande, para que os “inimigos do povo” não vençam. Esse tipo de “solução final” era tão institucionalizado que os carrascos ganhavam certificados pelos serviços prestados ao Partido de Lênin e Stálin.

Conclusão

Talvez todas as ditaduras, todas as formas de totalitarismo funcionem como formas de moldar a natureza humana. É esperado que isso aconteça em ambientes com diferentes gradientes de ausência de liberdade — ok, pode-se dizer que países muito liberais apenas forjam outro tipo de natureza humana, mas isso não significa que todas as formas de forjar novas naturezas humanas sejam moralmente equivalentes. Mas a URSS foi uma fábrica de humanos especial, dado seu extremismo, sua longevidade e sua extensão territorial.

Não resisti em mostrar uma passagem retirada de outro livro, História Concisa da Revolução Russa, que mostra bem a excepcionalidade desse experimento histórico. Eis o que diz Aleksei Gástiev, um metalúrgico transformado em poeta:

A psicologia do proletariado é extraordinariamente uniformizada pela mecanização, não somente dos movimentos, mas também do pensar cotidiano (…). Essa qualidade lhe confere um notável anonimato, tornando possível designar a entidade proletária em separado, como A, B, C, D, ou 325, 075 e etc (…). Isso significa que, para a psicologia proletária, de um extremo a outro do mundo, não há mais um milhão de cabeças, mas uma única cabeça global. No futuro, sem que se perceba, essa tendência tornará impossível o pensamento individual.

Os soviéticos não queriam só uma radical e planificada igualdade econômica. Eles queriam uma uniformização psicológica nunca antes vista. E essa uniformização formaria uma nova sociedade, radicalmente diferente das sociedades burguesas. Seria a Era do proletariado. Um dos exemplos mais bizarros que também constam em História Concisa da Revolução Russa, os russos queriam mudar até mesmo o que se considerava boa música. Em vez do padrão burguês, eles estimulariam o padrão proletário, em que orquestras eram tocadas utilizando sirenes, ferramentas e maquinário de fábrica.

O novo homem soviético oferece inúmeros relatos em primeira mão do que foi o experimento soviético e do que representou a sua derrocada final, no início dos anos 90. Algumas pessoas ficaram aliviadas, outras pessoas ficaram saudosistas. Muitas pessoas, talvez a maioria, não queriam exatamente o fim do socialismo. Elas queriam um socialismo humano, democrático, assim como Gorbatchóv. A Rússia de hoje é um reflexo dessa psicologia do Homo sovieticus, se mantendo como um curioso país, ainda estranho (e de certo modo fascinante) para os padrões ocidentais.

site: https://www.deviante.com.br/noticias/o-fim-do-homem-sovietico-uma-resenha/
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Artur 19/01/2021

Por onde começar?
Primeiramente devemos começar lendo o livro com uma pequena noção sobre como foi e como era a urss e se você conseguir ler sem um pré viés ou ideia política faça
Bem, foi o primeiro livro com mais de 500 páginas que li na vida e que livro ma-ra-vi-lho-so, a autora pega pessoas com vivências muito diferentes de si, ela vai do agricultor lá de uma cidade perto da china e de pessoas que foram ativas politicamente em Moscou ou pessoas que viveram o começo da guerra na chechenia, pessoas que amavam e pessoas que odiavam e até pessoas que não ligavam pra política e só queria ter pão na mesa no dia seguinte
E a forma que as pessoas se abrem e contam a sua vida para uma total estranha é lindo! Por favor leiam esse livro antes de falar se a urss era ruim ou boa, pois o livro é mais do que só dizer isso ele é um livro de memórias, de vidas é apenas grandioso e lindo
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André 29/07/2020

Uma leitura profundamente humana da transição soviética, além de verdadeiramente polifônica! Vale cada uma das linhas escritas.
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FalaLud 07/07/2020

As pessoas não são boas nem más. São pessoas.
Esse livro é mais que uma aula de história da Rússia. É uma grande reflexão sobre os seres humanos.

Ele me abriu os olhos sobre o perigo da intolerância. Não apenas da intolerância dos intolerantes, mas da nossa própria intolerância PARA COM os intolerantes. É uma linha muito tênue para você se tornar aquilo que mais abomina. E não vão faltar justificativas de que o sangue derramado é por uma causa justa, pois não assumir a responsabilidade dos atos é ainda mais fácil. A culpa é sempre de outro, sua jamais.

Eu esperava terminar o livro com uma resposta sobre qual sistema era melhor (ou menos ruim): o capitalismo ou o comunismo. Depende. Os dois podem ser tão bons ou tão cruéis quanto, dependendo da posição que você ocupa na sociedade.

O livro é triste, e muitas vezes brutal. Mas vai te levar a inúmeras reflexões e questionamentos importantes, vale a pena.
Mari 07/07/2020minha estante
Gostei muito da resenha, Lud! Não conhecia, mas já fiquei com muita vontade de ler!


FalaLud 07/07/2020minha estante
Que bom, Mari! Então acho que consegui exprimir um pouco da experiência que esse livro me trouxe ?


Maria 15/07/2020minha estante
Caceta, já quero!


FalaLud 15/07/2020minha estante
Só não te empresto pq é e-book, pq senão já estaria debatendo sobre esse livro com você ??




Andre.28 02/05/2020

O Sonho Soviético e a Desilusão Russa (Resenha Osmose Literária)
Gente, eu tô passando aqui para informar sobre a resenha. Como a resenha ficou grande, obviamente coloquei no blog pois nem todos tem disposição para ler por aqui. Enfim, é isso. (Link abaixo)

https://osmoseliteraria.blogspot.com/2020/05/o-sonho-sovietico-e-desilusao-russa.html
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