Nath @biscoito.esperto 07/07/2018“É uma longa história, mas, resumindo, tenho vinte e um anos. Ainda é pouco, mas não tão pouco quanto antes”.
Esse livro contém as duas primeiras novelas publicadas na carreira de escritor do Haruki Murakami. Seu primeiro livro é “Ouça a canção do vento”, e “Pinball, 1973” é sua continuação. Para ser mais concisa, usarei o nome que o pessoal usa lá fora para falar dessas duas novelas: “Wind/Pinball”. Como as novelas são curtas (cerca de 100 páginas cada uma) não irei me aprofundar demais.
Wind é o primeiro livro da Trilogia do Rato. O livro segue a história de um narrador sem nome que está relembrando sua época da faculdade. Ele estudava biologia e se tornou amigo de um rapaz cujo apelido era Rato. Juntos, Rato e o narrador secam o estoque de bebidas do bar local e pensam sobre a vida, o universo e tudo mais.
O livro lida com a percepção do narrador de que o tempo está passando e as coisas mudam. A frase que coloquei acima exprime bem a natureza narrativa do livro – mas, mais que isso, é uma frase que conversa comigo. Também tenho 21 anos e penso que, mesmo tendo a vida toda pela frente, parece que muita coisa já aconteceu. Murakami explora essa ideia muito bem ao falar sobre a ideia da mutação da vida.
Pinball é uma continuação bastante estranha para Wind. Nosso narrador sem nome outra vez lembra do passado – agora ele se foca numa época logo depois que ele terminou a faculdade e sua obsessão com uma máquina de pinball que desapareceu misteriosamente do bar local. Enquanto o narrador tenta encontrar essa máquina de pinball, seu amigo Rato vive uma crise existencial. Rato nasceu numa família rica e abomina o dinheiro dos pais, mas se encontra num momento desesperador de sua vida em que não sabe para qual direção ir.
Enquanto Wind é uma história coming of age melancólica, Pinball apresenta os primeiros elementos de realismo mágico que se tornaria a marca registrada do Murakami. O livro é uma espécie de caça ao tesouro, com nosso narrador procurando desesperadamente pela máquina de pinball. Ao mesmo tempo, somos introduzidos a uma mulher mais velha, alvo da paixão de Rato, e duas irmãs gêmeas muito estranhas que acabam vivendo com o narrador por um tempo.
Essas novelas não são as melhores obras do Murakami, e o próprio autor sabia disso. Depois que ganhou notoriedade internacional, Murakami permitiu que todos os seus livros fossem traduzidos do japonês para outros idiomas, mas tentou impedir que publicassem Wind/Pinball fora do Japão. Segundo o próprio Murakami, esses livros eram bastante experimentais e não faziam justiça às suas habilidades narrativas.
Eu concordo com Murakami até certo ponto. Wind/Pinball não são livros ruins, mas são narrativas simples e sem profundidade. Terminei de ler os livros com um sentimento de que eles não me marcaram, que não foram importantes. Era quase como ler um livro do Bukowski, mas sem o risco do narrador estuprar ninguém.
Ao mesmo tempo, ler Wind/Pinball é importante para quem quer ler os dois outros livros da trilogia (de quatro livros), Caçando Carneiros e Dance Dance Dance. Você não precisa necessariamente ler Wind/Pinball, pois os outros dois livros funcionam bem por si só, mas eu recomendaria, sim, que você os lesse.
Caçando carneiros continua a história do narrador anos depois, quando ele se separa da mulher e decide reencontrar Rato. É interessante ler esse livro depois de já saber quem é o Rato e qual era a relação que eles tinham quando eram jovens. Para ler Dance Dance Dance você precisa obrigatoriamente ter lido pelo menos Caçando Carneiros, ou a jornada do narrador não fará sentido.
Finalizando a resenha, Wind/Pinball não é a melhor história do mundo, mas são duas novelas divertidas e de leitura rápida (sério, apenas 100 páginas cada uma!) e introduções para outros livros muito mais interessantes do Murakami.
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