renata1004 07/01/2024
Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa
"Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra." Lembro de escutar esse trecho da música quando criança e não entender direito. Cresci com a música de Rita - minha mãe, fã de carteirinha, me deu este livro de presente e agora o pegou pra ler. Rita Lee na minha vida sempre foi sinônimo da minha mãe, e, crescendo, ao passar a escutar suas músicas com mais atenção, me identifiquei com o eu lírico criado por Rita e, automaticamente, me vi um pouco mais próxima de quem me criou. No dia da sua morte, recebi a notícia na faculdade e, antes de me deixar sentir a morte de uma das minhas artistas favoritas, minha primeira reação foi mandar uma mensagem pra minha mãe, que mora longe de mim (no meu maior momento ovelha negra da família). Ela me conta que chorou assim que viu minha mensagem. Horas depois, me mandou fotos dos discos e cds de Rita que guardava desde sua adolescência, e disse que, se eu quisesse, eram meus. Fofa.
Foi um prazer revisitar a vida da Santa Rita de Sampa, padroeira das ovelhas negras, junto das suas próprias palavras. Os momentos da sua infância, as anedotas dos Mutantes, o amor e a família criada com Roberto, a sua sinceridade sobre seus vícios e sobre tudo o que passou. Sem papas na língua, como sempre, Rita conta sobre tudo de sua carreira, do amor por James Dean e pelos Beatles, da amizade com Elis, Raul, Gil e os tropicalistas, de conhecer Bowie (seu deus), Sônia Braga, Catherine Deneuve, Brigitte Bardot, Eric Clapton, Pattie Boyd, Milton Nascimento, Fernanda Young, Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Ozzy Osbourne, abrir show pros Rolling Stones, estar no Rock in Rio, viajar o mundo em turnê. Rita propaga seu amor pelos animais, suas crenças e descrenças, luta pelos seus direitos por lutar. Seu livro é um espelho de suas músicas: sincero sobre suas amizades, amores, vícios, sonhos, família, sobre o meio musical que fazia parte e ajudou a construir, sobre sua sexualidade, sobre o ser mulher. A leitura as vezes não é linear, confunde um pouco, a autora conta sobre seu passado e volta numa história, ou avança para outra, e depois volta no tempo. Mas como não perdoar Rita se, ao fazê-lo, nos passa histórias tão fantásticas e honestas sobre sua vida como pessoa e artista? Mais encantada do que nunca com Rita Lee Jones de Carvalho. Eterna.