Dominique 03/03/2010Pertubador, surpreendentemente triste!"Talvez na destruição do mundo fosse finalmente possível ver como ele foi feito. Oceanos, montanhas. O grave anti-espetáculo das coisas deixando de existir. A desolação extensa, hidrópica e secularmente fria. O silêncio."
Em um mundo pós-apocalípico, pai e filho percorrem a estrada rumo a costa. Durante o percusso, eles tem que encontrar meios de sobreviver, pois a comida é escassa, são restos de uma civilização morta. O perigo espreita a cada momento, seja no frio constante, na falta do alimento ou na busca deste por outros sobreviventes, já que pai e filho podem ser o próximo 'prato'. Cormac McCarthy conduz a narrativa esplendoramente bem, com um enredo único, ele prende atenção do leitor no drama de um pai e de um filho em busca da sobrevivência.
No início da leitura, você estranha um pouco a forma de escrever de Cormac McCarthy, pois o livro não possui capítulos, porém são divididos em parágrafos curtos. Outro ponto interessante e que pode confundir o leitor são os diálogos que estão dentro desse parágrafo, que não diferem da narrativa. Eu demorei algumas páginas para me habituar a escrita, mas depois que você se familiariza com seu estilo, flui naturalmente.
A natureza da relação entre o pai e filho são de uma magnitude assustadoramente bonita em um momento em que as pessoas (os sobreviventes) perderam a própria identidade e a esperança. Eles são mais que pai e filho, são companheiros em uma jornada, amigos que se entendem até em silêncio. Sobretudo, o respeito ao espaço um do outro, principalmente, do pai para com o filho. Uma criança crescendo em um mundo devastado e tentando entender o passado do pai com seu presente. Na capa do livro resume perfeitamente a relação de ambos... "pai e filho, cada um o mundo inteiro do outro".
A criança é o personagem que mais amei. É claro que sendo uma narrativa em que ambos são únicos e centrais, é difícil escolher um. Mas o escolho pela bondade. Sobretudo, pela bondade. Em vários momentos, seu coração nobre e singular recorre ao pai para não praticar uma maldade mesmo com aqueles que desejam lhes fazer mal. Ele sofre ao pensar nas pessoas capturadas para servir de alimento para outras e sempre pede afirmação do pai de que eles nunca fariam isso, porque são do bem. Ele sente medo e não tem vergonha de dizer. Seu medo para mim foi tão palpável, que era como se fosse meu.
Como mencionei nos meus históricos de leitura aqui no skoob, não sei se é bom ou ruim, deixar-me entregar a leitura a ponto de ser influenciada por ela. Fiquei de tal modo absorvida com a história, que sonhei com ela. Durante a leitura em vários momentos, me peguei em alerta, esperando algo ruim acontecer a qualquer momento, como se eu estivesse em suspensão. O pior é que meu coração se acelerava conforme os acontecimentos. O mais interessante é que não é em absoluto um livro de ação, pelo contrário, os acontecimentos são lentos, mas a expectativa é grande. Você sofre com eles. Sente o medo ao seu redor. Sente frio e fome. Angústia pelo futuro dos dois. Simplesmente, amei demais esse livro, mas admito que sofri a cada página.