spoiler visualizarCianthe 10/10/2022
entendi porque romance de época é tão bom
Codinome Lady V (Falling in Bed With A Duke) foi o meu primeiro romance de época e eu amei.
A protagonista, Minerva, é a típica mocinha que tem uma mentalidade à frente de seu tempo, só que de típica ela não tem nada. Eu sei, pode parecer clichê uma mocinha rebelde que se opõe às normas sociais da época, mas a Minerva foi uma surpresa boa. Ela é corajosa e decidida, mas tímida. Sabe lutar, apostar e fazer negócios, mas ainda porta a conduta e delicadeza de uma lady. Ela não mete os pés pelas mãos, pode ser ousada, mas sabe o que falar, como falar e quando falar, sempre com classe e coragem. Enquanto ela vai contra tudo aquilo que a sociedade espera de uma lady em relação à opiniões e personalidade, Minerva também entrega graça e magnitude. Eu achei bem bacana a personagem porque, ainda que ela esteja mais consciente do que a maioria sobre os papéis de gênero daquela época e ainda que ela se oponha à todos eles de sua maneira, seu maior sonho ainda era encontrar um grande amor que a enxergasse e a apreciasse por quem ela realmente é, além das convenções sociais e além do grande dote que ela tem. Quando ela percebe que os pretendentes nunca virão por ela, mas sim pelo seu dinheiro, ela decide perder a virgindade e ir experimentar os prazeres da vida em um cabaré. ISSO AQUI É A ELITE, LENDÁRIA!
O protagonista, Duque Ashe, é o típico mulherengo com passado triste que se apaixona pela Minerva como nunca tinha se apaixonado por alguém antes. Mas claro que ele fica em negação sobre isso até ao final do livro. Achei o motivo por trás até que plausível: Ashe perde os pais muito novo e vai morar com um Marquês que enlouqueceu por conta da morte da esposa, então ele passou a temer o amor porque achava que só levaria ele ao mesmo destino do seu guardião; passou a ser um mulherengo porque gostava de tirar fotos de belas pernas femininas, procurando algo perto da perfeição que o fizesse esquecer os corpos carbonizados do acidente que matou seus pais. PORÉM, pra "um buraco tão mais em baixo" por trás das motivações do Ashe, eu esperava um pouquinho mais de sofrimento, uma jornada de autoconhecimento um pouquinho mais aprofundada pra ele. Tudo o que levou para ele aceitar seu amor pela Minerva e reconhecer que não tinha nada a ver com o dote dela, foi uma visita ao Marquês que contou como "a esposa era o sol, a lua e as estrelas pra ele e que ele não amava, ele sentia tudo por ela, por isso tudo se foi quando ela morreu" (fofo). Mas, se o Ashe já tinha medo do amor antes, medo de enlouquecer também, como ele aceitou tão fácil o fato de que estava amando a Minerva da mesma forma? Pior, aceitou o fato de que poderia perder tudo por ela, desistindo do dote e confiando o restinho da fortuna às habilidades financeiras dela. Me pareceu um pouquinho... Não digo apressado, mas mal explorado (?) Imagino que ela tenha percebido que tinha que passar o resto de seus dias com a Minerva antes de perdê-la para sempre sem realmente ter estado com ela. Algo tipo: se vou enlouquecer, se vou perder tudo, vale a pena se for por você. Só queria que a autora tivesse explorado melhor esse momento de realização dele, que o fez passar por cima do medo do amor e do medo de perder o legado dos pais mortos.
Eu gostei muito da escrita da autora, não sei se a tradução deu uma bagunçada (porque li em PT/BR), mas eu achei muito legal como ela transitava entre vários POV's em um capítulo só e foi uma coisa super suave e interessante, porque me ajudou a entender mais as motivações de todos os personagens e a visão deles sobre os protagonistas e sobre a história deles. Em um capítulo que eu achava ser pelo ponto de vista da Minerva, na próxima linha estavam os pensamentos do Ashe. Essa troca da narração deu ritmo à história.
Eu adorei que a Minerva não vem de uma família de títulos e que o pai dela é alguém temido e respeitado nas ruas. Se fosse um romance contemporâneo, Minerva seria filha de uma máfia e Ashe um CEO kkkk.
As cenas hots são sutis mas ainda sim picantes, por conta do mistério acerca da identidade da Minerva quando ela escondia seu rosto do Ashe; por conta das reservas sobre o que uma lady podia ou não fazer com um cavalheiro que não era seu marido; o fato de o Ashe esconder o interesse no dote dela; a baixa autoestima da Minerva e a forma como o Ashe apreciava ela como se fosse uma obra de arte; toda a atmosfera de bailes e escapadas para o canto mais escuro do jardim...
Agora que comecei a ler romance de época, não sinto vontade de parar. "Codinome Lady V" foi um começo deliciosamente divertido.
?Protagonista cativante e à frente de seu tempo de uma forma mais realista e identificável.
?Casal com química.
?Escrita suave e abrangente (vários POV's que não chegam a ocupar 1 capítulo completo e por isso deixam a história mais interessante ao invés de maçante).
?Existem duas versões da mocinha: a Lady V que passou uma noite com o Duque Ashe, e a Minerva, que mal tinha falado com ele e era ignorada em todos os círculos sociais. Ele se encanta pela Minerva antes de desconfiar que ela é a Lady V. O famoso CHÁ BEM DADO (one night stand) = ROMANCE.
?Faltou um melhor detalhamento sobre o que o Ashe concluiu dos seus sentimentos em relação à Minerva. Não foi apressado, mas foi como se eu tivesse assistindo à um filme ao invés de estar lendo todos os pensamentos do personagem. Sabe aquele momento que o protagonista de um filme percebe a burrada e vai atrás da mocinha depois de um conselho? Na tela, a gente consegue ver as reações nitidamente, no livro, ainda precisamos de mais detalhes acerca dos pensamentos do personagem. Se tivermos bem envolvidos na história, dá pra ler nas entrelinhas, mas como ele passou o livro todo sendo construído como alguém que tem medo do amor e alguém muito apegado aos pais, ficou vaga a aceitação dele aos próprios sentimentos e à possibilidade de perder toda a fortuna pela Minerva.
AVALIAÇÃO: 4 / 5