Livros da Julie 09/10/2021Quando o amor à primeira vista supera barreiras sociais-----
"Ninguém pergunta a uma governanta se ela gosta do próprio trabalho. Aliás, não se faz essa pergunta a ninguém."
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"não queria se casar. Era difícil se imaginar dando a um homem controle completo da vida e do corpo dela."
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"a maré alta ergue todos os barcos."
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"Tudo ficava melhor com bacon. A vida era melhor com bacon."
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"Há momentos em que uma mulher precisa mostrar uma sensatez que falta aos homens."
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Uma noite como esta é o segundo livro da quadrilogia Quarteto Smythe-Smith e o vigésimo quarto do projeto de leitura coletiva em ordem cronológica das obras de Julia Quinn (#LCJuliaQuinn #LCPeculiaresLivros), promovido pela @peculiareslivros.
Neste livro, o protagonista é Daniel Smythe-Smith, o irmão de Honoria, a jovem violinista do primeiro volume da série. Nele, já havíamos ficado sabendo que Daniel fugira da Inglaterra porque estava ameaçado de morte pelo pai do amigo que ele ferira em um duelo. Agora Daniel já é o Conde de Winstead e está de volta ao país. Ele retorna justamente no dia do concerto anual dos Smythe-Smith e se impressiona com a linda desconhecida que está ao piano, no lugar que deveria ser ocupado pela sua prima Sarah.
A "desconhecida" é Anne Wynter, a preceptora das irmãs mais novas de Sarah. O destino parecia zombar da única e sincera pretensão de Anne: usufruir da paz de espírito trazida por um emprego bom e estável e permanecer incógnita da maior parcela possível da sociedade. Contudo, as atenções que o Conde passa a lhe dispensar, apesar de intimamente ansiadas, dificultam o seu intento e, inclusive, ameaçam sua sobrevivência.
Uma noite como esta é um romance com ares de thriller. A história tem momentos bem mais pesados e tensos, fugindo ao estilo divertido que Julia normalmente imprime aos seus textos. Mesmo nos trechos mais despretensiosos, parece que algo ruim pode acontecer a qualquer momento. No entanto, as três irmãs trazem frescor e alívio cômico ao drama, e Lady Winstead (a mãe de Daniel), Honoria e Marcus (o casal do livro anterior) têm uma atuação importante e reconfortante na história.
A autora dá enfoque às enormes diferenças econômicas e sociais entre aristocracia e a classe trabalhadora, chamando a atenção para o abismo que parece haver entre esses dois mundos. Apesar de o romance entre indivíduos pertencentes a classes diferentes (geralmente com a mulher em uma classe inferior) ser um grande clichê do gênero, a sensação de conto de fadas aqui é um tanto fugidia. Além do mais, como preceptora (equivocadamente chamada de governanta no livro), uma mulher se encontrava em uma espécie de limbo, não sendo considerada nem parte da família nem da criadagem, o que a deixava em uma posição ainda mais vulnerável, sujeita a todo tipo de assédio.
O que fica evidente, portanto, sob o romantismo inicial são as custosas dificuldades e as temíveis consequências (notadamente para a parte mais frágil da relação) caso não se chegue a um final feliz. Na vida real, mesmo hoje, a força desse sentimento provavelmente seria insuficiente para resolver todas as questões de ordem prática que a disparidade de condições impõe às circunstâncias. Na ficção, porém, como Julia nos mostra, o amor tudo pode e tudo supera.
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