Kakau 19/01/2023
O ser humano e o seu eu primitivo
É a segunda vez que mergulho em uma obra escrita pelo psiquiatra Irvin D. Yalom,e estou mais perto do que nunca de concluir que a maneira como o autor inicia seus romances me instiga magicamente;tenho uma singular inclinação em me envolver com o enredo escrito por esse homem.
Somado a isso,achei atraente a proposta de intercalar a história com capítulos destinados a narrar, sucintamente,a biografia de Arthur Schopenhauer,filósofo do século XIX conhecido pelas suas visões pessimistas.Tendo em vista a minha ignorância quanto ao pensamento schopenhaueriano,esses capítulos me ajudaram imensamente na compreensão do personagem peculiar chamado Philip--e,de sobra,pude ampliar minha bagagem filosófica e incitar novos interesses.
Como de praxe,cada personagem desenvolvido por Yalom apresenta tantas camadas socioemocionais típicas do homem,tantas verossimilhanças com traumas,questionamentos e erros de seres humanos reais que chego a me emocionar.Identifiquei-me muito com as tentativas solidárias de Philip e de Pam de consolar Julius,que está na iminência da morte-e isso é exposto logo nas primeiras páginas-,por meio de textos escritos por grandes filósofos,entre eles Epicuro.Isso me remontou a uma frase de James Baldwin,que dizia:"você acha que toda a sua dor e seu desgosto não têm precedentes na história do mundo,mas depois você lê."
O que dizer dos diálogos do grupo de apoio organizado pelo psicanalista Julius? Incrivelmente, não houve um que não fosse profundo e produtivo para mim.Simplesmente irretocáveis.As conversas levantaram temas pertinentes da sociedade,como desejos reprimidos,culpas sexuais, inseguranças antigas, validação alheia,autoestima,envelhecimento,morte etc.
Sobre o desfecho,este agradou-me,mas não foi tão emocionante como fora para mim todo o desdobramento do romance.Portanto,o livro me proporcionou um enriquecimento intelectual cujas facetas são fortemente aplicáveis ao dia a dia, rendendo-me muitas reflexões de autoconhecimento.Com a finalização dessa excelente obra,pude concluir que o lado primitivo de cada indivíduo é irreprimível,pois todos nós desejamos,sentimos,erramos,ansiamos,nos relacionamos,e não há mecanismos sadios para contornar essa nossa essência.