Phelipe Guilherme Maciel 05/01/2018A história de um psiquiatra e seu grupo de terapia, e as mudanças que um estranho em todos os sentidos fez na vida das pessoas.Este livro de quase quatrocentas páginas, eu não li. Ouvi. Estou ouvindo audiolivros desde 2016 e estou chegando no vigésimo. Leio apenas audiolivros profissionais, e sempre tomando notas e refletindo, como em leituras tradicionais. Mas pego audiolivros para ler em momentos que normalmente não estaria lendo, e também pego livros que normalmente não escolheria para ler. O motivo é óbvio. Além de otimizar meu tempo, acabo oferecendo para mim mesmo uma oportunidade.
Esta oportunidade foi ótima. "A Cura de Schopenhauer" conta a história de Julius, o psiquiatra que descobre aos 65 anos que possui apenas 1 ano de vida, por culpa de um tumor maligno de pele. Saber que há uma data de expiração coloca em seu ser grandes reflexões que o coloca na situação de entrar em contato com seu grande fracasso profissional de 25 anos atrás: Philip, um cínico apático e viciado sexual.
Julius descobre que ele está estranhamente curado, mas não por ajuda psiquiátrica e psicológica, mas sim pela filosofia, e especificamente por SCHOPENHAUER. Justamente este filósofo, considerado por muitos o pensador mais pessimista da história.
Três coisas me tocaram demais nesse livro. A primeira coisa é que ele não é um manual de psicologia. muito menos um manual de qualquer coisa, e não é nem de perto auto ajuda, quando penso que o final dele me imprimiu uma dor forte no peito e uma grande depressão.
Irvin entra na cabeça das personagens, cria mundos de problemas que aparentemente são supérfluos, como o marido humilhado pela esposa, o compulsivo sexual, a mulher que se acha bonita demais e está envelhecendo, um cara alcoólatra... Mas quando Irvin coloca esses personagens para interagir, suas vidas se emaranham e a complexidade de sentimentos humanos afloram e dificultam tudo.
O segundo ponto é que este romance também é uma viagem reflexiva sobre a morte. Não apenas um personagem está morrendo neste livro. Todos estão. Um deles há uma sentença de morte. Os outros estão ou se matando aos poucos, ou morrendo por não viver a vida, ou por querer vivê-la ao extremo, e na verdade, esquecendo seu verdadeiro eu. Esse é o tema dos temas no livro. Usando filosofia de Espinoza, Schopenhauer, Einstein, Kant, Platão, Epiteto, Freud, Nietzsche, entre outros (Ainda que vagamente em alguns casos), gradualmente os personagens percebem que a morte se aproxima de todos, inexoravelmente, e todos eles tentam transformar seus momentos de vida, alterando o "Assim foi" pelo "Assim deveria ter sido". A parte mais emocionante é perceber que Julius consegue sozinho, amar o seu "Eu sou", esquecendo o que deveria ter sido, ou o que foi. Ama seu momento atual, ama seu destino, e aceita a vida e a morte.
O terceiro ponto é a questão do trabalho integrado. O livro não é sobre psicoterapia, para começar, mas fala de filosofia ocidental e filosofia oriental. Sobretudo é um respeito a forma como cada um se inicia nas suas reflexões sobre a vida. Seja religiosamente, o livro aborda o budismo, o cristianismo, o ateísmo, como também pela filosofia, através de Nietzsche, Schopenhauer, Kant, Platão, essas realidades sempre podem mudar, dependendo do momento da vida que estamos vivendo.
A frase mais marcante do livro foi quando um dos personagens diz a Philip que ele realmente foi salvo pela cura Schopenhauer, mas naquele momento, ele precisava se salvar da própria cura Schopenhauer.
Esse livro não é auto ajuda. Não é um manual. É um livro que vai te deixar com várias reflexões, principalmente sobre qual o sentido da vida. Obviamente essa resposta ele não consegue dar.