Morgana Gomes 04/02/2020
Sobre o vasto mundo
Terminei de ler Vasto Mundo e só lembrava do clássico Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. Uma leitura que fluida e familiar, afinal, ela acontece na minha terra, minha Paraíba!
De tantos, eis um trecho marcante da obra quando relata a guerra de Maria Raimunda:
"Quando chegou à esquina da praça, onde fica o xadrez, já tinha para mais de trinta mulheres atrás dela, querendo saber o que é que Maria Raimunda inventara de fazer. Pois ela plantou-se bem em frente à cadeia e puxou um bendito, com a voz mais forte que tinha, lá do fundo da garganta, nada daquele canto maneirinho que padre Franz queria ensinar. A cantoria cresceu na mesma hora, mais trinta vozes, mais cinquenta, mais duzentas, ecoou nos terreiros, na fila do chafariz e do posto de saúde, nos tanques de lavar roupa e nas cozinhas, subiu para a casa-grande da fazenda e acabou com a sesta de Assis Tenório, meteu-se pela estrada de Itapagi, rebateu na torre da matriz e enfiou-se no gabinete do prefeito, seguiu para Guarabira, atravessou a casa do bispo, que nem estava lá, já estava na estação de rádio dizendo que não era certo ninguém oprimir os pobres, que Deus estava ouvindo aquela cantoria, enquanto a cantoria mesma seguiu para Mari e Sapé, dobrou no Café do Vento e estrondou em João Pessoa, bem na praça principal, acordou os deputados que cochilavam no plenário, cobriu as sentenças dos juízes no fórum, feriu o ouvido do governador, espalhou-se por toda parte crescendo sempre com as vozes de todas as mulheres que já sentiram uma injustiça nessa vida, não se calou quando a noite chegou nem quando o dia clareou e por aí continuou por mais de uma semana."