Os Maias

Os Maias Eça de Queiroz




Resenhas - Os Maias


184 encontrados | exibindo 166 a 181
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 12 | 13


Kennedy 17/09/2011

Leitura arrastada e cansativa mas que vale a pena; sem dúvidas
"Os Maias", romance escrito pelo português Eça de Queirós, é um retrato da burguesia portuguesa do final do século XIX. Em meio a tantas críticas à sociedade e ao clero, os protagonistas da estória são Carlos da Maia e Maria Eduarda, e por que não, João da Ega.

A estória faz muitas críticas à sociedade, sim, mas não apenas disso ela é nutrida. O livro conta a "trágica" estória da família Maia.

Tudo começa quando Pedro da Maia se apaixona por Maria Monforte. Essa, filha de um homem de caráter duvidoso, faz com que Pedro se desentenda com seu pai, Afonso da Maia, e saia de casa. Os dois se casam, em seguida Pedro recebe uma "galhada" da mulher, que foge com um príncipe. Desesperado e inconsolável, faz as pazes com seu pai e volta para o Ramalhete, como é conhecida a mansão da família.

Permanecendo inconsolável desde o dia que descobriu a traição e com uma dor de cabeça terrível, provavelmente ocasionada pela grande "galhada" que levou de sua "amada" (isso é brincadeira, "ok"?), Pedro não aguenta, tem um chilique, e como é uma pessoa muito ajuizada, dá um tiro em sua cabeça. É claro que morre.

Em seguida começa a segunda fase da estória, que é marcada por uma narrativa que acontece alguns anos depois da morte do jovem Pedro. Afonso da Maia, o velho e indestrutível Afonso da Maia, continua vivo e cheio de vida, criando seu neto, fruto do relacionamento de Pedro e Maria. Afonso é uma verdadeira fibra. Águas vêm, águas passam, céus e terras também, e ali está ele, firme e forte. O rapaz se chama Carlos, Carlos da Maia, e recebe uma educação rigorosa, bem no estilo britânico.

Depois de tantos acontecimentos a estória esfria. Fica parada e é exatamente aí que Eça aproveita para criticar a sociedade burguesa não só portuguesa, mas a classe em geral. E quando eu digo que a estória fica totalmente estagnada - em relação à trama principal - é porque fica muitas, mas muitas, muitas páginas sem coisas - vamos dizer - importantes acontecendo.

"Os Maias" é um livro cansativo. Sim, levei quase dois meses para acabá-lo, mas foi devido à pura rabugem e ócio, e, claro, a alguns problemas pessoais, os quais, em conjunto, fizeram com que eu demorasse a finalizar essa maravilhosa obra-prima que Eça de Queirós escreveu.

Quer queira quer não, tem-se que admitir que o livro enrola bastante. Se fosse um livro de Machado de Assis, teria no máximo umas 230 páginas. Aqui não: são 582 páginas (na edição que comprei, da Martin Claret, ótima editora por sinal). Claro que não quero tecer comparações entre esses dois maravilhosos autores, mas bem que podia, já que são de uma época muito próxima, e fazem parte da escola literária denominada Realismo. Porém aqui vai a minha opinião: simplesmente amei a obra de Eça de Queirós e o acho melhor que Machado, não querendo desmerecer o mestre de nossa literatura, claro. Sabe o que é aquela classe refinada de escrita, aquela calma em desenvolver a estória, de você se saborear mas também se irritar com a enrolação? Foi essa a sensação que tive ao ler "Os Maias". Algumas enrolações são necessárias, outras são completamente encheção de linguiça, consequentemente descartáveis.

No início da segunda fase, marcada pela juventude do filho de Pedro, Carlos, como já dito, a estória se estagna. Conhecemos uma centena de personagens chatos e interessantes, desinteressantes também, alguns completamente descartáveis. Somos espectadores de um bilhão de jantares a que nosso protagonista e seu fiel e inseparável amigo ateu, João da Ega, ou simplesmente Ega, vão. Depois de umas 200 páginas a estória volta a ganhar aquele fôlego, como o romance que surge entre Carlos e Maria Eduarda (não, não é a mãe dele, é uma mulher qualquer, uma simples coincidência; cof, cof, cof) mas não tão forte como seu ótimo começo. Então, até a página 430 - que é quando verdadeiramente a estória anda - temos muita enrolação, algumas coisas interessantes e, de novo, muita enrolação. Nas últimas 150 páginas acontecem muito mais coisas que as 250, 300 primeiras páginas.

"Os Maias" é uma leitura pesada e cansativa, que exige muita paciência, mas, que sem dúvidas, vale a pena e é bastante recompensadora.

Recomendado para todos que gostam de clássicos e bons livros de drama.
Carla Reverbel 08/01/2013minha estante
Eça tem um texto maravilhoso, mas se detinha em detalhes demais, descrições demais... Muito estilo e poucas ações. Um outro ritmo, mais lento, mais para o leitor concentrado de antes. Atualmente os livros exigem mais dinamismo. Mas foi um dos meus favoritos de 2012.


Marli.Ramires 08/03/2022minha estante
Arrastado como foi a minisérie né? Estou no último capítulo. Gostei muito do livro e resolvi assistir a minisérie.... que lentidão!!!! e pelo que entendi a minisérie incluiu situações que no livro não aconteceram. pra mim perdeu na qualidade fazendo isso. Não se muda Eça de Queiroz.... e eu tenho uma relação de amor e ódio com ele. Escreve magnificamente, mas as mulheres sempre são as mais prejudicadas em todas as tramas. Veja o Crime do Padre Amaro.,,,, enfim




alinechamon 26/05/2011

Apaixonei-me por uma tragédia de amor
Um dos livros mais lindos que eu já li. Amo a formalidade do texto do Eça, a descrição das minúcias, e guardo alguns trechos decorados deste livro, como quando Carlos Eduardo vê pela primeira vez Maria Eduarda e quando eles discutem sobre amores que só se realizam quando se completam. Realmente apaixonante, um romance que faz o coração bater mais forte.

"...ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar."

comentários(0)comente



Gláucia 11/02/2011

Amor incestuoso.
Sou apaixonada pelo estilo de Eça de Queiroz, crítico da sociedade burguesa de Portugal, que não deve ser muito diferente nos outros países. Algumas coisas sempre estão presentes em seus romances como a crítica ácida ao clero, levando a um comportamento hipócrita.
Aqui não há muita escapatória para Carlos e Maria Eduarda, que apaixonados se descobrem vítimas irremediáveis do destino. Achei o final um tanto quanto dúbio, deixando margem para que cada um tire suas próprias conclusões.
comentários(0)comente



Anne 05/02/2011

Obra-prima
Eça de Queiroz escreveu a saga de uma familia em um livro que é uma verdadeira obra-prima. Se divide em 2 partes: a primeira quando Carlos Maia é jovem e conhece Maria Monforte, e com ela tem dois filhos, Carlos Eduardo Maia e Maria Eduarda, e quando ela o abandona leva a filha junto com ela. Muitos anos depois, Carlos Eduardo Maia reencontra sua irmã, e naquelas ciladas do destino, se apaixona por ela sem eles saberem que são irmãos. O drama corre solto. Recomendo.
Obs: vi a minissérie que a Globo fez e achei bem fiel ao livro, superprodução.
comentários(0)comente



Cristina117 30/01/2011

Os Maias
Em determinado momento do romance-obra-prima de Eça de Queiroz, Os Maias, Carlos da Maia reclama de um infindável bordado que Maria Eduarda insiste em fazer durante suas visitas. Maria Eduarda retruca dizendo que o bom de certas coisas é estar sempre a fazê-las. Ao que Carlos diz: “Há coisas que só existem quando se completam, e só então dão a felicidade que se procurava nelas.”

Pois Os Maias é uma dessas coisas às quais Carlos se refere. Demora-se na leitura de um tomo com 698 páginas (edição da Ediouro). Demora-se ao ponto de leitores mais avexados ou menos treinados a longas leituras desejar largar o livro, abandoná-lo, se enganando por acreditar que até o ponto em que se leu já rendeu o que tinha de render. Mas não. Deve-se insistir, e resistir aos momentos menos voltados à história central do romance. Afinal, em Os Maias, Eça quis fazer um retrato completo da sociedade portuguesa da época.

Escrito em 1888, e atual como todo clássico, Os Maias deve ser lido até o fim para proporcionar toda felicidade é capaz de dar. Depois de lê-lo, pode-se ainda passar uns dias depurando a história assistindo à minissérie, que foi ao ar em 2001, pela Rede Globo, e está disponível nas locadoras. A minissérie é quase completamente fiel ao livro, com uma mudança no final, mas que não altera o desfecho, nem tira o prazer da obra.

*dedodemocaseditora.blogspot.com
Anne 03/02/2011minha estante
Também achei a minissérie feita pela Globo bem fiel ao livro, maravilhosa mesmo.




John 29/01/2011

Esse é um grande romance de Eça de Queirós onde pode-se observar a vida da sociedade portuguesa da época e a luta entre realismo e romantismo.
Tanto o livro quanto a minissérie são ótimos, apesar de que gostei mais da minissérie por ter partes mais dramáticas, como o reencontro dos dois no final e também por desenvolver por mais tempo a história de Maria Monforte e Pedro da Maia.
No fim me perguntei o que seria de Maria Eduarda e Carlos, pois criaram um laço de amor muito forte e depois de tudo terem de se ver apenas como irmãos seria impossível. Mais um livro que com certeza é meu favorito pelas descrições, belezas e dramas apresentados. Não há como não se apaixonar por Maria Eduarda e Maria Monforte e toda a beleza daquela época.

Trecho preferido: " ...ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita, deixando atrás de si, como uma claridade, um reflexo de cabelos de ouro e um aroma no ar."
(pág.134)
Roma 27/09/2021minha estante
Essa obra é perfeita! ?




Bruno 08/11/2010

Comédia Romântica um pouco Trágica
Ri muito com esse livro, principalmente do Dâmaso, figura cômica, daria um filme excelente cheio de situações de confusões e embaraços, cornos e micos, na maior parte do ponto de vista masculino, já que a maioria dos personagens são deste genêro, e ainda, no final, uma ironia meio humor negro, uma coincidência do autor, ops, do destino que é facilmente percebido pelo leitor logo no início do volume 1. Gostei muito, ótimo livro para se divertir!
comentários(0)comente

Kennedy 17/09/2011minha estante
Comédia romântica?!




Bruno 28/10/2010

Comédia Romântica Masculina
É interessante esse livro pois mostra do ponto de vista quase que 100% masculino, relacionamentos, amizades e confusões de uns solteirões playboyzinhos. Ega e Carlos são a personificação desse termo já que ambos vem de familia com boa renda e arrumam muitas confusões, principalmente com as mulheres dos outros ou então com espanholas.
Interessante, divertido e longo. Gostei muito! Muito bom!
comentários(0)comente



Renato Medeiros 25/09/2010

Fuga de foco que prejudica a relação incestuosa

Carlos Eduardo da Maia é membro de uma das mais tradicionais e respeitadas famílias de Portugal, foi educado à inglesa por seu avô, Afonso da Maia, e tornou-se médico posteriormente, mas sua carreira profissional não progredira, passando então a maior parte do tempo executando o papel de ilustre cavalheiro. Desiludido pelo rumo que tomara a sua vida ociosa, encontrou em Maria Eduarda um grande amor, mas o que nenhum dos dois sabia é que eram irmãos e assim a relação tornou-se impossível, marcando para sempre a vida desses dois jovens.

Além do incesto, Eça de Queirós aborda outras questões polêmicas como as traições matrimoniais e o conflito entre Romantismo e Realismo vivido nas figuras de João da Ega, melhor amigo de Carlos, e Alencar, poeta e defensor do estilo romântico. Também critica a calamitosa situação na qual se encontrava Portugal e durante os prolongados jantares presentes no livro, situações políticas, econômicas e culturais são discutidas pelas personagens, constituídas em sua maioria por capitalistas e representantes políticos.

Por conta da atenção do autor à essas questões, há um deslocamento no foco principal da história, às vezes, deixando o caso amoroso entre os dois irmãos em segundo plano e exaltando apenas as reuniões que Carlos participava. Cenas desnecessárias ocupam muitas páginas tornando a leitura lenta e monótona, mas é possível perceber que há uma ótima construção de capítulos, belas descrições e grandes momentos de tensão e apreensão que levam o leitor ao ponto máximo da expectativa, o problema é que essas cenas são abafadas pela grande quantidade de rodeios.

Eça de Queirós concluiu Os Maias ao longo de uma década e tentou transformá-lo em uma obra magnífica utilizando-se de longos diálogos sem função e de excesso de personagens, esquecendo-se da simplicidade, mas conseguiu reproduzir o retrato de seu país e do mundo imperialista do final do século XIX. Recomendo àqueles que gostam de histórias de época e que têm paciência para ler um extenso texto com muitos detalhes e várias abordagens.
Kennedy 17/09/2011minha estante
Olha, o livro é muito bom e não merecia uma nota tão baixa. Mas sua resenha está excelente, maravilhosa, concordo com as enroladas que Eça de Queirós fez e que tirou o foco da relação entre Carlos e Maria Eduarda. A estória só pega fogo mesmo lá pela página 450.


Renato Medeiros 17/09/2011minha estante
Que bom que gostei do texto. Mas é um texto antigo, de mais de cinco anos. De certo, hoje não escreveria dessa forma e teria um novo olhar sobre o livro 'Os Maias'. De qualquer forma, continuo achando que o livro não merecia uma nota maior que dois. Mas toda uma questão de estilo, de contexto histórico em que a obra foi produzida. De qualquer forma, enquanto apreciador 'desinteressado' de literatura, continuo não apreciando essas mais de 450 páginas. O que trouxe um problema a minha leitura de Eça de Queirós. Por causa de 'os Maias' até hoje não voltei a ler o autor, com receio de me decepcionar novamente, por mais que me digam que os outros livros dele são diferentes. Obrigado pelo comentário.




Letícia 21/07/2010

Este foi um livro que me acompanhou por vários meses... Confesso que fiquei triste em acabá-lo, mas não muito contente com o final... por mais que eu já conhecesse o final e não conseguisse desmembrar os personagens dos atores globais. Eça de Queirós é extremamente detalhista, o que torna a leitura um pouco demorada. Mas valeu a pena.
comentários(0)comente



José Ricardo 05/06/2010

Sexo com a irmãzinha é pecado? Vai falar isso para um tal de Carlos...



Sexo com a irmãzinha é pecado? Vai falar isso para um tal de Carlos...



RESENHA PUBLICADA ORIGINALMENTE EM MEU BLOGUITO:

www.literaturaeshow.com.br

VISITE-ME!

Bom… Se em 1500 Pedro Álvares Cabral “descobriu” o Brasil, em 2010 alguns portugueses estão descobrindo do nosso blog. Por isso, quero escrever mais sobre a riquíssima literatura portuguesa, juntar materiais legais aí pelas esquinas da Internet. Trazer nomes como Camões, Fernando Pessoa, Agustina Bessa-Luís, Mário de Sá-Carneiro, Eça de Queirós.

Falando em Eça, dia desses, numa postagem sobre Literatura erótica e pornográfica, citei três obras queirosianas que escandalizaram, no final do século XIX, a cidade de Lisboa e não somente ela, mas como todo o mundo. São elas: O crime do Padre Amaro (1875), O primo Basílio (1878) e Os Maias (1888). Eça uniu-as, formando uma trilogia que chamou de “Cenas da vida portuguesa”, na qual examinava a fundo a sociedade lisboeta do último quartel daquele século. Segundo ele, o que enlaçava as três narrativas era evidentemente a crítica, mas também os maiores pecados dessa cidade: o não cumprimento do celibato clerical, o adultério e o incesto, respectivamente.

Para fins didáticos, dividimos a obra queirosiana em três fases. Na primeira, temos Prosas Bárbaras, onde podemos constatar algumas características românticas, como predomínio de um sentimentalismo piegas. A segunda corresponde à trilogia mencionada, e a dissecação da sociedade dá o tom. Finalmente, num terceiro momento, o autor vai aliar-se à literatura que preconiza um estudo mais detalhado do homem, mais próximo do real. Os livros mais importantes dessa fase são A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras.

Mas hoje quero falar especificamente de Os Maias, a “obra-prima do romance naturalista universal”, nas palavras de Antonio Candido. Nele, Eça de Queirós, influenciado que estava pelas teorias positivistas e deterministas e ainda por Zola e Flaubert, propunha uma correção dos vícios da sociedade fazendo um retrato dela e demonstrando a ociosidade da aristocracia e a história da tragédia familiar dos Maias, que mesmo possuindo caracteres excepcionais, têm seus destinos determinados pelo meio social. Surge assim o romance de tese, em que uma idéia, o determinismo, seria comprovada pelo agir e interagir dos personagens.

O tema é realmente polêmico. Carlos Eduardo e Maria Eduarda são amantes. São amantes e são irmãos, embora a princípio não o soubessem. E a história nem é tão complicada assim. O jovem Pedro da Maia fora criado pelos pais dentro dos sagrados princípios católicos da moral e dos bons costumes. Melancólico, inseguro, ensimesmado, Pedro descobre o fogo das paixões ao conhecer a tempestuosa Maria Monforte, filha de um ex-traficante de escravos. Mas o velho Afonso, patriarca dos Maias, não abençoa o amor do filho pela negreira (apelido atribuído a Maria em virtude do antigo ofício do pai), pois ela não pertencia à mesma classe social que eles. Os apaixonados fogem, rompendo relações com Afonso, e têm um casal de filhos. Anos depois, Maria se apaixona por Tancredo, um príncipe italiano que o marido havia ferido numa caçada, e vai embora com ele, levando a menina. Humilhado, traído, abandonado, Pedro retorna com o menino à casa paterna e, como na parábola bíblica, é recebido por um Afonso de braços abertos. Mas a dor e a vergonha foram maiores: Pedro decide não mais viver e dá cabo da própria vida. Maria Eduarda é criada pela mãe. Carlos Eduardo é criado pelo avô, seguindo os moldes ingleses. O tempo passa e o destino lhes é implacável: põe os dois irmãos na mesma cama. Mal sabiam eles o que estava por acontecer.

Mas deixemos, provisoriamente, o incesto de lado. O livro não é somente isso. Como a moda na época era a valorização do ambiente, já que para os deterministas o homem era produto do meio, a casa dos Maias ganha destaque e é apresentada já no parágrafo inicial do livro, com o nome de Ramalhete, pois era hábito naqueles tempos batizar as edificações familiares. O narrador já avisa, na primeira página: sempre foram fatais aos Maias as paredes do Ramalhete.

As personagens secundárias são um caso à parte. João da Ega, melhor amigo de Carlos, é tido pelos críticos como um alter ego de Eça de Queirós. João da Ega, João do Ego, João do Eça, Ega de Queirós, Ego de Queirós, Eça de Queirós, paranomasticamente, paradoxalmente, a mesmíssima pessoa. João da Ega representa os intelectuais da época: de muitos ideais e de pouca ação. Eusebiozinho, filho de Eugênia Silveira, beata amiga da família, é um fraco que se opõe a Carlos, seu amiguinho de infância. Com ele, Eça critica a “educaçãozinha” portuguesa, agarrada à barra das saias da “mamã” e da “titi”. Craft representa a subserviência portuguesa ao colonialismo britânico. Todos eles tipos, personagens vazias de alma, sem personalidade definida.

Voltemos ao incesto. Foi o sexo presente no título desta postagem que trouxe você até aqui, leitor. E eu não te condeno, pois também clicaria no link. Quando Carlos conhece Maria Eduarda, ela estava amasiada com um homem e atendia pelo nome de madame Castro Gomes, mesmo não sendo casada de fato. E os dois irmãos se apaixonaram. E assim como a mãe, também Maria e também adúltera (determinismo hereditário? Certamente!), Eduarda abandona o lar e foge para junto de Carlos. Para eles, apenas um obstáculo era empecilho da felicidade completa. E ironicamente, o mesmo obstáculo que por primeiro impedira a felicidade de seus pais: a personalidade austera de Afonso. Mas quanto a isso, era só esperar que o velho morresse.

É aí que entra em cena outro velho, o jornalista Joaquim Guimarães. Ele entrega a João da Ega uma caixa de documentos, que Maria Monforte havia lhe confiado no passado. E assim, o melhor amigo de Carlos descobre a verdade e lhe faz a trágica revelação: os amantes eram irmãos.

Carlos sofre. E poderia viver neste sofrimento se fosse Os maias uma obra romântica. Mas já estávamos no Real/Naturalismo. E o bicho Carlos é mais forte. Seu corpo gritava pelo corpo do bicho Maria. E ele, consciente do que fazia, possui a irmã, talvez com um desejo mais ardente que o de antes. Um desejo animal, que não sabe de nada. Um desejo que apenas deseja:

Tocou no leito; e sentou-se muito à beira, numa fadiga que de repente o enleara, lhe tirava a força para continuar essas invenções d'águas e de feitores, como se elas fossem montanhas de ferro a mover.

O grande e belo corpo de Maria, embrulhado num roupão branco de seda, movia-se, espreguiçava-se languidamente sobre o leito brando.

— Achei-me tão cansada, depois de jantar, veio-me uma preguiça... Mas então partires assim de repente!... Que seca! Dá cá a mão!

Ele tenteava, procurando na brancura da roupa: encontrou um joelho a que percebia a forma e o calor suave, através da seda leve: e ali esqueceu a mão, aberta e frouxa, como morta, num entorpecimento onde toda a vontade e toda a consciência se lhe fundiam, deixando-lhe apenas a sensação daquela pele quente e macia onde a sua palma pousava. Um suspiro, um pequenino suspiro de criança, fugiu dos lábios de Maria, morreu na sombra. Carlos sentiu a quentura de desejo que vinha dela, que o entontecia, terrível como o bafo ardente de um abismo, escancarado na terra a seus pés. Ainda balbuciou: “não, não...” Mas ela estendeu os braços, envolveu-lhe o pescoço, puxando-o para si, num murmúrio que era como a continuação do suspiro, e em que o nome de querido sussurrava e tremia. Sem resistência, como um corpo morto que um sopro impele, ele caiu-lhe sobre o seio. Os seus lábios secos acharam-se colados num beijo aberto que os umedecia. E de repente, Carlos enlaçou-a furiosamente, esmagando-a e sugando-a, numa paixão e num desespero que fez tremer todo o leito.


E quanto ao fim? Eu sei, mas não te conto, mesmo acreditando que na Literatura o importante não é o que se diz, mas COMO se diz. Até a próxima postagem...



RESENHA PUBLICADA ORIGINALMENTE EM MEU BLOGUITO:

www.literaturaeshow.com.br

VISITE-ME!
Dora 29/05/2017minha estante
null




Isabella 26/02/2010

Caviar
É este Eça que deveriam nos dar para ler na escola. Sim, eu sei que seria impossível pedir que os alunos lessem um romance português tão extenso, etc, mas o fato é que "Os Maias" é incomparável, rico e delicioso em cada detalhe. As frequentes descrições que Eça adora escrever estão todas lá, os estrangeirismos, a excitação do século XIX pelo mundo que sintetizava na palavra "progresso", os tipos e personagens únicos, a filosofia e a as preocupações teóricas. Eça era um engajado em sua causa - conseguia estudar, digerir e pôr em prática as grandes propostas de sua época em sua obra. Como não vê-lo diluído e dissipado entre Ega, Alencar e Carlos? Como não simpatizar com o expoente máximo do realismo português que, ainda assim, se ressente e se expõe como herdeiro eterno do romantismo, no evidente diálogo final entre Carlos e Ega?
Há muito tempo um livro não me comovia tanto e não me dava vontade de gritar em alguns de seus momentos. Os maias, em suas paisagens, personagens e ideias, mudou algo em mim quando pensei que isso não ia mais acontecer - afinal, depois de certa idade, a ficção já não nos surpreende tanto.
O primo Basílio? O crime do padre Amaro? Esqueçam e vão direto ao que interessa.
comentários(0)comente



cid 30/09/2009

Somos romanticos, individuos inferiores
O livro é inesquecível, mas me ficou a conversa de Carlos com JOao da Ega ao final do livro. Somos Romanticos: indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão...Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, nao se desviando nunca dela ...
comentários(0)comente

Quel 05/08/2009minha estante
Até hoje me lembro especialmente dessa conversa final do João da Ega com o Carlos Eduardo...(os que se dirigiam só pela razão)"por fora,à vista,são desconsoladores. E por dentro,para eles mesmos,são talvez desconsolados.O que prova que neste lindo mundo ou tem de ser insensato ou sensabor...

-Resumo:não vale a pena viver...

rs

Adoro esse diálogo dos dois!

Adorei sua resenha!

bjs




Manu 23/04/2009

Graças à minissérie da Globo, fiquei completamente viciada na história d'Os Maias e não demorei a ler o livro. Tão bom quanto a versão pra TV!
comentários(0)comente



184 encontrados | exibindo 166 a 181
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 12 | 13