Fabi 12/01/2020
Os Maias estão na "boca de Matilde".
"Sabe Deus porque escolheram justamente o nome Matilde para simbolizar as fofoqueiras. Coitadas das matildes que vivem neste mundo, que injustiça! Mas o certo é que, “cair em boca de matilde”, desde os tempos dos nossos tataravós é sinônimo de estar literalmente na boca do povo". Fonte: Mar de Histórias
Leitor: O livro é bom?
Fabi: É. Mas é preciso um pouco de paciência e força de vontade para a leitura.
Leitor: Por que?
Fabi: Porque estamos falando de um romance que trata de Portugal no fim de 1800s, cujas roupas, comportamentos, pensamentos e linguajar eram outros.
Leitor: Ai, você está dizendo que o Eça escreve difícil e que eu não vou entender? Tá me chamando de burro/a?
Fabi: Não estou te chamando de nada. E vamos parar com essa palhaçada, tá? Quantas vezes abandonamos obras porque a escrita do autor era muito arcaica ou muito moderna e não estávamos entendendo nada? Ah, fala sério.
E é verdade jovem, o Eça escreve refletindo a época dele. Então, aproveite a oportunidade (como eu) para expandir seu vocabulário. Essa edição da Zahar é bem boa e tem várias notas de rodapé super explicativas.
Mas, vamos ao livro?
Os Maias conta a história da família Maia durante 3 gerações: Afonso (avô), Pedro (pai) e Carlos (filho). Eu diria que o livro tem basicamente 2 partes: Afonso e Pedro e Afonso e Carlos.
Contextualizando a época, a história se passa em Portugal ao final de 1800s e tem como pano de fundo a sociedade aristocrática que foi abandonada pela família real e "odeia" com todas as forças o Brasil (e os Brasileiros).
Perae, mas cadê a emoçar desse livro? Bom jovem só nas primeiras 80 páginas já tem de tudo. TUDO MESMO. Tem sacanagem, tem adultério, tem bebedeira, tem rebeldia, tem fuga e tem morte. Isso mesmo, nas primeiras 80 páginas. Eça safadeeeeeeeenho. u.u
Depois disso, você automaticamente ganha um título de nobreza e passa a frequentar os saraus, bailes, jantares, corridas de cavalo e quaisquer outros eventos desta natureza, a qual a sociedade lusitana tanto amava. E você vai enchendo um pouco o saco daquilo. Eu que o diga, meus bailes e saraus eram salvos pelo João da Ega (que dizem ser o alter ego do Eça). Que personagem hilariante!
E, quando se tem tantas festividades e nada pra fazer além disso, era fato a fofoca correr solta. Era um tal de fulano/a ser amante de beltrano/a, que todo aquele véu de puritanismo que os antigos contavam foi por terra. E com as desconfianças/ descobertas, vinham as ameaças de duelo, bengaladas e xingamentos (eu aprendi váaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarios pra usar no dia a dia. Muito chique.).
Eis que aparece Maria Eduarda. Essa personagem faz revirar os olhinhos de Carlos de paixão (epa, isso é spoiler?). E aí gente, é ladeira abaixo. Eu virei testemunha ocular desses dois, além do Ega. Estávamos condenados por esta história. Eu fiquei torcendo os bordados (u.u) e me abanando com o leque de seda (u.u'') várias vezes tamanha empolgação. Até senti vontade de voltar aos bailes e as corridas de cavalo.
Mas tudo que é bom dura pouco e é bom que estejam preparados para o que vem nas últimas 100 páginas eu diria. Eu não vou dizer o que acontece (lógico), mas é que deixar o coração em frangalhos e o cérebro estupefacto. u.u
Só fiquei me perguntando como as pessoas receberam essa obra naquela época.
Enfim, jovens percam o medo e deem o braço para este belo passeio por Portugal e sua gente. Não irão se arrepender.
site: https://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/21/nao-quero-meu-nome-em-boca-de-matilde/