Thiarlley 26/10/2019
Achei Tia Josephine uma traidora!
“O lago das sanguessugas” começa da mesma maneira que o livro anterior: os órfãos Baudelaire ansiosos pelo futuro que os espera. Mais uma vez, nunca ouviram falar dessa Tia Josephine e nem sabia qual o parentesco dela com os seus pais. A figura do sr. Poe e sua irritante tosse volta a aparecer, agora direcionando as crianças para o Cais de Dâmocles, lugar onde sua nova tutora vive.
O filme de 2004 apresenta a maravilhosa Meryl Streep como Tia Josephine e, apesar de uma atuação INCRÍVEL (como sempre), senti que a personagem foi pouco explorada dentro de suas peculiaridades. A série da netflix, por sua vez, apresenta Alfre Woodard da tutora deste livro que entregou uma atuação do mesmo nível que a de Meryl. Entretanto, tentando ao máximo segurar o spoiler, o desfecho da personagem do filme foi bem mais fiel que a da série.
Inseridos nesse novo ambiente, numa cidade costeira que tem o Lago Lagrimoso como uma de suas principais fontes de renda e locomoção, o lugar é frio e cinzento, como a vida dos órfãos nos últimos meses. De início, ao conhecerem sua tutora, as crianças se deparam com uma mulher ridiculamente medrosa de tudo e de todos, além de ter uma obsessão por gramática. Tia Josephine, também, vive sozinha a beira do Lago Lacrimoso, apesar de ter medo do lugar.
Os Baudelaire deram uma olhada. De início, os três garotos viram apenas algo semelhante a uma caixinha quadrada que tinha uma porta branca com a pintura descascando e que parecia ser um pouco maior do que o táxi que os levara até ali. Mas quando saíram do carro e se aproximaram da construção, viram que a caixinha quadrada era a única parte da casa situada no cume do morro. O resto dela – uma grande pilha de caixas quadradas grudadas umas nas outras como cubos de gelo – pendia das encostas, prendendo-se no morro por estacas metálicas que eram como patas de aranha. Ao olhar para seu novo lar, os três órfãos tiveram a impressão de que a casa inteira se agarrava ao morro como se ele fosse uma tábua de salvação. [...] Os órfãos não conseguiram deixar de pensar como uma mulher que tinha tanto medo do Lago Lacrimoso suportava viver numa casa que parecia prestes a se lançar em suas profundezas.
As coisas pareciam caminhar bem – dentro das limitações de tia Josephine, é claro – mas as crianças sentiam que poderiam chamar aquela casa de lar. E, quando Violet, Klaus e Sunny relaxaram, quando os órfãos acreditaram que talvez aquele fosse o momento em que estariam livres para descansar e deixar suas aflições de lado, ele apareceu. Usando um gorro azul de marinheiro e uma venda preta cobrindo o olho esquerdo. As crianças se apressaram para dizer “este é o conde Olaf”, agoniados e desesperados ao se depararem com o pior de seus pesadelos, mas, como era de se esperar, não foram ouvidos.
Aquele homem, para os adultos, era o simpático capitão Sham.
Uma das coisas mais interessantes que esse livro apresenta é como a linha entre o medo racional e o irracional é bem tênue. É apresentado, também, como as crianças são ridicularizadas na grande maioria das vezes – neste livro com mais ênfase que os anteriores – unicamente por serem crianças. Inúmeros foram os momentos que os órfãos Baudelaire tentam contar a verdade para os adultos ao seu redor e são ignoradas.
Como o conde Olaf sempre consegue nos achar? E onde está a sua perna? Como ele consegue se equilibrar na perna de pau? Quem era Belo e o que ele escondia?
A leitura continua sendo curta, com menos de 200 páginas, e nós do lado de cá continuamos a nos perguntar “Quem são essas pessoas? Por que Olaf insiste em sequestrar os órfãos Baudelaires?”, porém, tais perguntas não serão respondidas... ainda.
Ou, talvez, nunca sejam.
site: http://www.apenasfugindo.com/2019/01/resenha-desventuras-em-serie-o-lago-das-sanguessugas.html