Tamara 02/08/2017
*Resenha postada na íntegra e originalmente em: https://rillismo.blogspot.com.br/2017/08/resenha-o-primeiro-e-o-ultimo-verao-por.html
É fato conhecido que Letícia Wierzchowski é uma das autoras de quem sou fã convicta, e quando descobri que ela lançaria um livro mais voltado para o gênero infanto-juvenil, decidi imediatamente que gostaria de lê-lo, mesmo que eu não goste tanto desse gênero. Então, assim que pude adquiri-lo, logo comecei a leitura e claro, fui cativada já nas primeiras páginas. Aliás, ele nem tem tantas páginas, e realizei a leitura muito rapidamente, embora em alguns momentos, até mesmo enrolava para ir a diante, só para não acabar tão depressa.
É um livro bastante belo. Na verdade, ele não tem nada de extraordinário, não traz um acontecimento tão impactante ou uma reviravolta imensa, e sim nos apresenta coisas do cotidiano, do verão de uma garota de quatorze anos que está descobrindo sobre a vida, e é aí que reside a beleza do livro. A cada página lida, pude me identificar com aquela menina, descobrindo a si, aos outros e o mundo ao seu redor, e pude também me identificar com suas narrativas, pois também sou do sul e cada coisa que ela contava, dos dias de verão, das ações dos pais, do modo de comportamento, eu sentia que encontrava ali também pedaços da minha infância e adolescência e encontrava um pouco de mim naquela leitura.
O que mais me chamou atenção, é que a autora não nos situa exatamente no tempo. Pelos elementos presentes na obra, percebemos que provavelmente estamos na década de 1980, e isso é comprovado pelas bandas, músicas e brincadeiras que os adolescentes realizavam, mas não especifica, fazendo com que isso dê espaço para nossa imaginação alçar voos e se colocar no ano em que mais achar adequado. Também, encontramos muitas referências a bandas como Legião urbana, Blitz, u2, dentre outros, e pessoas famosas da época, como Renato Russo, Stevie Wonder e vários outros que estiveram presentes na vida dessa geração, além de mencionar carros, brincadeiras, comidas, lugares e costumes típicos dessa época.
O ponto que foi mais positivo para mim foi a escrita. Feita em primeira pessoa e trazendo a visão de Clara, com seus pensamentos de menina, e uma narrativa ao mesmo tempo leve e poética, ela leva-nos a mergulhar na história e sentir os cheiros e ouvir os sons que são descritos. Isso também me fez ter várias reflexões sobre o quanto é difícil passar por algumas fases, sobre como não entendemos alguns fatos até muito mais tarde e muito tempo depois que eles ocorreram, e o quanto evoluímos ao longo dos tempos, e como é dolorosa e necessária essa evolução na vida de cada um. Também,, admirei profundamente o modo como a autora construiu cada personagem, dispensando a perfeição, e fazendo-os muito humanos, muito cheios de erros, acertos, arrependimentos e de dores. Ainda, um acontecimento final, envolvendo um dos amigos de Clara me tocou bastante, e me levou até a derramar lágrimas, sendo ele mais uma prova do quanto o destino é cruel e sorrateiro, e essa percepção sobre destino é algo muito recorrente já nos livros da autora.
O ponto que não foi tão negativo para mim, mas que me fez lamentar, foi o número de páginas. Sendo um enredo que se passa em 152 páginas, que parecem até menos, de tão rápido que devoramos o livro, penso que este poderia ser ainda mais estendido, pois eu amaria lê-lo por muito tempo, mas também sei que ele terminou na hora certa e onde deveria terminar para deixar esse sentimento tão bom de aprendizado que deixa no leitor. Também, essa banalidade que encontramos na obra, sem muitas reviravoltas que animem o leitor, pode ser incômodo para aqueles que embarquem na leitura a procura de mais ação.
Clara é uma personagem fascinante. Com sua evolução, sua transição da fase de adolescente para a adulta, sentimos muitas coisas juntamente com ela, e encontramos uma inocência já não mais presente na maioria das crianças e adolescentes atuais, que já são de uma outra geração e já obtém muitos conhecimentos pelos aparelhos eletrônicos aos quais tem acesso desde muito cedo. Aqui, encontramos uma personagem que ainda acredita em felizes para sempre, que valoriza mais que tudo uma amizade e que ainda envia cartas, escritas com todo o carinho. Além de Clara, muitos outros personagens me marcaram, como Madalena, a mãe da garota, que é uma mulher sofrida em seu casamento, que suporta muitas traições e que é de uma geração que aprendeu a aguentar as coisas calada, e aprendeu a levar tudo sempre em frente. E também Bia, uma menininha gorducha, engraçada e que ao final da obra, deixou sua marca indelével em mim e que me marcou profundamente devido a seu destino.
O livro é dividido em dezenove capítulos bem curtos, e mais um epílogo, e conforme já relatado, a narração é toda feita em primeira pessoa, pela personagem clara. Realizei a leitura em ebook e encontrei uma revisão perfeita.
Recomendo essa obra para leitores que gostam de livros com um enorme tom de nostalgia. Livros que nos ensinam, nos marcam e se tornam obras bastante especiais, apresentando-nos uma época que já não existe mais e fatos tão críveis que poderiam ter acontecido com qualquer um de nós.
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