cacai 29/05/2018
♪ E agora o Pinhal não tem mais a gente lá ♫
Durante a leitura de “O primeiro e o último verão”, de Letícia Wierzchowski, é impossível não se pegar cantarolando o sucesso de Cidadão Quem homônimo à praia em que se passa a história. “Eu volto pra lembrar que a gente cresceu na beira do mar”, canta Duca Leindecker, como que traduzindo a essência do livro.
É natural e até esperado que muitos leitores possam chorar com os relatos de um dos veraneios de Clara na praia do Pinhal, no litoral do Rio Grande do Sul. Se muitos emocionam-se pelos acontecimentos tristes (não entro em detalhes para evitar spoilers), no meu caso foram lágrimas de pura nostalgia. Sequer conheço o balneário, mas, assim como muitos gaúchos, também tenho um caso de amor com alguma praiazinha cuja pouca infraestrutura é inversamente proporcional à quantidade de memórias evocadas – no meu caso, Arroio do Sal.
Em 2013, em entrevista ao jornal Zero Hora, Duca contou que compôs a música em homenagem ao irmão mais velho e o nome faz menção ao local em que ele conheceu a esposa, ponto de veraneio da família. “Cada um tem o seu Pinhal. Cada pessoa que ouve, associa a canção com o seu próprio sentimento, sua própria emoção”, definiu. Como não encontrar conexões entre a música e o livro?
Não sei se moradores de outros estados também nutriram durante a infância aquela gostosa sensação de esperar até o verão para viajar de carro com a família só para encontrar o mar gelado e com cor de achocolatado pouco convidativo a mergulhos. Mas quem está na casa dos 30 anos se enquadra nesta categoria, certamente sentiu um calorzinho gostoso no peito já nas primeiras páginas. E mesmo que as minhas lembranças girem em torno de temas muito diferentes - não tive nenhum amor de verão, por exemplo – os elementos que compõem o cenário estão todos ali: a tranquilidade, os deslocamentos de bicicletas, as centrais telefônicas onde os veranistas faziam fila para falar com a família na cidade e as idas ao centrinho para tomar sorvete ou jogar fliperama (no meu caso havia o jogo bingo também).
E para não dizer que não falei da trama, é uma história de adolescente evocada na vida adulta – o que dá um ar diferente dos demais dramas juvenis quando narrados no tempo presente e voltados para este público. Para muitos pode parecer uma história bobinha, sem grandes reviravoltas de tirar o fôlego, mas é justamente o tipo de enredo que nos últimos tempos passei a amar. Para os que gostam de debruçar-se sobre a construção dos personagens e seu lado psicológico, há também um prato cheio para analisar relações de amizade e relacionamentos amorosos, o peso do não dito e a maneira com que cada um lida com suas dores. O melhor de tudo é que dá para ler em um dia só!