DIRCE 30/11/2010
Insólita jronada
No início, confesso que tive uma dificuldade danada de engrenar na leitura deste livro. Foi tal qual as rodas de um carro tentando sair da lama: patinando, patinando e patinando, mas apenas no início, pois logo me entreguei a leitura com ansiedade e interesse culminado, no final, em êxtase, sem aos menos me dar conta da ausência quase que total de parágrafos e da narrativa prolixa ( a ponto de ficar sabendo que Juan jogou a sacola de plástico no lixo).
Dentre muitos temas que o livro trata estão as escolhas e, eu, me senti a escolhida. Escolhida por Juan ( o narrador) para mergulhar em seus pensamentos, em seus colóquios ( em português – Juan era intérprete, risos) e descobrir o que ele não quis saber,mas soube.
Tornei-me cúmplice de Juan, pois ele me segredou suas inquietações, suas incertezas, suas desconfianças, seus receios, seu medo em relação ao kit casamento: a rotina e a possível perda de identidade do casal, segredou-me até a sua compaixão por quem busca o que todos buscam: ser feliz (ainda que essa busca esteja longe de ser ortodoxa; como a de Berta).
Embrenhamos-nos juntos nessa insólita jornada, eu, seguindo Juan paulatinamente.Muitas vezes me vi obrigada a reler seus pensamentos para poder entendê-lo e, entender a sua preocupação com as palavras, com a “leitura” feita por quem as ouve (não foi uma interpretação errônea de uma frase dita por Tereza que provocou um gesto monstruoso e um outro desesperado? ) com o poder de persuasão que ela emana , um poder intrinsecamente ligado à iniqüidade da língua, uma vez que, ela pode, como uma víbora, expelir veneno.
Palavras...elas são no mínimo polemicas. Creio que cabe aqui uma colocação acerca do título: Coração tão branco.
Desde o momento em que a Paulinha indicou o livro em seu Grupo, para a leitura do mês de novembro, o título despertou minha curiosidade. Soube que ele provém de "Macbeth" (W. Shakespeare ), mais especificamente, da frase sussurrada por Lady Macbeth ao marido, que acabara de assassinar o rei Duncan: "Minhas mãos são de tua cor; mas me envergonha trazer um coração tão branco".
Entretanto, tomar ciência da origem do título , não foi o bastante para me esclarecer o seu real significado. A primeira vez que o li, julguei que significava coração "blindado". Depois pude perceber, pela resenha feita pela Sylvia , aqui no Skoob, que ela entendeu como um coração imaculado. Será? É...acho que sou obrigada a concordar com ela. Mas como saber se ela está certa se o próprio Juan questiona: (...) a não ser que " branco" queira dizer aqui "pálido e temeroso" ou " acovardado" . (pág. 69)
No final da nossa jornada, me perguntei qual seria a cor do pensamento e obtive como resposta , que os de Juan, sem dúvida, eram branco e preto, mas no final, após Juan apaziguar sua inquietações, ele quase que toma a cor do arco-íris e até deixa entrever o "pote de ouro".