Luiz Pereira Júnior 02/11/2020
Qualquer dia é 15 de outubro
Antes de mais nada, um de meus lemas: sou contra qualquer preconceito (inclusive literários). Então, se eu estou sede (parafraseando Guimarães Rosa), não faço distinção entre as águas de um riacho, de um lago ou do Amazonas (mas, como certos livros, água salgada faz mal para a saúde).
Uma confissão: demorei décadas (exagero, é claro) para ler algo da obra de Thalita Rebouças, de que alguns alunos (mais especificamente, algumas alunas) tanto me falavam. Não por preconceito, como já disse, mas simplesmente porque outras águas, ou melhor, outros livros me atraíram bem mais à época da sede (ou melhor, da vontade de ler).
E o que dizer? Gostei, mas vim desarmado. Não esperava encontrar altos voos psicológicos, profundidade reflexiva, hermetismo linguístico, é claro. Thalita fala (escreve) para os jovens, e por meio dessa leitura podemos, sim, ter outra visão de nossos filhos e de nossos alunos.
Não há critica social e, se há, deve ser tão tênue que acaba se desfazendo em meio às situações que ora se apresentam engraçadas, ora se apresentam meramente forçadas. Mas confesso que fiquei embevecido (para não falar “emocionado”, palavrinha que virou chavão para qualquer sentimento que se tenha) com a homenagem final aos professores.
Pode-se fazer qualquer crítica ao livro: fútil, um retrato tolo da despreocupada juventude burguesa de classe média, raso como uma colher de sopa (e, vamos aos fatos, em alguns trechos tais críticas até que se tornam merecidas), mas também é preciso levar em consideração que não é a intenção do livro fazer a análise proustiana do tempo perdido ou retratar a vida das camadas mais desfavorecidas da nossa gente (bem que a autora poderia fazer isso em alguma de suas futuras obras e sair um pouco da viagem ao redor do umbigo).
Pensando melhor em relação ao “proustiana”. Talvez haja algo de proustiano em uma obra rebouciana (ou thalitana - escolha à vontade, querido leitor) que busca reviver seus dias de juventude (será que a protagonista é a própria autora? Duvido um pouco disso).
Afinal, para nós, adultos, vale relembrar nosso período de escola (no meu caso, sendo professor, o passado acaba sempre por se refletir no presente e o presente sempre se entrelaça ao passado) assim como vale para os adolescentes (ou ao menos uma parte deles) ver o próprio retrato nas páginas escritas – retrato esse, diga-se de passagem, nem sempre elogioso...