Carla Brandão 26/07/2017Ona Viktus é uma imigrante lituana. Aos 104 anos, acredita já ter vivido tudo o que uma pessoa pode viver durante sua passagem por este mundo: viu guerras, se casou, trabalhou, teve filhos. A idade avançada também fez com que presenciasse a partida de muitas pessoas queridas. E é nessa posição de quem nada mais espera que ela é surpreendida.
Jovens escoteiros ajudavam a idosa com as tarefas de sua casa, como limpar o quintal e alimentar os pássaros. Alguns passaram por sua vida, mas apenas o menino foi capaz de despertar sua simpatia, seu carinho e sua amizade. O garoto de 11 anos, magricela, obcecado pelo Livro dos Recordes e colecionador de objetos (sempre 10 de cada) foi capaz de trazer objetivos para o futuro para uma vida já tão cheia de passado.
A ligação entre o menino e a senhora foi tão verdadeira que ela pouco se incomodava em contar detalhes de sua vida enquanto ele gravava tudo com um pequeno gravador. A tarefa escolar de contar a história de uma pessoa idosa preencheu os encontros dos dois e aproximou ainda mais a improvável dupla de amigos. Quanto mais tomava conhecimento da vida de Ona, mais empolgado o menino ficava. Não demorou muito para ele definir uma meta: sua amiga entraria para o Livro dos Recordes como a Motorista Habilitada Mais velha. Os dois se divertiam acompanhando os concorrentes e estudando para a prova de direção.
Mas um dia o menino não apareceu. Em seu lugar, um homem: Quinn Porter, um guitarrista que nunca deu muito certo, pai do menino e duas vezes separado de sua mãe. O pior havia acontecido, de forma inesperada. Ele pouco conhecia o filho, mas agora estava ali para terminar a missão dele como escoteiro durante os sete sábados que ainda restavam. Foi a promessa que fez para sua ex-eposa, Belle. Ele, que já tinha se ausentado tanto e participado tão pouco da vida do menino, não podia negar essa tarefa. Ona, que já havia perdido tanta coisa e tanta gente, inicialmente desconta em Quinn a frustração por ter que viver mais um luto.
No decorrer da trama, vemos Belle lidando com a dolorosa e irreparável perda de seu único filho, Ona tentando dar continuidade aos planos feitos com o menino e Quinn, finalmente, conhecendo seu filho.
A autora não deu um nome para o menino e deu poucas falas para ele. Durante as entrevistas feitas com Ona, inferimos suas perguntas pelas respostas que a senhora dá, pois elas também não estão lá. Ainda que com pouca presença concreta, o menino faz parte das páginas do início ao fim. Sua breve vida, como um fio invisível, ligou outras três e foi responsável por importantes mudanças e aprendizados em todas elas.
Narrado em terceira pessoa, Um menino em um milhão aborda diferentes formas de vivenciar o luto, as relações familiares, os laços que construímos ao longo da vida e a importância da amizade. Apesar da premissa emocionante e bonita, não é o tipo de livro que leva lágrimas aos olhos dos leitores. Terminei a leitura com a sensação de que, nessa história específica, me conectaria mais aos personagens se a narrativa fosse em primeira pessoa.
Monica Wood entrega ao leitor uma trama que provoca importantes questionamentos: você tem parado para ouvir? Você conhece bem aqueles a quem ama? Tem estado verdadeiramente presente na vida deles? Quinn, Belle e Ona aprenderam a importância dessas três coisas.
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