Pavozzo 14/02/2024
"Carnaval" de imagens
Publicado em 2017 na esteira de quatro livros previamente rejeitados - sendo os três primeiros pelos editores e o último pelos próprios leitores - "Caraval" é a obra na qual a escritora americana Stephanie Garber PARECE ter acertado a mão. Enfatizo o "parece" porque muitas coisas nesta história não são reais - inclusive o talento da escritora.
Ambientado em um reino insular, duas irmãs sonham com o dia em que poderão deixar a sua terra natal para explorar o mundo e escapar da tirania do pai. Essa possibilidade surge com a chegada de um convite para que ambas participem de um jogo fantástico chamado "Caraval", no qual o(a) vencedor(a) terá direito a um desejo.
Somos logo advertidos de que os organizadores do "Caraval" se esforçarão para que tudo pareça o mais real possível, embora trata-se apenas de um "teatro". Pelo menos nesse objetivo específico, creio que a autora conseguiu atingir: houve um dado momento na leitura - por volta de 70/80% do livro - em que eu não sabia mais em quê acreditar. São diversas revelações ao longo da trama que vão destruindo tudo o que você havia imaginado até então.
No entanto, falando em imaginação - o que acho que Garber tem, e muita - a autora não conseguiu colocar em palavras as imagens, as sensações, a "magia" prometida pela história. O texto é por vezes atarantado, e ela faz uso de algumas figuras de linguagem que são, no mínimo, esquisitas e que em nada ajudam no trabalho do imaginário:
"Violinos tocavam uma sinfonia mais intensa que o mais negro dos chocolates" (...)
"As luzes das lanternas lambiam os seus braços" (ARGH)
"O ar tinha gosto de luz" (que raios é isso?)
"O vidro das garrafas cintilava como pó de fada" (Sininho mandando "oi")
Além disso, não esqueçamos de que se trata de um jogo. Jogo? Pois bem, quais são as regras? Não sabemos. Não creio que os fenômenos mágicos precisem ser explicados, mas eles precisam de uma razão para existir - e aqui não há: tudo é jogado no leitor e você que se vire.
Trata-se de uma boa idéia, talvez não tão bem executada. Fiquei com vontade de participar do "Caraval", mas não de ler a sequência deste livro.