Jeo 19/12/2023
Um sopro de vida
"Hoje matei um mosquito. Com a mais bruta das delicadezas. Por quê? Por que matar o que vive? Sinto-me uma assassina e uma culpada E nunca mais vou esquecer desse mosquito. Cujo destino eu tracei. A grande matadora. Eu, como um guindaste, a lidar com um delicadíssimo átomo. Me perdoe, mosquitinho, me perdoe, não faço mais isso." (Um sopro de vida, p.69).
Esse foi o primeiro livro que li da Clarice Lispector, confesso que eu me surpreendi com a forma que ela escreve. Eu não esperava, foi uma surpresa para mim.
É um livro onde a Clarice cria um personagem chamado "Ângela" e o outro personagem é o "Autor". É como se fosse uma conversa, eles tentam se entender, o "Autor" tenta explicar a Ângela e é incrível. É tudo como se fosse um diálogo. No posfácio do livro na p.183 é dito: "Para se encontrar consigo mesmo, ele precisa de se libertar do "luxo da alma" que tomou conta de Ângela e é por isso que tanto se aproxima como se afasta da personagem a quem dá vida".
Clarice diz: "Quero que cada frase desse deste livro seja um clímax" p.15. Isso realmente acontece, é por isso que meu livro tem muitas marcações.
Ele fala sobre a vida e a solidão, fala sobre amor próprio, sobre Deus, o Desconhecido, o tédio. Clarice se expressa da forma que está naquele momento, ela escreve sobre o que quer, sobre o que dá na telha, sobre o que está sentindo.
Não é um livro fácil, Clarice também diz que não é preciso entender o livro, é preciso sentir. Com isso em mente, a leitura fica fluída, fica mais fácil digerir a complexibilidade. Claro que, a personagem Ângela, as vezes escreve algumas coisas sem conexão uma com as outras (principalmente em seu livro) mas é preciso saber que isso é característico dela.
É meu primeiro livro de Clarice e fico muito curiosa para conhecer as suas outras obras. A partir disso, digo que eu recomendo ao menos conhecer Clarice, eu me surpreendi e agora entendo o motivo pelo qual a Clarice é grande. Ela apresentou um estilo muito diferente e cativante.