spoiler visualizarClara 23/03/2022
Essa não é uma história de redenção, mas sim de loucura e de uma subida vertiginosa ao poder
Levana, a vilã da série “As crônicas lunares” e sua “história de origem”.
O livro começa no dia do funeral dos pais da princesa Levana e da futura rainha, sua irmã mais velha, responsável pelo grande acidente de infância que mudou a vida inteira de Levana. O que sabemos é que metade do seu rosto e corpo foram queimados, causando grandes deformações. Fiquei chocada que o livro não começou mostrando o incidente, afinal pra quem leu a série era claro que aquele foi um momento decisivo para transformar a princesa lunar e imaginei que seria a maneira mais rápida de criar empatia no leitor, mas não foi esse o rumo que o livro tomou.
A verdade é que Levana cresce alheia a sua própria loucura e obsessão. Os lunares podem manipular sua aparência até a perfeição e saber estar deformada por trás do glamour danifica a mente de Levana mais do que ela se deixa assumir. E sua aparente “paixão” por um guarda do palácio passa de algo comum em garotinhas de 16 anos para uma fixação doentia no momento em que fica claro que ela não o pode ter.
Mas em sua mente, Levana demoniza Channary. Ela é apenas uma pobre princesa que precisa lutar diariamente para que ninguém a veja como é. É a única pessoa que sabe o que é bom para Luna e a única que merece liderar seu povo. Ela é esperta e pode ser charmosa e divertida, delicada e a imagem de uma princesa. E a vida lhe é injusta.
Seus defeitos e insanidade se tornam desconhecidos para si mesma. E então diante do que ela considera uma vida difícil, pequenas coincidências e oportunidades lhe aparecem. É o destino, lhe dando tudo que ela merece. Um acidente ali, uma enfermidade aqui. Tudo são pequenas chances que obviamente são em favor de alguém como ela.
E então em seu devaneio Levana não percebe que pequenos acidentes deixam de ser acidentes. Que livre-arbítrio se torna manipulação. E ela constrói uma rede de mentiras tão elaborada que nem ela consegue distinguir a verdade da mentira.
Vemos o seu plano de conquista se formar em meio a um glamour doentio e sua vertiginosa e aparentemente inocente subida ao poder, tudo isso pela lente de sua narração confusa e imparcial e seus sonhos febris.
É cru e impactante. Todavia, não tem o mesmo impacto que poderia ter tido. A verdade é que Levana é uma personagem mediana, meio fria, durante a saga. Não acho que ela seja uma vilã ruim, de motivações pífias ou sem carisma, mas quando comparada ao resto do elenco, ela se apaga. E por isso embora a história seja forte e cheia de gatilhos, pra mim ficou meio méh.
Se você gosta muito da saga, vale a leitura. Se não, pode passar, não é nada obrigatório.