spoiler visualizarnanda :) 14/07/2023
As Garotas: é isso? Acabou?
“Elas não tinham uma grande altura da qual cair — eu sabia que o simples fato de ser uma garota incapacitava sua habilidade de acreditar em si mesma. Sentimentos pareciam completamente indignos de confiança, como palavras sem nexo formadas num tabuleiro ouija. Minhas visitas ao médico da família, na infância, eram eventos estressantes por esse motivo. Ele me fazia perguntas gentis: como eu estava me sentindo? Como eu descreveria a dor? Era mais aguda ou mias espalhada? Eu apenas olhava para ele em desespero. Eu precisava ser informada, esse era o sentido de ir ao médico. Para ser examinada, passar por uma máquina que pudesse sondar minhas entranhas com precisão irradiada e me informar qual era a verdade.”
Tinha ouvido falar desse livro em algum lugar e, quando encontrei no sebo, capa dura com jacket, convenci minha irmã mais velha a comprar. Peguei ele em vez de Love, Simon.
Me arrependo? Muito.
Esse livro é um clássico thriller, como “Os Mentirosos”: escrita conceito, coisas mal ditas, atmosfera sombria e nebulosa. Porém, não vai muito além disso, e, se você não se encanta por essa narrativa, o livro passa batido, o que foi o meu caso. Nunca fui uma grande fã de thriller, e creio que nunca vou ser mesmo.
Em quesito de enredo, nada acontece nessa história além da sinopse. Não há um plot twist no final, não há pontos altos memoráveis, um grande nada de nada. Apenas vemos a Evie se “aprofundando” nesse culto, e nem isso direito, já que ela nunca realmente entre no culto. Tinha alguma esperança que algo aconteceria no presente, com a Evie adulta, talvez a Sarah descobrindo tudo, mas também não teve nada.
Por isso, é meio difícil se conectar com a história. Ela até chega a ser meio repetitiva, com a Evie entrando no rancho, sendo ignorada por Suzanne, indo embora, voltando. Não tem nada além disso, nenhuma história correndo por trás, e, por causa da história no presente, já sabemos que o culto teve alguma coisa relacionada com um homicídio. O máximo que você descobre com a história é o motivo, que, francamente, é bem fraco.
Dessa forma, o livro fica nesse limbo, onde ele não conta nada. Não vemos a Evie se envolvendo com o culto, não vemos o culto se desenvolvendo, a história se passa batido. Gostaria de ter visto um desenvolvimento muito maior, principalmente em relação a personagem principal, porque, apesar de apenas vermos a sua história, ela não é aprofundada.
Um ponto positivo dessa história foi a abordagem do culto em relação a Suzanne. Mostrar que, não necessariamente, uma pessoa fica em um culto por causa do líder, neste caso, o Russell. Talvez tenha sido porque a Evie estava conectada a Suzanne, e não ao Russell, que ela não tenha se envolvido mais, porém a autora não soube mostrar isso na história. Eu via muito potencial nessa linha, mas não sinto que ela foi 100% aproveitada, assim como a maioria dos aspectos desse livro.
Em especial as cenas de abuso dessa história. Eu entendo o motivo para elas existirem, para mostrar as problemáticas do culto e dar essa sensação à personagem principal que ela amadureceu, quando na verdade ela ainda continua uma criança. Porém eu acho que tinha outros jeitos de alcançar esses objetivos, sem colocar essas cenas desnecessariamente gráficas. Tipo, a cena do Mitch? Não consigo entender seu valor narrativo até hoje.
Apesar de ser florida e meio “cult” demais, a escrita não é ruim. Não é uma leitura fluída, mas eu acho que justamente porque ela estava trabalhando para criar a atmosfera do thriller, que eu não gosto e não me impressiona. Assim, mesmo sendo uma escrita bonita, não foi muito memorável para mim.
No fim das contas, esse livro me pareceu chato. Não gostei das cenas de abuso sexual, não gostei do aparente desenvolvimento da personagem, ou da premissa. Não creio que seja um livro ruim, só que, realmente, thriller não é para mim.