Rafael 27/02/2022
Um mundo que não é mais branco
Ao invés dos romances que tornaram James Baldwin famoso, foi através dos ensaios reunidos em "Notas de um filho nativo" (1955), primeira obra não-ficcional do autor, que passei a conhecê-lo.
Incentivado pelo amigo Sol Stein, Baldwin passou a escrever este livro, apesar de à época se considerar jovem demais (31 anos) para publicar suas memórias. Enquanto negro e homossexual, o novaiorquino oriundo do Harlem, com períodos de autoexílio na França (Paris) e na Suiça (Leukerbad), já tinha muito a nos contar, porém.
Na nota autobiográfica contida na obra, é possível observar a grande preocupação de Baldwin sobre como a questão racial é abordada no meio literário. Sobre o negro, "Não é só por se escrever tanto sobre ele; é porque o que se escreve é muito ruim" (p. 32). Nesse patamar foram colocados romances de protesto muito populares, como "A cabana do Pai Tomás" (1852), criticado por seu terror teológico e pelas fantasias sentimentais, sem qualquer ligação com a realidade.
Embora estadunidense, Baldwin acreditava que era um bastardo, um intruso no Ocidente. Sentia que a linha de seu passado o levava até a África, de modo que Shakespeare, Bach, as pedras de Paris ou o Empire State Building não abrigavam sua história ou compunham seu legado.
Em parte, esse estado alienante de não-pertencimento ou estranhamento aponta não só para uma história de injustiças e de supremacia branca, mas também para marcos de resistência e de lutas identitárias do povo negro.
"Este mundo não é mais branco, e nunca mais voltará a ser.? (p. 199)