Greice Negrini 12/01/2018Intrigante e EmotivoRahima é uma menina de apenas nove anos que vive em um país com grandes dificuldades. O Afeganistão está em guerra há alguns anos e tantos pessoas dentro de seu território quanto fora dele querem as riquezas que o país pode oferecer. E o problema é que a pobreza também afeta as famílias menores e das pequenas cidades. E Rahima é de uma família assim. Suas irmãs são mais velhas, porém viver com um pai que guerrilha junto de um homem poderoso e que nunca fica sóbrio quando está em casa é um martírio.
A única opção e conforto é a escola, onde elas podem frequentar, desde que os meninos não as olhem e não as persigam, já que a tradição do país diz que se um homem ficar atrás de uma mulher ela se torna impura. E é assim que pensam todas as pessoas. A família de Rahima não conseguiu gerar um herdeiro e sua mãe se tornou amaldiçoada pela família do marido.
Outro consolo é a tia Khala Shaima, uma solteira que não conseguiu se casar por causa de seu defeito nas costas, já que isto é visto como uma maldição, apesar de que a irmã mais velha de Rahima também ter uma condição igual. Khala é uma alma nobre que cuida das sobrinhas como se fossem suas filhas e nunca desiste delas, mesmo que isto enfureça Padar-Jan, o pai das meninas.
Com a raiva de Padar-Jan, certo dia ele decide que as filhas não poderão mais voltar para a escola. A forma encontrada para fazer com que pelo menos a filha mais nova, Rahima, continue indo para a escola e frequentando lugares na cidade é que ela se torne uma bacha posh, que é uma menina que se torna um menino até os dez anos de idade. E é assim que Rahima passa a viver os seus dias, até que uma grande confusão faz com que Padar-Jan decida casar as suas três filhas mais velhas com homens cruéis.
Ao saber que aos treze anos teria que se casar com um homem com o triplo de sua idade, o desespero de Rahima foi imenso. Não somente isto mas também saber que Parwin, com sua deficiência teria que encarar uma família ruim que a maltrataria. E assim sua tia começou a contar a história de Shekiba, uma trisavó que por conta do destino passou pela mesma experiência, e que poderia fazê-las entender que em um mundo em que os homens acreditam que a crueldade reina, tudo pode mudar.
Shekiba nasceu em uma família extremamente humilde. Seu pai, mãe e irmãos trabalhavam arduamente na terra para prover a comida que precisavam. O problema é que aos três anos de idade Shekiba sofreu um grave acidente que deixou parte do seu rosto deformado para sempre e assim todas as pessoas tinham repulsa ao olhar para ela.
Depois de toda sua família morrer com uma grave doença, Shekiba fica anos sozinha até seus parentes resolverem que a terra de seu pai deve ser disputada e ela morar com sua avó e outros familiares. É neste momento que começa o sofrimento de Shekiba com o tratamento diferenciado, sendo tratada como escrava.
Em idas e vindas Shekiba acaba sendo dada como escrava para o rei e volta a se tornar uma bacha posh em um reino cheio de mistérios. Agora há uma possibilidade maior de conforto e dedicação, além da liberdade de viver como um homem. Porém novos acontecimentos vão mudar os rumos de toda uma história.
Aos poucos depois de ler esta obra fui me adaptando ao que tinha lido. Foi uma experiência diferente em questão de cultura e totalmente enervante em alguns momentos sobre como as mulheres eram tratadas. Sofri imensamente ao ler as cenas onde as mulheres passam pela tradição do casamento, da noite de núpcias, do que são cobradas e do que os homens esperam delas. É uma coisa tão cruel que me vi querendo rasgar as páginas em muitos momentos.
E então me dei conta de que a realidade é exatamente esta. Um lugar onde as mulheres não tem uma opção de escolha e que vivem na sombra do medo e das agressões físicas o tempo todo.
E é por esta razão que acredito que nós seres humanos já perdemos há muito tempo um pouco da humildade e dor amor condicional ao imaginar que o outro deve ser jogado à própria sorte. Luta-se por direitos iguais enquanto em outros países uma mulher é morta por apedrejamento por um motivo simples.
A autora sobre como expressar o sentimento sobre a sua origem, desde o início do século passado até as guerras que ocorreram no país e as consequências geradas disto tudo. Rahima e Shekima são entrosadas em capítulos diferentes para mostrar como mesmo em gerações distintas o tratamento acaba sendo o mesmo.
Só li verdades em um cenário castigante, em uma cultura rica porém acostumada a ser usurpada pelo tempo e pelos interesses políticos. Uma obra que com certeza vai afetar o emocional e o sentimento e trazer à tona as mais diversas sensações. É como um grito no escuro, um pedido de socorro que, espero eu, chegue logo a todas as nações que tendem a traduzir seu lema em sacrificar sua espécie.
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