Acervo do Leitor 22/10/2018
Jardim dos Famintos de Adams Pinto | Resenha | Acervo do Leitor
RESENHA – JARDIM DOS FAMINTOS
Jardim dos Famintos é uma obra ímpar dentro da Literatura Fantástica Nacional. Com seu início misterioso, flertando com o terror e trazendo à memória inúmeras influências, a obra de Adams Pinto instiga o leitor a desbravar o que ocorre neste mundo onde o sangue – quando exposto – desperta o instinto mais primitivo e nocivo dos ditos seres humanos. E é quando dois grupos distintos de pessoas despertam neste local nebuloso que as coisas começam a acontecer e a história nos fará navegar por um misto de suspense, terror e fantasia.
“Não existe mais humanidade,
não existe mais compaixão,
não existe nada no mundo
além de garras, presas e
morte! Somos animais!
SOMOS ANIMAIS!”
Seus personagens são até certo ponto bastante críveis, e com personalidades bastante distintas, o que enriquece nossa experiência e nós dá fôlego para conhecê-los cada vez mais. O mistério envolto da exposição do sangue às pessoas, e a insanidade coletiva causada por ele ditam a excelente primeira metade do livro. As diversas descobertas sobre o novo mundo, seus perigos abundantes e alianças mortais são parte de um todo que encanta. Momentos de tensão permeiam boa parte do Jardim dos Famintos, a busca pela sobrevivência é ininterrupta.
“Pandemônio: a manifestação mais absoluta da loucura. Corpos colidindo com violência desmedida. Ira, êxtase e Agonia. Dentes em bocas sorridentes procuram carne para rasgar, gargalhando, chorando, soluçando, compondo uma sinfonia medonha. Mãos, cujos dedos ficam a carne no intuito de despedaçá-la, também golpeiam ossos, errática e bestialmente. Não há homens, apenas monstros exibindo sua natureza mais doentia”.
Não há como negar que a edição do livro está primorosa, e as diversas ilustrações encontradas no intervalo entre capítulos corroboram esta questão. A simbologia é original e faz parte do cerne da obra. Sobre a história em si, há de se elogiar a coragem do autor ao mudar de maneira um tanto quanto drástica os rumos que as coisas tomaram no terço final do livro. As referências Lovecraftianas dão lugar aum desfecho onde a Fantasia um tanto quanto sombria tomam as rédeas da situação. Diversas alianças, outrora, consolidadas, dão lugar a rumos inesperados e reviravoltas, umas acertadas e outras com certa carência de fidelidade, nada, porém, que abale a obra como um todo.
“Com a ponta inferior da corda em volta do próprio tornozelo e o nó da outra extremidade atado ao pescoço de seu oponente, Samara escalou a árvore com uma rapidez felina e saltou sobre dois galhos, cirando um pêndulo: em um dos lados, o carniceiro foi suspenso com a corda, apertando sua garganta e, na outra ponta pendurada de ponta-cabeça a garota lutava para resistir aos solavancos do inimigo que sufocada. Ao mesmo tempo, precisou voltar sua atenção para o segundo oponente que se aproximava.”
SENTENÇA
A você, caro leitor, apresento um livro que ficará marcado em sua memória por um bom tempo, seja para bem ou para o mal. Confesso que adorei dois terços do livro, mas os rumos tomados no último ato não me convenceram como um todo, e me deixou com uma sensação agridoce. Que isto seja o seu combustível para desbravar está obra, como disse no início, ímpar!
site: http://acervodoleitor.com.br/jardim-dos-famintos/