Evy 03/01/2021Meu Deus, que livro!Estou sem palavras pra descrever a grandeza e a importância desse livro, mas farei o melhor que posso pois essa leitura realmente me marcou! Pra começar o ano já com uma leitura poderosa. Octavia E. Butler não só é mulher, como negra e a grande dama de um gênero dominado pelos homens: a ficção científica. Já por aí temos a ideia de quão extraordinária essa leitura será.
Em Kindred (Laços de Sangue), Butler nos apresenta a protagonista Dana, uma mulher negra que está completando vinte seis anos em 1976 e acabou de se mudar com seu marido para um novo apartamento. Ambos estão arrumando as estantes de livros, quando Dana se sente mal e cai de joelhos nauseada e seu mundo começa a sumir. Quando abre os olhos novamente, está em 1815 em uma fazenda escravocrata onde conhece Rufus, uma criança branca que aparentemente é um de seus ancestrais.
Dana começa então uma vida de viagens ao passado e ao presente sempre ajudando Rufus e passando por diversas situações terríveis e que colocam tanto a vida dele como a sua em risco, e que trazem reflexões extremamente pesadas, mas atuais e importantes. Você é arrastado pela narrativa extremamente envolvente de Butler e é impossível largar o livro antes de descobrir tudo que se precisa saber sobre Dana e a vida de seus ancestrais. É angustiante acompanhar as viagens, seus medos por ser uma mulher negra que aparece em um mundo onde negros eram perseguidos, maltratados, açoitados até a morte.
Ao longo da leitura vamos aprendendo junto com ela, como essas viagens acontecem e desvendando cada vez mais sobre sua história, mas é desesperador não saber quando a viagem vai acontecer e o que a aguarda do outro lado cada vez que ela acontece. A relação de Dana com seu marido que a princípio não acredita nela, mas que acaba na tentativa de ajudá-la indo com ela para o passado em uma de suas viagens, é muito bonita e cheia de aprendizados e crescimento.
Todo o livro é um aprendizado e uma reflexão muito grande. As cenas são descritas por Butler de uma forma tão verdadeira, que a gente sente a dor como se estivesse acontecendo conosco, ou ao nosso lado, ali ao alcance das mãos. Me vi emocionada e em total desespero em várias cenas e desejando do fundo do meu coração que elas não fossem um retrato fiel da nossa triste história.
Algumas citações que me marcaram demais nessa leitura:
"Não sabia que as pessoas podiam ser condicionadas com tanta facilidade a aceitarem a escravidão"
"Ela se ajustou, tornou-se uma pessoa mais contida e obediente Ela não matou, mas pareceu morrer um pouco".
"A escravidão era um processo que matava pouco a pouco".
"Há coisas piores do que morrer".
Com certeza entrou para os favoritos e eu recomendo demais a leitura.