Vidas Trans

Vidas Trans Amara Moira




Resenhas - Vidas trans


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Raoni Pereira 26/07/2021

A anatomia não é o destino
O livro traz o relato de quatro pessoas trans, contando suas histórias desde a tenra infância, ao constatarem a não identificação com o sexo biológico designado no nascimento, ao período de construção da identidade que subverte a lógica genital, à percepção e aceitação de seus desejos como bússola.

Por meio delas, também são apresentados conceitos como: identidade de gênero, orientação sexual, redesignação sexual, entre outros.
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Alexandre 27/12/2020

Imprescindível leitura
Em tempos tão sombrios é preciso nos apegar a leituras que nos emocionam, nos fazem refletir e nos impulsionam à luta por uma sociedade mais justa e diversa. Os 4 relatos me comoveram mesmo. Em especial o de João Nery, que há mais de 50 anos ousou questionar o que até então era inquestionável. De forma generosa, seu relato traz outras vozes que saíram do silêncio e do armário. Incrível e potente!
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estantedalulis 15/12/2020

Leitura necessária para absolutamente todos!!! Não é fácil ler tanta dor, mas é muito importante para entender a realidade de pessoas trans e sua luta.
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Dedé 14/12/2020

Transgênero
O livro retrata a história de quatro pessoas trans. É interessante porque aprendemos que orientação sexual e identidade de gênero são coisas distintas. Recomendo.
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Sancha 07/12/2020

Vidas Trans
Eu não tenho palavras para expressar o quanto estou grata por ter tido a oportunidade de descontruir alguns conceitos e refletir e repensar como é de suma importância avaliarmos nossas ações e postura em relação ao próximo, principalmente das Vidas Trans que simplesmente tem lutado para sobreviver e os relatos que a Amara Mora, a Márcia Rocha, o T. Brant e o João W. Nery compartilham neste livro é o simples fato de ter o Direito de Ser quem realmente eles são e como se dá essa busca pelo autoconhecimento e como se relacionar com o mundo.
Outro detalhe marcante no livro são relatos que transbordam sensibilidade em cada experiência de vida, de suas lágrimas, dos sorrisos, das vitórias, das oportunidades, de ocupar os espaços públicos, é tocante como alguns trechos nos comovem a refletir sobre esta luta que não se dá por meio da ignorância e sim pelo conhecimento.

Muito Obrigada por compartilhar suas experiências.
É essencial abrirmos espaços de discussões, para possibilitar acesso dignidade no Direito de Ser, Estar, Conhecer, Fazer e Existir.

Só tenho a agradecer a oportunidade de aprender com as vivências e experiências de vocês. Grata
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Phill 05/12/2020

Necessário
Forte e poderoso, contém a história de quatro pessoas totalmente diferentes entre si: Amara, Márcia, João e Tarso, alguns deles tendo até cruzado seu período de transição em plena ditadura.
São narrativas complexas e incríveis. Não só porque essas pessoas primeiro passam por uma fase de homofobia, como depois precisam lidar com a transfobia social e estrutural.
Não podemos e nunca saberemos, se não somos, como é ser uma pessoa trans, e por isso esse tipo de leitura se faz necessário: pois nos dá um vislumbre de como é essa realidade e suas experiências, a fim de que nós mesmos saibamos lidar com elas e com gerações que virão ?
Conhecimento pode gerar empatia e mudar o mundo sim
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18/08/2020

O olhar da empatia
O livro é um convite para que olhemos a vida de quem é diferente de nós a partir da empatia. Os relatos são sinceros, delicados, vulneráveis e surpreendentes. Vale muito a pena ler!
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Thereza 28/06/2020

A Coragem de Existir
Esse livro é essencial. Eu sei que essa frase é muito repetida em qualquer livro que trate de temas importantes, mas é a primeira vez que eu realmente julgo justo usá-la para descrever uma obra. Esse livro é essencial se você está vivo em 2020 e quer compreender que há inúmeras vivências que diferem da sua.

A abordagem é a melhor possível. São 4 autores que, ao passo que foram vivendo, compreenderam que o gênero ao qual foram designados ao nascer não condizia com o que realmente eram. O que é interessante aqui é que consegue-se entender que não é porque uma pessoa é trans que sua transição e sentimentos são semelhantes aos de outras pessoas trans. Aqui temos 4 pessoas muito diferentes, com histórias e construções, pensamentos e trajetórias especialmente singulares. É tão importante isso, fazer enxergar que não é possível definir alguém, mesmo que essa pessoa esteja sob um “rótulo”.

Amara Moira, um dos nomes que mais gostei de conhecer na vida (o nome mesmo, lindo demais), travesti e bissexual, inserida num ambiente ao mesmo tempo aberto e fechado que é o meio universitário. O texto dela é o primeiro, o que imagino que deva ter sido intencional, já que com ela aprenderemos alguns termos que à primeira vista podem parecer pequenos, mas ela nos faz compreender que saber usá-los é uma questão de respeito. E respeito é um conceito muito importante dentro da narração de Amara, porque além de nos ensinar sua importância, parece que conforme os anos passam em sua história, ela própria começa a entender melhor como é essencial aplicar esse conceito a si, como precisamos aprender a respeitar nossa existência. O que, como uma pessoa cis, me faz refletir: se eu tive que aprender com os anos a importância de ter respeito por quem sou, independente do que se espera de mim (e ainda não posso dizer que atingi o essencial), só posso imaginar como deve ser a sensação de não pertencer a nada que tenha sido designado a si ao nascer. Posso ter problemas com meu corpo, mas ele me pertence. Uma vivência que nunca vou compreender de fato.

João W. Nery vem em seguida com sua narrativa. Sua história tem essa construção entre altos e baixos, entre esses momentos em que sentimos que “agora vai” e outros que sentimos sua angústia por mais uma vez não conseguir ser quem é. Ele foi uma das primeiras pessoas trans no Brasil a passar por cirurgias de redesignação sexual. Seu médico, inclusive, foi preso anos depois por ter ajudado pessoas trans a terem um corpo que lhes pertencesse. Ele também teve muito destaque com sua militância e livro, chegando a ceder entrevista pra Marília Gabriela, na única entrevista que até hoje eu vi a entrevistadora receosa ao falar. Com ele também compreendemos como que uma pessoa trans precisa, o tempo todo, sair do armário e passar por constrangimentos dentro do ambiente de saúde. Ele decidiu se ser numa época em que as mudanças em seu corpo eram crime, em que era preciso falsificar documentos para ter a dignidade de ter um nome com o qual se identificasse, onde ele tinha medo de aparecer na mídia e ter problemas com a justiça. Ele tem muito a nos contar.

Márcia Rocha é formada em direito e uma empresária de sucesso. Sua história me é bastante peculiar pelo ambiente em que está inserida. Imagine se um “homem” que você considere muito bem sucedido e o admire por seus empreendimentos diga que, na verdade, ela é uma mulher e aquele corpo que você sempre via era apenas uma farsa para continuar inclusa na sociedade? Reflita se você continuaria admirando e se aina cogitaria fazer negócios com uma mulher trans. Foi por isso e muitas outras barras que Márcia precisou passar ao se mostrar pro mundo. Mas ela conseguiu passar do melhor modo que posso imaginar, ela conseguiu uma posição muito importante dentro de sua posição, uma posição que lhe permite lutar pelos semelhantes, que permite fazer a voz de pessoas trans serem ouvidas e respeitadas. Ela também nos ensina que nós podemos ser amados mesmo quando isso parece impossível. Talvez tenha sido a história que mais mexeu comigo.

T. Brant, aqui o único que conhecia. O que é um problema que tenho refletido: por que não conheço pessoas tão visíveis e importantes que não sejam cis? Esse livro me fez trabalhar pra mudar isso. Bem, eu conheço ele do Pânico na Tv (acho que ainda chamava assim quando ele apareceu, mas esse detalhe é irrelevante), me lembro de como me senti bem ao vê-lo na TV. Mas me deixe explicar, quando o vi, eu o entendi como uma mulher lésbica e eu não conhecia muitas mulheres lésbicas na mídia, o que me fez querer forçar um crush nele porque eu queria desesperadamente ter artistas em quem ter crush. Hoje percebo meu erro (desculpe), mas é interessante porque a todo momento na narrativa ele fala sobre como sempre quis sim “confundir” as pessoas, não deixar que o definissem por completo. Eu gosto disso. Sua narrativa é a mais leve de todas, foi quem dos 4 teve mais apoio dos pais e quem parece ter tido a transição mais tranquila. Apesar da dificuldade que ele claramente enfrentou, eu gostaria que todas as pessoas trans pudessem encontrar o que ele encontrou em seu caminho.

Por fim, quero dizer como esse livro fez uma transformação em mim. Desde a apresentação já somos puxados pra uma realidade que muitas vezes ignoramos. Como eu disse, jamais vou entender como é a sensação de ser uma pessoa trans. Mas de uns tempos pra cá e com esse livro, eu pude compreender que existência muitas histórias e vivências e sentimentos que eu nunca vou compreender, mas nem por isso são menos reais que os meus. Portanto, ao fim de tudo, quero te dizer: você pode teorizar sobre o que quiser, você pode e deve questionar tudo à sua volta, mas você nunca pode duvidar da existência de alguém e é sua obrigação respeitar todis (com exceção de pessoas intolerantes). Pergunte se tiver dúvida. Mas não suponha algo que pode machucar outrem.

site: https://medium.com/@thetenardotto
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Lethycia Dias 29/01/2020

Leitura essencial
"Vidas Trans: a coragem de existir" é um livro de biografias curtas e reúne depoimentos de quatro pessoas transgênero brasileiras, que contam suas próprias histórias. A ideia é que essa comunidade - a mais frágil e mais discriminada entre as pessoas LGBT - seja ouvida, especialmente pelas pessoas cis (que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído).
Os quatro autores desse livro tiveram trajetórias, condições de vida e formas diferentes de se perceber trans e travestis. Nos relatos de cada um, percebemos os impactos maiores ou menores da falta de informação sobre pessoas transgênero, do preconceito, da exclusão do mercado de trabalho, dos sentimentos de solidão e inadequação, do eventual apoio de amigos ou familiares e do - raro - privilégio financeiro.
Eu já conhecia a história de João W. Nery por meio de seu livro "Viagem solitária", e embora o relato presente neste livro seja o mesmo, também o atualiza, trazendo a repercussão da publicação do livro e mostrando como João se tornou uma figura pública importante para incontáveis outras pessoas, que se viram na mesma situação que ele. Sua "viagem solitária" se tornou solidária.
O depoimento que mais me impressionou foi o de Márcia Rocha, advogada e ativista, fundadora do site transempregos, que faz a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho. Sua história sintetiza como o acesso a dinheiro, escolhas e informação protegem uma pessoa - e ela reconhece isso e sabiamente usa seus privilégios para dar oportunidades a outras pessoas.
As histórias de T. Brant e Amara Moira são bastante dolorosas, e refletem muito a LGBTfobia, a exclusão e a dificuldade de autoconhecimento. Considero esse livro uma leitura essencial, importante tanto para pessoas trans que buscam se ver em personalidades da comunidade T, quanto para pessoas cis em busca de desconstruir seus preconceitos. As informações presentes nos relatos são indispensáveis para isso.

site: https://www.instagram.com/p/B74c3zpjin4/
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Beto Bavutti 14/01/2020

Relatos emocionantes.
Comprei esse e-book e li em apenas um dia. O livro conta a experiência de vida de quatro pessoas trans (Amara Moira, Márcia Rocha, T. Brant e João Nery) desde a infância atribulada, vivida com muita desinformação, desesperança, sofrendo todos os tipos de bullying, até os tempos atuais, cada um(a) atuando de uma forma, mas sempre ligados à militância e ao aumento da visibilidade trans.

É um livro muito bem escrito por 4 pessoas diferentes, cada uma com sua forma de escrita, mais ou menos fluida, porém em nenhum momento o livro se torna enfadonho. As experiências contém cenas em comum, mas cada relato traz a sua verdade.

Eu acredito que muitas pessoas possam precisar ler este livro, seja para se assumir trans ou para ajudar pessoas que vivam nessa condição.
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Bells 07/04/2019

Resenha: Vidas Trans - a coragem de existir
Não pretendo entrar em um relato muito grande sobre a obra. Pretendo dizer, de modo superficial, o que achei dela.

Se trata de um livro, no qual nos deparamos com história de 4 pessoas trans, que passaram as dificuldades que as pessoas dessa categoria passa, contando suas histórias, dores e vivências. O livro foi um tapa na minha cara, não sei forma mais bonita de dizer isso kkkk Ele me fez parar pra pensar questões que até então eu não havia pensado.

Através dos relatos, percebemos que eles sofrem muita discriminação, tem que lhe dá com muitas questões, como o desemprego. Já havia visto algumas coisas, mas não tinha conhecimento da magnitude do assunto, e o livro me possibilitou olhar com um olhar mais amplo.

A única coisa que sentir falta na obra, foi de relatos de pessoas trans de classes mais pobres, porque aqui, nos deparamos com relatos de pessoas de classe média, que tiveram, em sua maioria, o apoio dos pais. Eu gostaria de ter conhecido realidades diferentes, que representassem as categorias mais pobres.

Mas o livro é maravilhoso. Nos faz refletir sobre como tratamos essas pessoas, que são tão humanas quanto qualquer outra. É uma leitura que indico muito, pra ter um olhar mais amplo da realidade dessas pessoas, com os preconceitos e discriminações que tem que lhe dá, com a dor que é ter um corpo que não os representa, com o modo que são tratados na sociedade.
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Adriana Scarpin 26/11/2017

Os depoimentos de Amara Moira, João Nery e Márcia Rocha são excelentes e lançam uma luz sobre as dificuldades sociais e jurídicas da transição, já o depoimento de T. Brant destoa pela superficialidade do que tem a dizer. Livro indispensável para a compreensão da realidade trans, embora peque por se limitar a depoimentos de trans da classe média e alta, quando a realidade trans das classes mais baixas é ainda mais propensa à transfobia.
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Galáxia de Ideias 29/08/2017

Quatro humanos e uma história em comum.

Amara, João, Márcia e Tarso. Todos eles transgêneros, cada um com suas vivências e dores de terem vivido em um corpo com o qual nunca se identificaram, atuando na peça de teatro da vida real, onde as pressões familiares e sociais os impediram de por um longo tempo assumirem aquilo que veio na alma.

Se alguém não acredita em alma, vai passar a acreditar depois de acompanhar esses quatro relatos.

Relatos que doem, machucam, nos fazem pensar em como queremos um mundo melhor se nós não mudarmos antes disso.

Dê a mão ao quarteto de autores e siga a seta para uma vida mais bonita e plena de amor.

Olhe essa foto...

Me responda: O que você vê?

Se responder: uma pessoa como qualquer outra, então você está andando meio caminho para ser um ser humano muito melhor.

Por que? Essas quatro pessoas na foto são transgêneras. Dois homens e duas mulheres. Todos eles com o ponto em comum de terem descoberto que o corpo não combinava com sua imagem mental e até assumir de vez o que realmente eram, precisaram percorrer um caminho longo, complicado e acima disso, doloroso e cheio de dúvidas.

“O medo de sofrer violência, primeira coisa que me ensinaram, primeira coisa que ensinam uma criança a temer, era muito maior do que a vontade de descobrir quem eu era. Escolha? Não sei bem se podia pensar em escolha, bloqueio, talvez, travas, adestramento sistemático para você sequer perceber a máscara que botaram em seu rosto quando nasceu, e, caso um dia perceba, não ousar jamais perguntar-se o que há por trás dela.” – Amara Moira, Destino Amargo, página 18.

É disso que trata Vidas Trans - A coragem de existir, a mais recente publicação da Astral Cultural, cuja edição física é muito bonita e bem feita, dona de uma revisão impecável. A fonte, apesar de pequena, não dificulta a leitura e as páginas amareladas são um bálsamo para usuários de óculos. A capa é extremamente significativa e dá uma ideia do que esperar da leitura juntamente com as abas, que exibem pequenas biografias de seus quatro autores.

Uma ideia cuja execução não achei que me seria tão dolorosa enquanto lia. É um livro doído, por vezes amargo, às vezes alegre, muitas vezes triste, mas acima de tudo, uma constatação de que nós ainda temos muito a andar se quisermos ser mesmo uma raça evoluída.

Porque as histórias contidas em Vidas Trans contém cada absurdo que por vezes eu me peguei pensando: meu, mas que mundo é esse onde eu tenho que dividir meu oxigênio com gente dessa laia? O que estou fazendo para mudá-lo para melhor para meus filhos, talvez meus netos?

Como a Márcia Rocha diz na parte dela...

“– Eu não posso mudar o mundo, Eli – e, olhando através das vidraças para o rio, eu continuei: – Ele é um monte de merda!
Então, olhando diretamente para ele, concluí:
– Só o que eu posso fazer é limpar um pouquinho em volta de mim. Mas, certamente, se todas as pessoas limpassem um pouquinho à sua volta, o mundo seria um lugar muito melhor.” – Márcia Rocha, A luta pela aceitação, página 132.

O pior é que essa fala da Márcia é verdadeira demais. Especialmente na última semana, onde em Charlotteville, Virginia, EUA, uma centena de gente sem coração, sem amor próprio ou qualquer coisa que se possa chamar de minimamente humana, fez um protesto em favor da “supremacia branca”. Resultado: muitos feridos, uma pessoa morta e a constatação de que a DOUTORA Márcia (porque para mim ela é uma legítima doutora sim! Da empatia, da vida, da coragem, da HUMANIDADE) foi muito precisa quando disse isso.

Quando vi isso, o que me veio à cabeça foi: cadê Deus no coração dessa gente? Cadê o amor? Onde foi que elas deixaram a humanidade? Que tipo de gente ainda pensa que o mundo pertence a apenas um grupo?

É esse tipo de pessoas que espanca, humilha, violenta e até mata trans e travestis e torna o Brasil o país do Globo com o maior número de homicídios dessa parcela. Um tipo que não respeita diferenças e se acha tão acima dos outros a ponto de nem se dar ao trabalho de pensar se aquela vítima tinha amigos ou família.

“Os danos psicológicos que essa vida no escuro me legou são gigantes, irreversíveis em alguma medida, essa dificuldade de me entregar a uma relação, de me desarmar, de mostrar (mesmo para as pessoas em quem confio, pessoas que amo) o que há por trás da máscara, mas não posso ignorar que a descoberta tardia da minha transgeneridade me possibilitou também um monte de blindagens e a possibilidade de negociar em melhores termos a minha aceitação. Não sei se teria conseguido chegar ao doutorado caso transicionasse na adolescência ou no começo da vida adulta.” – Amara Moira, página 33.

Que é outra questão constantemente abordada pelos quatro autores, que relatam com uma sinceridade muitas vezes dolorosa a dificuldade por parte dos amigos e familiares de aceitar que aquela pessoa antes conhecida de um modo agora passa a ser outra. O que não é bem verdade, pois caráter e personalidade não depende de gênero e muitas vezes aquilo que a pessoa realmente é na verdade é muito melhor que a “versão anterior”. Naturalmente, na verdade nem tanto, amigos e família tem um péssimo hábito de achar que a nossa felicidade não depende 100% da gente e isso nunca será verdade. Por que?

Porque quando a questão é família, amigos e até mesmo a sociedade, eles esperam que nos encaixemos em um padrão estabelecido que na maior parte do tempo é completamente estúpido e sem sentido. No livro, Amara, antes de se tornar Amara Moira, teve namoradas. Márcia, a primeira advogada trans a ter o nome social registrado no quadro da OAB (sim, o nome social da pessoa trans É o nome dela, o de registro não conta), chegou a se casar e até mesmo tem uma filha, Giulia, hoje com 24 anos. João por anos teve de viver uma vida dupla e até mesmo se arriscou a ser preso pela Ditadura. T., por sua vez, foi uma “menina lésbica”, inclusive tendo tido sete namoradas, até finalmente se perceber como um homem trans.

“Sou um libertário, sem filiação partidária, e considero o machismo a grande patologia social. Minha luta é pelos direitos humanos abrangendo todas as minorias discriminadas, sejam elas de gênero, classe, raça, etnia ou de idade. Não se restringe à causa LGBT.” – João W. Nery, A viagem solidária, página 61.

Um exemplo do que eu disse antes: mulheres tem que ter filhos ou senão nunca serão completas. Gente, só observem o absurdo dessa frase. Ok, eu conheço muitas que são felizes sendo mães e até mesmo já me disseram que se tornar mãe foi a melhor escolha, mas nem todas desejam tal coisa. Porque quando você tem um determinado conjunto de crenças pessoais, qualidades, defeitos, caráter e personalidade, elas te fazem capaz de fazer determinadas escolhas. No caso de uma pessoa trans, porém, ela nasceu assim, mas, teve de se hormonizar, e até mesmo apelar para certas plásticas, uma delas, no caso de disforia de gênero, a redesignação sexual, para adequar a imagem física com a mental que sempre esteve na sua cabeça.

O problema, que na minha opinião é de uma hipocrisia descarada, é que tem um bando que pergunta: por que você não se aceita como Deus te criou?

Vamos pensar no seguinte: você tem um espelho em casa, sim? Olhe-se nele e responda: você gosta de tudo o que vê? Se sim, tudo bem, afinal, você tem o direito de achar sua imagem ótima. Suponha, porém, que você não gosta do seu nariz. Bem, tem duas alternativas: ou você aprende a conviver com esse nariz “feio” ou junta dinheiro para fazer uma rinoplastia. Mas geralmente todo mundo que pode prefere a segunda opção, de longe. No caso desses quatro autores trans e de todos os outros transgêneros existentes no mundo, o caso é que a imagem que eles veem no espelho é TODA errada e eles sentem essa necessidade, urgente e muitas vezes quase desesperada, de inverter isso.

“Com ajuda de uma transmulher e seu marido, que estavam hospedados em minha casa, bolamos uma história que seria contada no cartório. Eu, com 27 anos, tive que dizer que tinha 18 para justificar os motivos alegados, que era para servir o exército e que meu pai nunca tinha me registrado pois morávamos na roça. Me vesti matuto e fui me cagando de medo a um cartório do subúrbio. Paguei uma multa e 15 dias já tinha um nome masculino. Como consequência virei um analfabeto, perdendo meu diploma e meu histórico escolar. Agora eram dois crimes cometidos: o da cirurgia ilegal e portador de dois CPFs, um de mulher e outro de homem. Fui então obrigado a trabalhar como taxista, pedreiro, pintor de parede e de quadros, professor de computação para idosos, cortador de confecção e muitas outras funções a que tinha acesso graças a pessoas amigas ou por conta própria, sem papéis.” – João W. Nery, página 74.

“Mas e se você fosse cego?”, argumento que alguém vai usar, eu sei. Gente, ser cego não te impede de sentir que há algo errado com a sua imagem caso você seja trans até porque nós temos outros quatro sentidos além da visão. Inclusive aqui no blog temos duas resenhistas com deficiência visual, a Isabela e a Tamara, que escrevem maravilhosamente. Portanto, vamos parar de arrumar argumento tirado do mundo da imaginação (ou de outro lugar que não vou citar porque isso é uma resenha) para justificar o preconceito transfóbico.

Muitos conseguem, mesmo com dificuldade, transicionar para conseguir seu objetivo. Outros, passam toda uma vida convivendo com uma imagem que não é sua e vivendo uma vida dentro do que a sociedade considera aceitável. Bem, eu vou entender se alguém disser: mas a gente não consegue viver sozinho ou isolado. Entretanto, aqui cabe uma contestação: a própria sociedade não isolou, por anos, com motivos estapafúrdios justificados por conservadorismo e “isso é errado, pecado” e não sei mais quantos argumentos porcos, os quatro autores desse livro e pelo menos meio mundo de trans?

Certo, o caso da Márcia Rocha pode não ter sido difícil a nível épico, mas fácil não foi mesmo, até porque condições financeiras ela sempre teve, mas isso não compensa quando você passa 39 ANOS vivendo em um corpo com o qual você não se identifica e tendo de fingir para todo mundo que está tudo bem quando por dentro você sente que vai explodir se não tomar uma atitude.

“O mundo à minha volta enlouquecia, escandalizado. Eu estava completamente feliz com minha nova identidade, finalmente tendo a certeza de que não precisava mais nenhum personagem para as pessoas ao meu redor e muito menos para mim mesma. Mas todas as pessoas da minha vida, todos os que me viam como “o cara”, o homem perfeito, empresário bem-sucedido e desejado pelas modelos capa de revista, achavam que eu havia enlouquecido. Tive de provar algumas vezes que eu sempre fora aquela pessoa que agora todos viam e que somente algumas poucas pessoas sabiam. Uma delas era minha filha; outra, um amigo de infância que sempre soube; algumas namoradas do passado, minhas ex-esposas.” – Márcia Rocha, página 116.

Mas por que é tão difícil tomar uma atitude nesse caso? Em Vidas Trans, mais precisamente em Destino Amargo, a primeira parte do livro narrada pela Amara Moira, cujo nome significa “destino amargo” em grego, temos uma história repleta de absurdos vividos por ela quando ainda tinha corpo e rosto de “ele”. Quando ela conta sobre o meio machista e homofóbico onde foi criada e as consequências que isso deixou na mente dela, é de se compreender porque ela demorou tanto para se tornar quem realmente é. Ainda hoje, ela tem dificuldade para permitir que mostrem afeto por ela publicamente porque ela pensa que a pessoa pode ficar em perigo. Só para vocês verem como esse tipo de criação estraga a mente de uma pessoa e prejudica outras muitas em razão das atitudes que essa uma toma. Porque quando somos criados em um determinado meio, é muito mais difícil desconstruir conceitos que nos são impostos desde a infância, ainda mais quando tem “gente” que usa até violência para impor tal coisa nas nossas cabeças.

Imaginem então como foi a vida do João W. Nery na época da Ditadura Militar? Tendo que viver uma vida dupla, até 1972, porque corria o risco de ser espancado ou até morto porque a polícia sempre invadia os bares frequentados por gays, lésbicas e transformistas, que eram considerados pela maioria (LIXO) dos militares da época gente capaz de “corromper a juventude”. Como comentei no meu post anterior, só se deixa influenciar quem é “mente fraca”, porém, eu pergunto: ser uma pessoa mais respeitadora e mente aberta é ser necessariamente corrompido? Sinceramente, nunca acreditei nisso, pois tenho amigos gays e trans e jamais senti nenhuma diferença ruim no meu caráter. Aliás, sou uma pessoa muito melhor hoje devido a isso.

“Filha única de uma família de classe média, eu era, portanto a princesa da casa. Meus pais trabalhavam como bancários, e a vida não tinha grandes dificuldades. Mas o que eles não sabiam é que, diferentemente do meu estado físico de menina, eu nasci menino. E não estamos falando somente da aparência, mas, sim, de essência (alma). Um sentimento de estar em um corpo com qual você não se identifica.” – T. Brant, Eterno Aprendiz, página 139.

No entanto, não é porque uma pessoa é LGBT (o B não é de biscoito, é de bissexual, tá?) que necessariamente ela é perfeita porque isso não é bem assim. Inclusive o Tarso Brant comenta, na parte dele, intitulada Eterno Aprendiz, sobre ter sido cobrado a “escolher um lado” quando, até algum tempo atrás, ele se considerava “não-binário” (alguém que não considera nem homem e nem mulher, simplesmente uma pessoa). Quando li isso, fiquei: gente, como assim? Pessoal, se uma pessoa se considera de uma forma, quem somos nós para julgá-la e cobrar dela uma posição quando nós mesmos já somos cobrados por sermos o que somos? Além do mais, novamente pergunto: o fato da pessoa ser como ela é ou o que ela faz com a vida vai mudar o que na sua? A sua vida é tão ruim que é preciso diminuir a do outro para se sentir mais feliz? Sério, pessoas, melhorem. De preferência, procurem o que as façam felizes e deixem a felicidade do outro em paz.

Sim, apesar do que parece, eu sou cobrada de alguma forma e muito criticada por algumas escolhas. Já dei um exemplo de um ocorrido comigo no meu post anterior e vou dar outro agora...

Ano passado me aconteceu o seguinte: eu vi esse link (aqui), enquanto procurava informações sobre um lutador do qual sou fã e fiz um comentário dizendo que, como mulher, eu me sentia muito ofendida com isso. Adivinha o resultado? Uns dizendo que eu era um cara criando um “fake feminino” para aparecer. Então, não posso ser fã de pro-wrestling simplesmente por ser mulher? Mais ainda, tem gente ainda pensando que a beleza de uma pessoa tem de se sobrepor ao talento? Permita-me dizer, isso é MUITO ERRADO. Porque os fãs de hoje não são os de antigamente e como aqueles que botam dinheiro no bolso de quem faz esses programas, eles têm o direito, eu diria até o dever, de cobrar mais qualidade do show porque como diz aquele ditado: Beleza não põe mesa.

“Pausa para reflexão
Não sei se perceberam, mas eu era exatamente o estereótipo recriado de um machão, orgulho, possessivo. Vangloriava-me por ser o pegador como se isso fosse um “grande feito”. Que fase! Sabemos que a vida é mais do que ser o rei da balada e da baderna, certo?! Mas fiquem despreocupados. Para a tranquilidade de vocês e felicidade delas, não vou relatar as histórias de todas as namoradas (até porque tive sete). A partir de agora juro solenemente fazer algo de BOM (ok, vai demorar mais um pouquinho, mas não desistam de mim...).” – T. Brant, página 162.

(Eu pirei e a Barbara vai pirar quando reconhecer a referência. Quero ser amiga do Tarso para a vida inteira. *risos*)

Isso é só UM exemplo de um monte que eu poderia citar aqui, mas como esse texto está ficando mais longo do que eu esperava, vou terminar fazendo a coisa certa...

Muito fortemente indico Vidas Trans, um quarteto de corajosos relatos sobre ser transexual, livre de amarras sociais, tendo uma vida feliz e plena sem precisar da opinião alheia. Pois, como diria uma das irmãs da Mandy Candy (Amanda Guimarães), a Melissa Borges...

Ser transexual não é o fim do mundo, mas o recomeço de uma história com final feliz.

*Resenha postada no blog Rillismo

site: http://www.rillismo.com/2017/08/resenha-vidas-trans-coragem-de-existir.html
Rafa Fiori 02/05/2018minha estante
Resenha maravilhosa!!!




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