spoiler visualizar@osilenciodoslivros 18/07/2021
Espetacularmente bom e triste
No livro de estreia (2017) do Adam Silvera, acompanhamos Aaron em sua busca pela felicidade.
A história de Aaron é muito triste do início ao fim, embora eu só tenha percebido isso no final.
No mundo de Aaron existe um procedimento, o Leteo, que é feito no cérebro das pessoas para que elas esqueçam traumas cujos quais não conseguem viver com.
Esse livro tem tantas camadas, tantos assuntos importantes são tratados...tantos gatilhos. Agressão contra mulher, suicídio e homofobia.
O livro começa mostrando a vida de Aaron com seus amigos e sua namorada, a Genevieve. Após alguns capítulos vemos que Aaron até que tem uma vida de garoto normal, embora as dificuldades financeiras da família ficam evidentes, principalmente após seu pai ter se matado em uma banheira e ele nunca entendeu o porquê.
O protagonista carrega consigo uma cicatriz no pulso, feita por si próprio, querendo ter o mesmo fim que seu pai, já que a dor da perda o assombrava demais.
Ele se recupera e lida com a situação, vive e brinca com a galera de seu bairro e seu relacionamento com Genevieve avança.
Então ele conhece Thomas. Eles se tornam melhores amigos e Aaron percebe que talvez goste de rapazes.
Dentro de toda essa linha narrativa, no final é revelado que, na verdade, acompanhamos um Aaron pós procedimento de Leteo, mas o que mais me quebrou foram os motivos que o levaram fazê-lo. Aaron recorda suas memórias apagadas após ser espancado por seus "amigos" por ter se assumido (novamente) gay...e cada memória é narrada no livro.
A vez em que seu irmão o reprimia ao escolher personagens femininas no vídeo game. As vezes em que seu pai disse para ele se comportar como um garoto e não como uma menininha. A vez em que ele se descobriu gay porque gostava do então melhor amigo, Brendan. As vezes em que ele cresceu sempre sendo reprimido pelas atitudes consideradas femininas, ouvindo que ser gay é errado. A vez em que ele se assumiu gay para sua mãe, q foi extremamente receptiva e o apoiou...e então, ele se assumiu para o pai. E essa foi uma das cenas mais fortes do livro. Seu pai não o aceitou, agrediu a mãe, a culpando pela situação, e expulsou Aaron de casa.
Quando Aaron um dia entra em casa, descobre o corpo de seu pai, morto, na banheira.
Então Aaron se odiou. Ele se odiou por ser gay, por não ser aceito, porque achava q ser gay era errado e, consequentemente, a culpa era sua por seu pai ter se matado.
E ao recordar de tudo isso e ainda se culpar por seu pai ter se matado, ele queria de novo, desesperadamente, ser submetido ao Leteo, para voltar a ser hétero e esquecer tais traumas.
Ao fim, ele acaba não fazendo. Mas descobre que ficou com sequelas pro resto da vida. Ele não consegue criar memorias recentes e os últimos capítulos são dele se despedindo das pessoas, já que não vai mais conseguir formar novas memórias com ela.
E o livro termina assim. No começo um Aaron desesperado para esquecer quem é e seu passado. E no final, um Aaron desesperado para lembrar.
Eu saí quebrada dessa leitura. Fui dormir chorando e pensando na quantidade de pessoas que passam pela mesma situação e por coisas piores.