FellipeFFCardoso 16/01/2024
Tive que me desfazer de muitos vieses ao longo da leitura e entender - para além do que acho que já sei - a complexidade cultural que a colonização europeia, racista, usando de artifícios de poder como religião, embates étnicos, jogos de poder, instaurou nos países africanos, em especial em Ruanda, país onde se passa a história deste livro e também de onde a escritora é. Para mim, o grande trunfo da narrativa foi ter espelhado as dinâmicas políticas e sociais no microcosmo do liceu de meninas, elas que agem nas mãos dos adultos na replicação de padrões coloniais e estão, ao mesmo tempo, submetidas às injustiças raciais, machistas e violentas que perpetram e sofrem. É doloroso muitas vezes, não só por empatia, mas por culpa ocidental, globalizada, pelo olhar imperialista que ainda temos para o continente ao nos distanciarmos dos problemas como se não fossem nossos, assumindo um posicionamento de superioridade de pessoas que ainda almejam, mesmo que vivendo numa sociedade fundada por sistema similar, ao alinhamento ascendente mais à Europa como sinal de prestígio e menos às realidades de nossa própria miséria. Recomendo a todos, muito bem escrito.