brendaminah
20/05/2022Como uma boa garota básica que associa absolutamente tudo a músicas da Taylor Swift, preciso dizer que durante a leitura não conseguia deixar de pensar em como Frances se encaixa perfeitamente no papel de uma ?august girl?, absolutamente tudo sobre ela grita ?cancel plans just in case you?d call? e tudo sobre ela e nick grita ?illicit affairs?.
No geral, não gostaria de me estender tanto nessa resenha pois tenho a impressão de que se passar do número de palavras ideal pré-determinado pelo meu cérebro para formar uma opinião lógica e estruturada, ficaria aqui horas discorrendo sobre a efemeridade e complexidade dos personagens de Sally Rooney. Esses que eu pessoalmente, jurara ter visto seu ápice de excentricidade e ambiguidade durante a leitura de ?Normal People?, mas, parar variar, não poderia estar mais errada. Nesse livro, Sally te apresenta personagens tão moralmente ambíguos, complexos e principalmente, psicologicamente afetados, que, ao meu ver, torna-se até um susto. Aqui nos deparamos com tamanha crueza e sinceridade vinda dos personagens principais que funciona como uma espécie de afronta ao que nós seres humanos socialmente adaptados, nos recusamos a admitir que pensamos e sentimos. E esse é, indubitavelmente, o maior talento dessa autora: Destrinchar o relacionamento mútuo humano e a não simplicidade deles, a fusão entre mentes corroídas e sentimentos não tão gratificantes. Explora o mais egoista que remoemos de forma até sútil, devo dizer. E ler sua obra se torna, assim, uma via de mão dupla, o trânsito entre a revolta e a compreensão. Mão tripla até: Ao ponto que te leva a se relacionar com ações e pensamentos tão poucos lisonjeiros.
Costumo dizer que o objetivo dessa autora não é, nem de longe, escrever personagens amáveis, feitos parar serem enaltecidos, mas é na verdade, nos colocar diante de algumas de nossas supostas decisões cotidianas, somente mimetizadas por seres fictícios.
Em geral, gosto muito desse livro e preciso dizer que a forma que a autora explora a mente de Frances através da narrativa me fascina tanto que não consigo explicar através de palavras. Tenho a sensação de que Frances, por vezes, tenta me manipular acerca das figuras a sua volta mesmo sendo tão descaradamente sincera durante toda a narrativa. Entretanto, tudo é extremamente bem pensado se analisarmos sua idade em paralelo ao do homem o qual se relacionava.
E em falar de Nick, preciso dizer que a muito tempo- quiçá nunca -, não me deparo com figura masculina tão misteriosa, ambígua e intrigante. Fora até divertido me esforçar em identificar se estava sendo apenas ele, um homem passivo, inexpressivo em todos os sentidos e majoritariamente submisso, como dizia Melissa, ou se não se passava de um ótimo manipulador. Ou até se não usava dessa passividade excessiva como instrumento de manipulação. Até agora não cheguei a uma conclusão, e acredito que essa é a beleza de Sally Rooney.
Em paralelo aos personagens, a prosa da autora funciona de forma rápida e fluida em contrapartida a passagens bem detalhadas que contam com grandes fluxos de consciência. Esses, ao meu ver, bastante bem feitos. Claramente, sua obra gira em torno de personagens e não de um enredo em si, logo, seus plots não se mostram bastante ambiciosos ou reveladores, são ?simples? mas bem trabalhados o suficiente para que criem grandes reflexões bem sustentadas e trabalhadas até o final do livro.
Por fim, preciso dizer que a única coisa que não me agrada nesse livro é o ?final?. Coloco em aspas, pois pra mim esses personagens, de tão bem trabalhados pela autora, criam vida própria e vivem além desse mero ponto final. Entretanto, a última frase em si desse livro, acaba me dando uma sensação de frustração e digo isso totalmente de um ponto de vista pessoal. Todo o diálogo construído por Frances e Nick nas últimas páginas são ótimos e perfeitos para um desfecho, mas ao meu ver, não um onde se encontram novamente. Sinto que de alguma forma, esse ?final?, acaba atrapalhando toda a magia do desconhecido após esse ponto final. O desconhecido de saber o que esses personagens, mais especificamente, essa personagem, viveria de novo. E o conhecimento de saber que ela só reviveria o que já sabia não funcionar, não me estimula tanto. Claro, friso que não se passa de um incômodo totalmente pessoal, pois sei que todo o diálogo e a reflexão que antecipa o desfecho são justamente sobre continuar se aventurando no ?complexo? e repetir os mesmos erros sabendo que no final, novamente, não daria certo.
Eu disse que não iria me estender?