Tai 08/09/2020Belo e depresivoNão sou leitora assídua de poemas. Então não tenho experiencia necessária para fazer uma analise profunda. Mas o que posso dizer que os poemas da Espanca são de uma profundidade imensa. Essa é a primeira vez que eu me vi pressa (de verdade!) a poemas. Não foram todos, claro. Tem alguns cuja temática religião e sobre Portugal que não me prenderam tanto. Mas tem outros, principalmente na primeira e na terceira partes, que a Espanca fala sobre ela (e todo o sofrimento que passou, com a perda de familiares, falta de reconhecimento para o seu trabalho, fofocas - aparentemente houve rumores de relação incestuosa entre ela e o irmão - e casamentos fracassados. Todo esse sofrimento está imprimido nos textos dela. Não tem como não se emocionar.
Vou deixar aqui abaixo, um dos textos dela que mais me impactou.
TÉDIO
Passo pálida e triste. Oiço dizer
"Que branca que ela é! Parece morta!"
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...
Que diga o mundo e a gente o que quiser!
-O que é que isso me faz?... O que me importa...
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!
O que é que isso me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!
E é tudo sempre o mesmo, eternamente...
O mesmo lago plácido, dormente...
E os dias, sempre os mesmos, a correr...
Quem já sofreu de depressão, com certeza encontrará a si mesmo nessas palavras...