Dhiego Morais 27/01/2018CreepshowQuando o ano de 2017 começou, uma das coisas que eu havia decidido fora justamente me empenhar em ler mais obras do mestre Stephen King. Já havia lido Sob a Redoma, O Cemitério e It: a Coisa, por exemplo, e, portanto, já sabia que eu havia gostado da escrita e da maneira que King guiava suas histórias e suas personagens. No entanto, a última coisa em que eu pensaria seria que eu teria a oportunidade de ler uma graphic novel adaptada por King! Assombroso!
Creepshow trata-se de uma coletânea de cinco histórias bizarras e sinistras, adaptadas na forma de quadrinhos, baseadas no filme homônimo clássico de horror de 1982, dirigido por George A. Romero (A Noite dos Mortos Vivos, Dia dos Mortos, A Ilha dos Mortos). Nessa adaptação antológica, King em colaboração com o extraordinário ilustrador Bernie Wrightson (Monstro do Pântano e Frankenstein), entregam aos seus leitores um tributo sombrio e surpreendentemente cômico dos quadrinhos de terror dos anos 1950.
Em Creepshow, os fãs de graphic novels e de Stephen King encontrarão cinco histórias consideravelmente curtas, com tramas objetivas, cenários variados e temas centralizados. Não há muito tempo para firulas, logo, tudo acontece rapidamente, de maneira enérgica, enquanto o assombro e a comicidade se misturam. O choque de sensações muitas vezes transborda e nasce como reação de bizarrice e perplexidade.
Narradas por Creep, um ser sobrenatural encapuzado extremamente sarcástico, as cinco histórias da antologia são:
Dia dos Pais (Father?s Day): nessa historieta inicial conhecemos a família Grantham, uma família de ricaços que, enquanto tomam café, aguardam tradicionalmente a chegada de tia Bedelia ? a matriarca da família, uma mulher estranha e amargurada ?, que vem anualmente para a mansão prestar suas homenagens ao falecido pai, Nathan Grantham. Os Grantham poderiam ser uma família abastada qualquer, se não fosse o seu espírito torpe e antipático. Como toda história de Stephen King, aqui o elemento fantástico dá corpo à narrativa e em pouco tempo os Grantham perceberão que este será um Dia dos Pais extremamente atípico.
?? Eu quero o meu bolo... Onde está meu bolo de dia dos pais?!?
A Solitária Morte de Jordy Verrill (The Lonesome Death of Jordy Verrill): aqui, King resgata a temática espacial, quando Jordy Verrill avista um meteorito cruzar o céu noturno. Conhecido como um simplório faz-tudo, um caipira de Castle Rock, Jordy (interpretado no filme pelo próprio Stephen King) tem a sua vida mudada completamente ao decidir levar o objeto espacial para casa, em um desejo de vendê-lo para a faculdade. Digamos que algo sinistro vai brotar desse conto!
A Caixa (The Crate): mais uma história bacana. A história começa no porão do edifício Amberson, setor de Ciências no campus da Universidade Horlicks, no momento em que, por um capricho do destino, o zelador encontra uma caixa misteriosa escondida entre grades, com as gravuras de Expedição do Ártico, 1834. Não tarda para que as figuras do professor Stanley e o casal Henry e Wilma Northrup, cujo casamento não vai muito bem. Entre uma festa chata e uma caixa secular inusitada, bem... o que vocês escolheriam?
?A lanterna do zelador revela um caixote... um caixote muito antigo?.
Indo com a maré (Something To Tide You Over): este foi um dos contos que menos me agradou, talvez por não ter personagens tão interessantes (ainda que Richard Vickers tenha sido interpretado no filme pelo brilhante Leslie Nielsen). A história gira em torno de vingança e de acerto de contas. A vida de Richard poderia andar bem se ele não estivesse cultivando um par de galhadas. Revoltado, ele busca se livrar dos problemas em um cenário que envolve praia, pessoas enterradas até o pescoço na areia e muita água do mar em uma transmissão ao vivo. Novamente, King se utiliza do sobrenatural aqui. Sinistro...
Vingança Barata (They?re Creeping Up On You): Upson Pratt é a prova de que um homem pode ser mais rico do que se imaginava (e antipático, igualmente). Até onde você seria capaz de ir para conseguir profissionalmente o que deseja? Upson não tem muitos escrúpulos. No último conto do álbum, King entrega uma história arrepiante e ainda mais nojenta para aqueles que possuem medo de baratas. Cuidado para que elas não subam em você!
Creepshow é a investida de Stephen King no mundo dos quadrinhos, brilhantemente auxiliado pelo trabalho de Bernie Wrightson, reponsável também pelas belas ilustrações presentes na edição de A Hora do Lobisomem, lançado esse ano pela editora Suma de Letras.
Retratando realidades variadas, da inocência do homem do interior até o espírito de vingança generalizado, Creepshow sobressai como uma obra essencial para os amantes dos quadrinhos de meados do século XX, bem como para aqueles que buscam histórias que mesclam o terror e o humor em seus roteiros.