Ana 14/01/2023
"Eu era uma mulher humana, nem mais nem menos."
Eu não planejava escrever uma resenha, mas fui registrar o último histórico de leitura e percebi que ficou enorme, então acabei transformando em uma resenha, rs.
Eu não vejo muitas pessoas comentando sobre a quantidade de gatilhos desse livro, então queria deixar o aviso de conteúdo para: depressão, ideação e tentativa suicida, estupro, relacionamento abusivo, violência doméstica, abuso psicológico, capacitismo, bullying. Provavelmente esqueci de alguns, mas acho que consegui deixar bem claro que não é uma leitura fácil.
Agora aqui vai um resumo:
Eleanor Oliphant é uma mulher de 30 anos que, aparentemente, leva uma vida completamente comum. Ela tem uma cama para dormir, um emprego para se sustentar e sua própria companhia. E está tudo bem.
Mas, se alguém perguntar para Eleanor sobre a última visita em seu apartamento ou a última vez que saiu com amigos, a resposta pode ser surpreendente. Isso porque as únicas pessoas que visitam Eleanor são profissionais de serviço (mecânicos, eletricistas, assistentes sociais) e ela não costuma sair socialmente porque não tem ninguém. As interações sociais da Eleanor estão restritas aos colegas de trabalho desprezíveis e as idas ao mercado para as compras habituais.
A solidão em sua vida é tão familiar que se tornou segura, confortável, e cotidiana. Até que uma amizade improvável surge para mostrar que a vida pode ser mais.
Bom, eu queria conhecer esse livro há um tempo porque me interesso em ler sobre mulheres e (a falta de) saúde mental. Já li outros parecidos, mas esse aqui me chamou atenção porque, no geral, é um livro com uma recepção crítica muito boa e é a publicação de estreia da autora. Ou seja, alguma coisa deve ter dado certo para um primeiro trabalho ser tão bem recebido.
Então, alguns tópicos que eu queria destacar sobre a minha experiência com essa leitura são:
1 - A protagonista.
À primeira vista, Eleanor talvez não seja uma personagem tão cativante; possui vários preconceitos, pode ser considerada um tanto antiquada e não tem filtros. Mas ela é tão bem escrita (aliás, o livro como um todo é) que você sente vontade de acompanhar sua história e descobrir seu passado e futuro.
Consegui me identificar com muitas atitudes e pensamentos da Eleanor, apesar de tudo. E gostei de ver ela tentando coisas novas e saindo da zona de conforto porque adoro jornadas de autoconhecimento. A amizade dela com o Raymond, os novos conhecidos e a ausência de habilidades sociais dela criam vários momentos cômicos, embora o livro não seja nada leve, o que me leva ao próximo tópico que é?
2 - A temática.
A carga emocional aqui é bem pesada e se intensifica muito rápido na última metade do livro. Me surpreendi com a mudança súbita no tom da história. Não que estivesse tão leve antes, mas ficou tudo mais gráfico e real. Deixou de ser "só" sobre a solidão e passou a ser sobre todo o resto (que também era ruim). Foi muito desconfortável de ler. Tive a impressão de que a autora juntou um monte de desgraça e jogou tudo de uma vez na personagem sem se preocupar em como iria resolver. Não gostei.
3 - Escolhas da autora.
Não gostei de muitas dessas escolhas.
Primeiro que a Eleanor era vista por todo mundo, principalmente pelo pessoal do trabalho, como louca. A própria personagem internalizou bastante essa própria visão. E aí, de repente, é só mudar o corte de cabelo, comprar roupas e sapatos novos que fica tudo bem. Ela passa a ser aceita. Isso me lembrou o clichê nerd-que-passa-a-ser-popular-depois-de-mudar-o-visual. Detestei.
Além disso, o livro já era lento e ficou ainda mais depois que a autora decidiu deixar mais pesado. A reta final foi arrastada demais. Fiquei com medo da autora errar mais uma vez ao desenvolver um romance desnecessário (porque ela deu pistas de que planejava seguir esse caminho), porém ela focou só na amizade mesmo, ainda bem.
Enfim, muitos trechos me marcaram, mas uma leitura precisa ir além disso, né?
Acho que foi um livro bom, nem mais nem menos.