Esdras 06/01/2018Estamos todos à mercê do tempo. Não estamos?Tom Hazard é portador de uma condição genética rara, denominada “anageria”.
Essa espécie de “dom” faz com que ele envelheça de maneira muito(MUITO) mais lenta que um ser humano normal.
Ele participa de uma sociedade secreta (os Albatrozes), que tem como missão localizar todos os outros portadores do ‘anageria’ para ajudar a mantê-los ‘disfarçados’ para os olhos da sociedade no geral e ainda mais dos que tem interesse especial em estudar tal condição. É perigoso.
Coisa louca, né?
Tom já vive há séculos.
Mas isso, para ele, não é lá muita vantagem.
Isso se tornou seu maior pesadelo.
Impõe-se como regra “não se apaixonar”. Isso facilitará as coisas, eles dizem. Não se apegar a ninguém. Seguir sozinho.
E aí é que está o grande problema de Tom: a solidão.
“...-E quando eu não senti mais nada, quase tive saudade da dor; com dor, ao menos se sabe que se está vivo.”
A história começa e é fácil captar o fardo que Tom carrega. Um grande vazio. Fica explicito nas palavras dele, no seu dia a dia.
A tristeza que o Tom tem que disfarçar diariamente.
A saudade de outros tempos. De outras pessoas.
“ – Há uma escuridão que circunda tudo. É um êxtase horroroso.”
A narrativa alterna entre presente e passado.
No presente, Tom segue em seu disfarce e o seu maior objetivo é encontrar sua filha Marion.
No passado, conhecemos toda a trajetória dele.
Todos os nomes que ele usou. As pessoas que ele perdeu. A mulher com quem se envolveu e que teve que deixar para trás em algum momento.
E uma das coisas mais legais da história é exatamente essas voltas ao passado porque em muitas delas o autor cria uma interação entre Tom e muitos “famosos” da literatura, da arte e etc(como por exemplo Shakespeare). Recita momentos históricos. Ficou muito legal isso.
Mas sabe quando você gosta muito da forma que o autor escreve mas nem tanto da história em si?
Acho que foi esse o caso.
Matt Haig criou uma premissa super interessante. Um personagem principal que simpatizei muito.
Escreve de forma bem humana e bastante sentimental. Delicado. O texto é reflexivo. Nos faz pensar em como aproveitar melhor nosso tempo. Valorizar pessoas e momentos. Ponderar nossa existência. Aprender com os próprios erros.
Mas o desenrolar da história não me agradou muito.
Apesar de o ‘passado’ ser muito interessante, essa alternância de tempos bagunça a história. O foco no presente ajudaria bastante no desenvolvimento.
(É difícil imaginar o Tom com “a mesma cara”, em séculos diferentes e não achar que tá tudo num tempo só.
Não sei se estou sendo claro nessa parte.rs.)
A sociedade Albatroz é intrigante, mas é pouco desenvolvida. Gostaria de saber mais. E quando tudo se encaminhava para encontrar-um-amor-para-o-Tom eu fiquei chateado!rs. E – me desculpem!- mas eu gostava do Tom solitário.
Era esse Tom que eu queria acompanhar até o fim.
Bom, tudo termina de um jeito reconfortante, até.
Não tem como ser muito conclusivo/definitivo.
Eu gostei do livro. Foi um bom drama. Mas acho que faltou algo. Ou várias coisas. RS.
Quero insistir no autor porque gostei da escrita e quero revê-lo numa história mais consistente.