de Paula 09/01/2021
Tudo passa, lembranças jamais serão esquecidas
E se tudo o que você mais confia na vida falhar com você? No caso de Fergus é a memória, para Sabrina é não conhecer o próprio pai. Esse é um livro de amor, mas o fraternal, mesmo com algumas histórias de amor romântico de pano de fundo, a família é o que de fato importa.
Cada capítulo é contado por um dos personagens principais, ora a Sabrina, salva-vidas de 33 anos, casada com seu romance de juventude, com três filhos meninos, trabalhando há algum tempo em uma casa de repouso para idosos, cuidando para evitar acidentes aquáticos. Seu pai, Fergus Bogg é um senhor que está em recuperação após um derrame e não se lembra de muitos momentos da sua vida, porém, há uma versão sua que conta a sua trajetória de vida, na infância, adolescência e vida adulta. O que embala a história da Sabrina é a busca implacável pelas bolas de gude que faltam na coleção catalogada do seu pai, que até aquela manhã ela não sabia que existia. Fergus possui um fio condutor entre o amor pelo irmão mais velho, um laço eterno, como sua paixão pelas bolinhas de gude que o vieram salvar no momento em que mais precisava e passou a ser seu porto seguro.
A história fala sobre segredos, sobre o que escondemos, como algo pode ser importante para você e não o ser para quem você mais ama, é sobre se reencontrar no meio do caminho, é sobre se esforçar, se dedicar, sobre amar mesmo com todos os erros, sobre quando pecados são cometidos e nem você se perdoa por eles, é quando você sente que ninguém te vê, quando você simplesmente não faz parte da vida de alguém porque a pessoa fragmentou a própria existência, mesmo assim, amar incondicionalmente porque ninguém é perfeito.
O livro não é como os outros da autora, é muito mais reflexivo. Uma jornada de um dia de eclipse solar que é capaz de mudar tudo, de curar, de trazer memórias de volta ao consciente, sobre perdão. A imersão é profunda na alma humana, discutindo assuntos do cotidiano, talvez como mudamos com quem amamos porque não somos compreendidos pelo que somos. Pode parecer absurdo, mas o homem escondeu mais de 40 anos parte da sua vida para a família e para os amigos por gostar de bolas de gude. Se parar para analisar friamente, uma grande bobagem, mas algumas coisas podem mexer demais e uma atitude "inconveniente" pode ser fatal.
A mensagem é muito bonita, o processo é caótico, os laços são inquebráveis, mesmo quando promessas possam ser ignoradas. O peso de um segredo pode destruir vidas, mas também pode sarar.