Gabriel.Maia 22/06/2022
Cornwell é quase um deus
As batalhas eram muito comuns na idade média, sejam elas por poder, ego, mulheres ou, como era mais comum, por terras. O livro retrata o início das invasões dinamarquesas à Inglaterra, e nos conta a história de Alfredo, o Grande, que hoje conhecemos como o responsável pela unificação da Inglaterra em um só reinado.
O último reino é o primeiro livro de 13 das crônicas saxônicas, escrito pelo mestre da ficção histórica Bernard Cornwell, e é contado através das palavras de Uhtred, filho de um nobre da Nortúmbria que foi sequestrado pelos dinamarqueses após um desses ataques às terras inglesas.
Uhtred foi levado pelos nórdicos quando tinha 10 anos após ver seu pai sendo morto em um ataque viking e tentar furiosamente atacar um dos líderes do exército dinamarquês, Ragnar, que acha aquele um gesto corajoso vindo de um garoto e acaba se afeiçoando a Uhtred. Uhtred não sente muito a morte de seu pai, alegando que nunca gostou muito dele por ser tão distante e duro com o filho mais novo, porém sabe que é o Ealdorman de Bebbanburg, o reino de seu pai, e tem planos de recuperar essas terras futuramente. Ragnar o adota como sendo um filho e ele imerge nos costumes nórdicos, passando a crer nos mesmos deuses que eles e começa a repudiar ainda mais o cristianismo pregado na sua terra natal. Uhtred irá aprender a lutar com os vikings e acabará tomando gosto pelas mortes e pela adrenalina nos campos de batalha, e passa a sonhar em participar de sua primeira parede de escudos, alegando que um garoto só vira homem após participar de sua primeira parede. Uhtred passa o livro inteiro dividido entre sua nacionalidade inglesa e seu coração dinamarquês, mas as fiandeiras do destino já tem uma história inteira preparada para o jovem.
A história é narrada pelo próprio Uhtred mais velho, e por isso ele nos dá vários insights sobre o que acontecerá em seguida, o que nos deixa ainda mais ansiosos para continuar lendo e descobrir como ele chegou naquele ponto. A narrativa é muito bem construída, com todas as marcas das histórias de Cornwell: personagens reais bem retratados, batalhas vívidas, ótima representação cultural da época e muuito sangue jorrando. O autor é um mestre em representar as batalhas medievais, mas vai muito além disso: Cornwell replica muito bem todas as intrigas e conspirações que são inevitáveis dentro de um reinado dessa época, e transforma essas disputas de ego e poder em cenas muito visíveis na nossa mente.
Eu já queria ler esse livro há algum tempo mas a quantidade de volumes na saga acabava me desanimando um pouco. Decidi dar uma chance e não poderia ter sido melhor! Esse livro é um júbilo para quem é fã de história e gosta do período medieval, pois acredito que não haja ninguém melhor que Cornwell para representar essa era tão obscura da nossa história, e essa é considerada por muitos como a obra mestra do autor, então não tinha como ser ruim.
Os personagens principais são bem cativantes, apesar de alguns serem meio genéricos como o próprio Uhtred, que representa muito bem o famoso estereótipo de viking machão adorador de batalhas e debochado, mas não é nada que atrapalhe ou que deixe a história chata, pelo menos não nesse primeiro volume.