Nina 08/01/2018Dias de Despedida foi minha última leitura de 2017 e eu não poderia fechar o ano de maneira mais sensível e emocionante. O livro é leve, mas ao mesmo tempo tocante, quase dolorido, e a gente termina dando graças pela vida daqueles que amamos.
Carver Briggs vai começar seu último ano na Academia de Artes de Nashville, uma escola que ele ama não somente pelas das aulas, mas também pela companhia constante de seus três melhores amigos: Mars, Eli e Blake. Juntos eles formam a Trupe do Molho e passam o tempo rindo, fazendo piada de tudo e tomando milk-shake de banana com amendoim no parque. Em uma tarde das férias de verão, os três amigos iam buscar Carver no trabalho mas morrem em um grave acidente de carro no caminho, logo depois de receberem uma mensagem de texto dele perguntado onde estão. O que já é um pesadelo para o garoto, piora ao encontrarem o celular de Mars, que estava dirigindo, com uma mensagem digitada pela metade em resposta à de Carver. Agora, as famílias de Mars e Eli o culpam pelo acidente e querem que o menino responda criminalmente por ele.
Com o começo do ano letivo, ele precisa voltar sozinho para a escola e lidar com o luto, o saudade e culpa, além do medo de ir parar na prisão e tudo isso faz com que ele comece a ter repetidos ataques de pânico. Mas ele pode contar com o apoio de sua família, especialmente de sua irmã Georgia; da avó de Blake, a vovó Betsy; de seu terapeuta Dr. Mendes; e Jesmyn, a namorada de Eli e agora sua única amiga na escola.
Há vida por toda parte. Pulsando, zunindo. Uma grande roda que gira. Uma luz se apaga aqui, outra a substitui ali. Sempre morrendo. Sempre vivendo. Sobrevivemos até não sobrevivermos mais.
Todos esses fins e começos são a única coisa realmente infinita.
E como se tudo isso já não fosse difícil o suficiente, vovó Betsy quer fazer um Dia de Despedida para Blake, um dia em que Carver a acompanharia em todas as atividades que ela gostava de fazer com o neto, dando-lhe e oportunidade de se despedir. O problema é que as família de Eli e Mars também querem o seu Dia de Despedida e Carver não sabe quais são as suas reais intenções ou se conseguirá encarar todas essas emoções.
Enfrentar o luto é muito difícil, e com certeza é bem pior quando se tem apenas 17 anos. A idade em que você deveria estar construindo memórias para levar pelo resto da vida não é o momento de se enterrar melhores amigos. Agora imaginem ter de enfrentar junto com o luto a culpa por se sentir responsável pelas mortes, o medo de ir parar na cadeia por isso e, pior, o receio de estar se apaixonando pela namorada do melhor amigo morto. Com certeza é uma carga muito pesada para Carver, mesmo se ele já tivesse 70 anos!
Isso faz parecer que o livro é uma leitura pesada e difícil, mas garanto que esse não é o caso. Jeff Zentner tem uma narrativa leve mesmo falando de temas pesados e isso contribui para que a leitura seja bem amena. Além disso, a história é recheada de flashbacks com as lembranças de Carver com os amigos e isso garante várias risadas.
“Na maioria das vezes, a gente não guarda as pessoas que ama no coração porque elas nos salvaram de um afogamento ou nos tiraram de uma casa em chamas. Quase sempre, nós as guardamos no coração porque, em um milhão de formas serenas e perfeitas, elas nos salvaram da solidão.”
Outro ponto muito positivo do livro são as reflexões que ele traz, sobre a importância da amizade, a valorização dos momentos que temos ao lado de quem amamos e se realmente conhecemos as pessoas que nos cercam. Sem contar o alerta que ele traz sobre o uso do celular enquanto se dirige. Eu achei um exagero sem fim quando o pai de Mars quis colocar Carver na cadeia, afinal foi Mars quem assumiu o risco ao responder a mensagem enquanto dirigia. Mas foi muito importante que isso acontecesse para que cada um tenha sua parcela de responsabilidade bem clara. Por outro lado, quem já perdeu uma pessoa que ama de maneira trágica sabe que a nossa tendência é sempre buscar um culpado, nem que seja um garoto de 17 anos.
Na verdade, eu fui muito surpreendida por esse livro, eu não esperava que ele se tornasse um relato tão sensível sobre luto, culpa e superação. Acima de tudo, é uma lição sobre a importância de se valorizar quem está ao nosso lado. Recomendo ler com a caixa de lenços a postos!
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