Livros da Julie 20/12/2021Batalhas, escravidão, incertezas - a dura vida no século IX-----
"o derramamento de sangue era mau parceiro do comércio."
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"Não matarás (...) Era um mandamento cristão e quase tão inútil, eu achava, quanto ordenar que o sol andasse para trás."
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"Os deuses gostam é do caos."
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"nosso destino foi nascer num tempo em que a violência nos governava."
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"quando a gente destrói os sonhos dos homens (...) engendra uma loucura (...) a loucura da esperança, a crença de que um rei, nascido no sonho de um religioso, acabaria com o sofrimento do povo."
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"Na loucura está a mudança, na mudança está a oportunidade."
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"o deus cristão não tem nada de melhor a fazer do que criar regras para nós. (...) Parece-me um deus muito rabugento, esse, ainda que seus padres vivam afirmando que ele nos ama."
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"É um legislador. Adora leis. Acha que se inventar leis suficientes vai criar um céu na terra."
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"Todos temos medo. Ele se arrasta por dentro da gente como um animal, (...) e quer que a gente se encolha e chore, mas o medo deve ser empurrado para longe e a habilidade deve ser liberada."
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A estupidez dos homens não tem fim."
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"que chance tem a verdade quando os padres contam histórias?"
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"A raiva nos mantém vivos, mas por pouco."
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"Lobo não come lobo e o falcão não ataca outro falcão"
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"Se um homem não consegue lembrar as leis, é porque tem leis demais."
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"a honra nos amarra em caminhos que poderíamos não escolher."
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"As notícias (...) são uma mercadoria (...) São compradas e vendidas."
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"tem a mente fatal de um homem que sempre pensa o melhor das outras pessoas."
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"colocar o gato num estábulo não o transforma num cavalo"
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"sem aprendizado um reino é uma mera casca de barbarismo ignorante. A espada é o instrumento para defendermos o aprendizado e protegermos o reino terrestre de Deus"
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"Se eu violasse um juramento, não poderia esperar que os homens mantivessem juramentos a mim."
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"o destino não pode ser enganado, ele nos governa, e todos somos seus escravos."
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Os senhores do norte é o terceiro livro da série Crônicas Saxônicas, lido com as @mafaguifinhos e @nleituras.
Depois da última vitória dos saxões em batalha, Wessex finalmente estava livre dos vikings. Livre do juramento feito para o Rei Alfredo, Uhtred aproveita a oportunidade para partir rumo ao norte. Mas antes de conseguir ocupar seu lugar de direito em Bebbanburg, precisará passar por Dunholm e lidar com Kjartan, o homem que matou Ragnar e mantém a filha dele cativa.
Os homens podem até tentar definir os rumos da própria vida, mas as fiandeiras gargalham e tecem o destino da forma que querem. Uhtred é desviado de seu objetivo várias vezes. Ele se vê em meio a uma disputa pelo poder na Nortúmbria e é traído por quem menos esperava. Entregue a mercadores como escravo, Uhtred dependerá justamente daquele com quem possui uma eterna relação de ódio e admiração.
Já no início do livro nos perguntamos se neste volume veremos mais do mesmo: os arroubos de Uhtred, suas grandes ideias, a antipatia por Alfredo, batalhas e mortes. Porém o protagonista é tão cativante que é impossível não continuar acompanhando sua jornada com disposição.
Depois dos acontecimentos no sudoeste da Inglaterra, passamos agora a conhecer mais sobre o norte do país e a fragilidade de uma região constantemente disputada por saxões e escoceses e atacada por irlandeses e dinamarqueses. Ciente dessa conjuntura, Alfredo muda sua estratégia. Ele percebe que é possível manter a Inglaterra unida por meio da catequização e da aliança política. Não é preciso expulsar os vikings, basta que eles se convertam ou se tornem aliados e se comprometam a proteger a Igreja e o clero. Até porque, passados bons anos da invasão, eles já se sentem parte da ilha. Os costumes e as línguas (que já eram parecidas) dos dois povos vão se aproximando. Além disso, já haviam nascido muitos filhos de pais dinamarqueses e mulheres saxãs, o que contribuiu para a integração.
Ao tratar das difíceis, por vezes impopulares, decisões de Alfredo, Bernard nos lembra da grande responsabilidade de um rei, principalmente quando chefe de governo. As pessoas comuns só enxergam o glamour, a pompa e a riqueza e se esquecem dos constantes deveres e das ações necessárias tomadas por um monarca para defender o território e seu povo.
Parte desse trabalho era relacionado às finanças. O capitalismo como sistema pode ser recente, mas o lucro advindo do comércio já existia. O excedente bancava as despesas de uma casa e o pagamento aos senhores por proteção. Os impostos garantiam essa proteção, com a manutenção de exércitos e a construção de estradas e muralhas. A lógica permanece atual.
Infelizmente, boa parte da população estava excluída desse sistema, pois era escrava. A escravidão é um mal que assolou a humanidade desde muito e atingiu todos os povos, sem exceção. Nativo ou estrangeiro, rico ou pobre, nobre ou plebeu, homem, mulher ou criança, a qualquer momento você poderia ser aprisionado e vendido como escravo. As mulheres, então, não tinham qualquer direito; consideradas meros objetos e utilizadas como moeda de troca, elas faziam parte do saque de uma cidade, como o ouro, a prata, os animais e a comida.
Para aliviar a difícil realidade da época, o autor não refreia as excelentes tiradas sarcásticas sobre a vida, a guerra e a religião, que, na época, eram uma coisa só. Há humor, crítica, tragédia e ação na medida certa. Além disso, a capacidade de Bernard colocar reviravoltas no enredo é interminável. Quando tudo parece caminhar bem, algo acontece e as coisas desandam. Mesmo os menores eventos alteram completamente o rumo dos personagens. Ou, na verdade, tudo acontece exatamente como deve acontecer, pois o destino é inexorável.
Assim, a história nunca é cansativa ou entediante. Há sempre batalhas, paredes de escudos, cercos, fortalezas a serem tomadas ou defendidas. Não se pode dizer que um guerreiro (ou mesmo um padre) levasse uma vida monótona naqueles idos do século IX. Nos castelos, nos campos ou nas colinas, sempre haveria um grupo de homens lutando por suas terras, suas riquezas, seu país e seu Deus. A paz, como a vida, não é definitiva e, por isso, a história continua, em outros livros.
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