Brenda @caminhanteliterario 11/03/2023Eu tinha muita expectativa nesse livro e elas foram supridas mas de uma forma que eu não esperava. O primeiro contato foi ruim, é aquele típico livro de fantasia que te joga num mundo cheio de novos termos e lugares e não faz muita questão de explicar. Só me encontrei quando descobri um glossário no final. Além disso, em um livro de fantasia esperasse um ritmo eletrizante, e essa é uma história mais lenta e de construção de personagem. A partir do momento que entendi isso e me ambientei foi só perfeição.
Primeiro que a construção do universo e dos “poderes” é muito interessante, toda essa ambientação de fim do mundo, e com poderes que controlam a terra é feita de uma forma mais pé no chão, sem ter aquele ar de fantasia épica ou x-men, como uma história pós apocalípitica mesmo. Acrescentasse a isso as relações políticas, socias e humanas que dão um show a parte.
O modo como a sociedade lida com a orogenia traz diversas analogias e discussões muito profundas sobre medo do desconhecido e portanto a busca pela sua dominação. è possível fazer inúmeras equivalências a nossa sociedade, quanto ao racismo, a descriminação e principalmente a escravidão. Frases como “Que não somos humanos é apenas a mentira que eles dizem a si mesmos para que não precisem se sentir mal sobre como nos tratam.” é a justificativa pra muita coisa nos dias de hoje, pra quem merece respeito e quem não. Jija matar o próprio filho é a representação cruel de que certas ideologias fanáticas conseguem se colocar acima das próprias relações, da própria família. Nesse momento Essun se transforma naquilo que fizeram dela, e quando ela o faz, a acusam de sempre ter sido isso, uma ameaça.
Outra coisa interessante é o fulcro em si, é uma instituição criada pra se auto regular, assim como eram os capitães do mato negros, aquela falsa sensação de liberdade, de autonomia, mas que pra isso exige a reprodução das mesma práticas de seus dominadores para com outros iguais a si. As Estações de Ligação e o fato de serem obrigados a se reproduzir como uma animais é a perfeita ideia de desumanização, foi bem chocante de ler.
No entanto, a lavagem cerebral é tão forte que fazem os orogenes acreditarem que eles precisam daquilo, que na verdade estão sendo salvos de algum defeito de nasceça, quando de fato são usados como instrumentos. Isso fica evidente na relação de Schaffa e Damaya, ele a faz acreditar q toda aquela violência é sinônimo de amor.
Por outro lado a relação de Syenite e Alabaster segue o caminho contrário, iniciam se odiando, mas com o tempo percebem o quanto tem em comum, que fazem parte da mesma luta, se tornando 🤬 #$%!& mplices. Na realidade o que mais causa desconforto em Syenite é o quando ALabaster põe os pés dela na realidade.
Vale ressaltar a importância da representatividade que a autora coloca na história, já que a maioria dos personagem são negros, e o poliamor ente Syenite, Alabaste e Innon foi feita de forma tão natural que é impossível não gostar.
Contudo, de longe o que mais gosto desse livro (e de qualquer livro) é a forma como ela entrega as informações aos poucos e vai juntando o quebra cabeça pra explodir sua cabeça no final. Muitas das conexões eu descobri antes da revelação e me senti uma gênia. Eu matei que Syenite, Damaya e Essun eram a mesma bem antes. Também descobri o rolê com a lua pelo interlúdio e assim que a comedora de pedra leva alabaster percebi que era ele no início do livro. Por outro lado nunca imaginei que Tonkee era Binof, nem que Hoa era um comedor de pedra, apesar dessa última estar bem na cara.
E a partir daí muitas questões ficam pro próximo volume.
Qual a relação de Antimony e Alabaster e porque ele tá virando pedra?
O que Hoa quer com Essu? E o que são os comedores de pedra?
O que são os obeliscos e pq o fulcro foi construído em cima dos seus moldes?
O que foi aquilo que deu na guardião que pegou damaya e deu uma pirada?
Ansiosíssima pelas respostas.